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‘Azarão’ quebra domínio de três décadas e vence em El Salvador

O ex-prefeito de San Salvador, com visual jovem e discurso anticorrupção, vence eleição presidencial no primeiro turno

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O candidato, de 37 anos, venceu neste domingo (03/02), no primeiro turno, a eleição presidencial de El Salvador ao obter mais de 53% dos votos, com 87,6% das urnas apuradas, afirmou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em segundo lugar ficou Carlos Calleja, de 42 anos, um milionário empresário de supermercados, que concorreu pela Aliança Republicana Nacionalista (Arena), de direita, e obteve 31,62%.

O candidato do governo, Hugo Martínez, do partido de esquerda Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), ficou relegado ao terceiro lugar, com 13,77%.

Apesar de os resultados serem parciais, a tendência é irreversível, afirmou o TSE. Calleja e Martínez já assumiram a derrota para Bukele, que vai se tornar o sexto presidente do país centro-americano desde 1992, quando terminou uma guerra civil de 12 anos. O mandato de cinco anos se inicia em 1º de junho.

Bukele é o primeiro presidente eleito de El Salvador que não pertence nem à Arena, partido que governou de 1989 a 2009, e nem à FMLN, no poder desde 2009. Ele conquistou os eleitores com seu visual jovem, que inclui barba, jeans e jaqueta de couro, e os ataques a políticos corruptos, que ele associou aos dois maiores partidos do país.

Durante a campanha, ele criticou, pelas redes sociais, os casos de corrupção vinculados à FMLN e à Arena, de olho nos eleitores desiludidos dessas agremiações. Analistas afirmaram que a candidatura de Bukele foi favorecida pela saturação dos salvadorenhos com os partidos tradicionais.

Combate à corrupção e à violência que assola o país e a criação de empregos são os principais desafios do futuro presidente de El Salvador, um país de apenas 6,5 milhões de habitantes onde um terço das famílias vive na pobreza.

Muitos salvadorenhos em busca de uma vida melhor se uniram às caravanas de migrantes que se deslocam para os Estados Unidos.

De acordo com as autoridades, a votação transcorreu sem terem sido registrados casos de violência. A segurança no escrutínio foi assegurada por 23 mil policiais e cerca de 15 mil soldados, mobilizados durante o fim da semana.

Guinada na carreira política

Bukele alcançou seu objetivo de chegar ao governo de El Salvador com o pequeno partido de direita Grande Aliança pela Unidade Nacional (Gana), depois de dedicar seis anos de sua vida à política local como prefeito pela FMLN, de esquerda.

Politicamente ambicioso, Bukele acabou expulso da FMLN, mas sua insistência na candidatura fez com que conseguisse espaço na Gana, um partido de orientação totalmente oposta à da FMLN. Por esta, ele havia sido prefeito do pequeno município de Nuevo Cuscatlán (2012-2015) e, depois, de San Salvador (2015-2018).

As divergências de Bukele com a cúpula do partido da ex-guerrilha salvadorenha levaram a sua expulsão em 2017, ano em que fundou o movimento Novas Ideias, que tentou se legalizar como partido político, mas que não cumpria as exigências da lei eleitoral.

Em seguida, tentou lançar-se candidato pelo Centro Democrático (CD), mas o partido teve o registro cancelado por não alcançar o mínimo de 50 mil votos válidos nas eleições legislativas de 2018.

Na última hora, o agora presidente eleito optou pela única possibilidade que lhe restava: concorrer pela Gana. Assim, Bukele, um empresário do setor da publicidade que se define como sendo de esquerda e que em 2016 assegurara que não tentaria chegar à presidência com os partidos de direita, competiu justamente por um partido de direita, que surgiu de uma divisão da Arena.

Entre os fundadores da Gana estão o ex-presidente Elías Saca (2004-2009), preso por corrupção, e o agora deputado e segundo vice-presidente da Assembleia Legislativa, Guillermo Gallegos, que é contra o aborto e defende a pena de morte e o paramilitarismo para combater o crime.

Em 2018 registraram-se 3.340 mortes violentas (51 por 100 mil habitantes) em El Salvador, o que faz do país um dos mais violentos do mundo fora das regiões de guerra, apesar de uma redução em 15% dos homicídios em relação a 2017.

Segundo as autoridades, a maioria dessas mortes é causada por bandos criminosos, que agrupam cerca de 70 mil membros, dos quais 17 mil estão detidos.

Bukele, que nasceu em El Salvador em 24 de julho de 1981, começou na política como prefeito da pequena Nuevo Cuscatlán. Sua gestão passou despercebida e ele não tentou a reeleição, já que a FMLN o lançou para o governo de San Salvador.

Ele venceu a eleição municipal de 2015 ao lado do Partido Salvadorenho Progressista (PSP). Bukele e os dirigentes do FMLN sempre tiveram divergências, que acabaram levando à expulsão do político em outubro de 2017, por agressões verbais.

Antes da expulsão, ele já havia anunciado que iria concorrer à presidência. Depois do fracasso das primeiras tentativas, uniu-se à Gana em julho de 2018.

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