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Austrália terá referendo sobre direitos indígenas em 14 de outubro

Em caso de vitória, os indígenas australianos, cujos ancestrais habitam o continente há pelo menos 60.000 anos, serão reconhecidos na Constituição pela primeira vez na história

Austrália terá referendo sobre direitos indígenas em 14 de outubro
Austrália terá referendo sobre direitos indígenas em 14 de outubro
Foto: DAVID GRAY / AFP
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A Austrália realizará um referendo histórico sobre os direitos de sua minoria aborígene em 14 de outubro, anunciou o primeiro-ministro Anthony Albanese nesta quarta-feira (30).

“Neste dia, cada australiano terá uma oportunidade única em sua geração de unir nosso país” disse Albanese ao anunciar a data dessa votação vinculante.

“Peço a todos os australianos que votem ‘Sim'”, afirmou o primeiro-ministro.

Em caso de vitória do “Sim”, os indígenas australianos, cujos ancestrais habitam o continente há pelo menos 60.000 anos, serão reconhecidos na Constituição pela primeira vez na história.

Eles também ganharão o direito constitucional de serem consultados sobre leis que afetem sua comunidade por meio da chamada “Voz do Parlamento”, uma figura de representação diante dos poderes Executivo e Legislativo.

“Permitirá ao nosso povo ter uma cadeira à mesa”, declarou a acadêmica indígena e jurista de direito constitucional Megan Davis.

Com o “Sim” atrás nas pesquisas, aumenta o receio de que uma recusa da população prejudique as relações intercomunitárias, afete a reputação global do país e desperdice a oportunidade de reduzir a desigualdade enfrentada pelos indígenas.

“Votar ‘Não’ não leva a nenhum lugar, significa que nada muda. Votar ‘Não’ fecha a porta para esta oportunidade de avançar”, disse Albanese.

“Não fechem a porta para a próxima geração de indígenas australianos”, insistiu.

O governo trabalhista de Albanese defende que os aborígenes mantêm viva a chama da cultura mais antiga do mundo ainda existente.

Porém, mais de dois séculos após a chegada dos colonos britânicos na atual baía de Sydney, os herdeiros dos povos originários têm uma probabilidade muito maior de morrer jovens, viver na pobreza ou acabar na prisão que a média da população australiana.

“Sim” perde apoio

O projeto de criar a representação aborígene, “The Voice”, está longe de gerar unanimidade.

O líder da oposição conservadora, Peter Dutton, lidera a campanha do “Não” alegando que é o “melhor para o país” e que o projeto criaria muita burocracia.

A senadora aborígene de seu partido Jacinta Nampijinpa Price declarou que este é “o referendo mais divisivo” na história do país.

“Não permitiremos que o primeiro-ministro e este referendo dividam nosso país com base na raça dentro da nossa Constituição”, afirmou após o anúncio da data.

Do outro lado, a ativista Georgia Corrie, que faz campanha pelo “Sim” no Território do Norte, região com maior proporção de população aborígene, se mostra otimista.

“O sentimento aqui é ótimo, há muito apoio ao referendo”, declarou à AFP.

As primeiras pesquisas apontavam um amplo apoio à proposta, mas a aprovação registrou queda nos últimos meses, disse à AFP o analista William Bowe.

O especialista em pesquisas afirmou que a participação de vários indígenas na campanha do “Não” conseguiu “convencer muitos australianos que não é racista ser contrário ao projeto”.

Para ser aprovado, o “Sim” precisa vencer na maioria dos oito estados e territórios australianos.

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