Os Estados Unidos caminham para quase 3,5 milhões de pessoas contaminadas, de acordo com números divulgados na segunda-feira 13. Pelo menos 40 dos 50 estados do país registraram uma recrudescência nos contágios e mais de 60 mil novos casos foram detectados em 24 horas. Diante dessa situação, as autoridades de algumas cidades e até de estados inteiros, como a Califórnia, decidiram retomar as medidas de confinamento da população.
“Os Estados Unidos assistem claramente a uma segunda onda de contaminações”, alerta Anne-Laure Beaussier, socióloga e autora do livro “La Santé aux Etats-Unis : une histoire politique” (“A saúde nos Estados Unidos : uma história política”, em tradução livre). Segundo a especialista, “há uma correlação entre uma abertura precoce da economia e uma segunda onda, principalmente em estados republicanos, como Texas e Flórida, mas também do sul, como Alabama e Mississipi e Tennessee, onde houve uma mensagem contraditória por parte da Casa Branca sobre o uso de máscaras e o distanciamento físico, que impediram uma gestão dessa epidemia”, analisa.
O médico e professor de medicina, Frederick Southwick, que atua na Flórida, compartilha a opinião da socióloga francesa. Segundo ele, “se temos tantos casos na Flórida é simplesmente porque o governo decidiu retomar as atividades nesse estado no início do mês de junho”.
Ambos chamam a atenção para um discurso discordante entre a Casa Branca e algumas regiões, graças a uma sistema de descentralização que “mostra a desigualdade entre alguns estados”, como ressalta Anne-Laure Beaussier.
E essa falta de uma mensagem única provoca ruídos de comunicação. “Ninguém teve informações sobre o uso de máscaras ou o respeito do distanciamento físico. As autoridades consideraram que todos conheciam os gestos a serem adotados para limitar a epidemia”, explica Frederick Southwick. “Mas infelizmente essa falha foi muito grave, já que muitos cidadãos na Flórida pensaram que a epidemia tinha terminado”, diz o médico, lembrando as multidões reunidas em 31 de maio, quando é comemorado no Memorial Day. “A partir daí, o vírus circulou rapidamente”.
Pressão política para retomada da economia
No entanto, como frisa a socióloga, “há uma pressão importante para o fim da quarentena nos Estados Unidos e essa pressão vem também da própria população, já que o país não tem nenhum dispositivo público (para manter o pagamento dos salários durante o confinamento), como na Europa. Eles precisam trabalhar e precisam que a economia volte a funcionar. Então há também uma pressão eleitoral sobre os dirigentes políticos, dos dois partidos, que torna a gestão dessa pandemia difícil”.
Segundo ela, “os interesses políticos estão no mesmo nível que os interesses sanitários, o que distorce as mensagens e participa da explosão de casos que assistimos atualmente”.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login