Mundo
Ator Alec Baldwin enfrenta julgamento por homicídio involuntário durante filmagem
O ator americano de 66 anos pode pegar até 18 meses de prisão pelos acontecimentos de outubro de 2021


O artista estava segurando uma arma que supostamente continha apenas balas de festim, mas que disparou um projétil real, matando Halyna Hutchins, a diretora de fotografia do filme, e ferindo o diretor, Joel Souza.
O confronto entre a acusação e a defesa promete ser acirrado, pois o julgamento baseia-se em uma investigação marcada por muitas falhas e reviravoltas. Baldwin sempre afirmou que foi garantido a ele que a arma era inofensiva e nega ter apertado o gatilho. Seus advogados tentaram diversas vezes cancelar as acusações, sem sucesso.
Por meses, a insistência da defesa gerou dúvidas entre os promotores. Primeiro, conseguiram a substituição do promotor, depois a desistência das acusações no ano passado, até que Baldwin foi novamente acusado em janeiro deste ano.
Para a defesa, Baldwin é uma estrela de Hollywood em torno da qual promotores tentam ganhar notoriedade, em um caso acompanhado pela mídia mundial. A investigação nunca determinou como munição real – supostamente proibida – foi parar no set. Os advogados do ator insistem que ele não é responsável pela verificação das armas ou da logística.
No entanto, a acusação planeja apresentar Baldwin como um ator difícil, cujo comportamento e desrespeito pelas regras básicas de segurança colocaram toda a equipe de filmagem em risco. “A pressão de Baldwin sobre a equipe no set comprometeu regularmente a segurança”, disseram os promotores em documentos judiciais, denunciando um ator que “gritava regularmente” com todos e queria terminar o filme rapidamente.
Expertise contestada
A acusação também acredita que o ator “mentiu descaradamente”, mudando sua versão dos fatos após o seu primeiro interrogatório. Eles consideram a hipótese de um disparo acidental, central na defesa, como “absurda”. Uma perícia do FBI concluiu que a arma não poderia ter disparado sem que o gatilho fosse apertado.
Mas a defesa contesta a perícia, pois a polícia federal danificou partes da arma ao realizar testes para explorar a possibilidade de um disparo acidental. Os advogados de Baldwin usaram esse argumento centralmente para tentar anular o julgamento.
Vestido de preto e com expressão séria, Baldwin apareceu com sua esposa Hilaria e um de seus sete filhos na terça-feira para a abertura do julgamento. De óculos quadrados, ele fez algumas anotações durante o dia dedicado à seleção dos jurados. O processo ilustrou a dificuldade de encontrar pessoas imparciais para julgar sua responsabilidade. Entre as dezenas de convocados, apenas alguns levantaram a mão quando a juíza perguntou quem não sabia absolutamente nada sobre o caso.
A morte de Halyna Hutchins, diretora de fotografia de 42 anos originária da Ucrânia, que participou de documentários investigativos, chocou profundamente a indústria cinematográfica. O julgamento da armeira de “Rust”, Hannah Gutierrez-Reed, que colocou a bala na réplica do revólver de época usado por Baldwin e foi condenada a 18 meses de prisão em abril, já foi amplamente seguido nos Estados Unidos.
O destino de Baldwin será igualmente observado de perto: sua condenação criaria um precedente histórico, capaz de desencorajar outros atores a usar armas reais durante as filmagens. As audiências devem durar até sexta-feira da próxima semana, antes da deliberação dos jurados.
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