Economia

‘Atitude sem nenhuma racionalidade’, diz Haddad sobre tarifaço de Trump contra o Brasil

Ministro considera que carta enviada ao governo Lula é resposta ao fato do Brasil buscar parcerias comerciais com outros países

‘Atitude sem nenhuma racionalidade’, diz Haddad sobre tarifaço de Trump contra o Brasil
‘Atitude sem nenhuma racionalidade’, diz Haddad sobre tarifaço de Trump contra o Brasil
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a decisão do presidente norte-americano Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros é uma resposta ‘sem racionalidade’ ao fato de que o Brasil busca parcerias com outros países do mundo.

O chefe da equipe econômica tratou do novo tarifaço do governo Trump e das consequências para o Brasil durante entrevista coletiva promovida pelo Centro de Mídia Independente Barão de Itararé nesta quinta-feira 10.

“O fato do Brasil ser um país multilateral, insistir no multilateralismo, não fazer um alinhamento automático, dogmático, ideológico, se abrir para o mundo, buscar parcerias, isso não pode servir de pretexto para uma atitude sem nenhuma racionalidade, sem equilíbrio nenhum”, disse Haddad em resposta a CartaCapital.

Situação geopolítica

O ministro disse que “o Brasil é grande demais para ser apêndice de um bloco econômico”. Ele ressaltou que os interesses comerciais com Europa, China e Estados Unidos são equivalentes. 

“Os EUA são o país que tem o maior aporte de capital no Brasil. O estoque de investimento americano no Brasil é muito relevante. As exportações do Brasil para a China e o superávit comercial com a China são muito relevantes para o Brasil. O acordo com a UE, ele, do ponto de vista econômico, tem uma dimensão, mas do ponto de vista geopolítico, ele é muito importante, para a gente evitar ‘rebipolarizar’ o mundo, que vai trazer prejuízos para todos nós. Nós temos complementaridade com a UE que pode ser explorada, inclusive, do ponto de vista de reindustrialização do país”, afirmou.

Trump vem promovendo uma verdadeira mudança de ordem nas regras comerciais do mundo, colocando em xeque as bases de um sistema comercial dominado, justamente, pelos Estados Unidos nas últimas décadas. Haddad avalia que o contexto atual, marcado pelo avanço da China, tem a ver com a derrocada de um modelo de globalização que tomou conta do mundo desde a queda do Muro de Berlim. Esse modelo, segundo ele, produziu desequilíbrios que são sentidos agora.

“O Brasil acredita numa globalização sustentável. A globalização neoliberal realmente não deu certo. Ela produziu enormes desequilíbrios. Isso muito em virtude daquilo que foi a receita do Norte Global. Foi o Norte Global que colocou a globalização neoliberal como máxima, como objetivo máximo do fim da História. O aconteceu foi que houve uma corrida, e nessa corrida a China levou a melhor. Nós vamos criticar a China por ter aproveitado as oportunidades que se apresentaram para se desenvolver, depois de cem anos de humilhação?”, questionou. 

Os paradoxos da direita

Ao confirmar que o Brasil estará sujeito a tarifas bem mais altas do que as que estava acostumado, Trump reconheceu que estava executando a medida não apenas com base em fundamentos econômicos. Ao usar as tarifas com instrumento de coerção política, o republicano resolveu retaliar o Brasil pelo fato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu apoiador, estar sendo processado por tentativa de golpe de Estado.

Acontece que nomes de peso da direita e da extrema-direita brasileira, como o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), se veem em uma situação contraditória. Abertamente apoiador do Trump, Tarcísio agora terá que lidar com o fato de que a decisão trumpista deverá representar um prejuízo direto aos produtores de São Paulo que exportam para os EUA.

“O governador errou muito”, disse Haddad. “Ou uma pessoa é candidata a presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para a vassalagem. Ajoelhar diante de uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico, sem nenhum argumento político”, disse o ministro, criticando a postura de Tarcísio, que tentou criticar o presidente Lula pela decisão da Casa Branca.

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