Mundo

Atentado altera os rumos do conflito na Síria, mas para onde?

Assassinato de integrantes do núcleo de poder de Assad deve ampliar a violência por parte do regime e dos opositores

Atentado altera os rumos do conflito na Síria, mas para onde?
Atentado altera os rumos do conflito na Síria, mas para onde?
Imagem da tevê estatal síria mostra soldados tomando posição para combater o que o governo Assad chama de "terroristas", no bairro Al-Midan, em Damasco, nesta quarta-feira. Foto: AFP
Apoie Siga-nos no

Pela primeira vez nos 16 meses de levante contra o ditador Bashar al-Assad, a cúpula do governo sírio se tornou alvo de um ataque direto da oposição. Na manhã desta quarta-feira 18, uma explosão na sede do quartel-general do departamento de Segurança Nacional, em Damasco, matou três importantes aliados do ditador e deixou pelo menos outros dois feridos. A decapitação de parte do círculo de Assad não deixa dúvidas de que os ataques entrarão para a história como um ponto de virada no conflito na Síria. Ainda é impossível dizer exatamente para qual rumo aponta esta virada, mas é certo que mais violência está no caminho sírio.

O golpe contra Assad foi duro. Morreram em Damasco Dawood Rajiha (o ministro da Defesa),  Assef Shawkat (o cunhado de Assad e líder da repressão) e Hassan Turkmani (ex-ministro da Defesa e estrategista militar). Outras figuras importantes, como o ministro do Interior, Mohammad al-Shaar, ficaram feridos. Para revidar o golpe, Assad responderá com mais violência. De imediato, a agência oficial de notícias da Síria anunciou uma campanha para “eliminar decisivamente as gangues criminosas e assassinas e tirá-las de seus esconderijos podres onde quer que sejam até limpar a terra natal de seus males”. O discurso duro de Assad, além de servir para tentar intimidar os rivais, serve também para reafirmar a confiança de seus aliados, dissipando qualquer impressão de que o regime, após este ataque, tenha se tornado uma barca furada.

É possível que, na ânsia de revidar o ataque desta quarta-feira, Assad incorra em crimes ainda mais graves que os já cometidos. Em Washington, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, apelou a Assad para que mantenha sob controle o grande arsenal de armas químicas que possui. Há denúncias crescentes de que Assad já estaria usando esses armamentos contra seus rivais. O ditador da Síria pode acelerar, também, o que alguns afirmam ser uma limpeza étnica na Síria.

No jornal britânico The Telegraph, o analista Michael Weiss traçou um panorama preocupante sobre essa possibilidade. Assad e sua família são alawitas, um secto minoritário do Islã, enquanto a maior parte dos opositores são sunitas. Todos os grandes massacres ocorridos durante o conflito se deram em cidades sunitas cercadas por populações alawitas. Assim, Assad estaria, segundo Weiss, criando um corredor alawita no oeste da Síria para onde poderia fugir caso perca o controle de Damasco para seus opositores. Seria um local seguro também para os cristãos e druzos, outras duas minorias que também dão suporte a Assad.

Os ataques a centros sunitas teriam, inclusive, prejudicado o apoio dos poucos sunitas que restavam ao lado de Assad. Nos últimos dias, o general Manaf Tlass, amigo de Assad, e o embaixador sírio no Iraque, Nawaf Fares, desertaram. Ambos são sunitas e teriam abandonado o ditador em represália à destruição provocada por forças do governo nas cidades de origem de suas famílias.

É razoável esperar, também, que a oposição, amplie a violência. O ataque à sede da Segurança Nacional enfraquece Assad e, ao mesmo tempo, amplia a confiança de seus rivais. A morte dos generais se deu depois de apenas três dias de ofensiva em Damasco e pode insuflar outras ações ousadas por parte de seus rivais.

Ao mesmo tempo em que fica óbvia a escalada da violência, a incapacidade da comunidade internacional é escancarada. Nesta quarta, haveria uma nova reunião no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o que fazer na Síria. A Rússia já havia adiantado que vetaria qualquer ação cujo objetivo fosse remover Assad do poder, intenção manifestada por Estados Unidos, França e Reino Unido.  Diante do atentado, a reunião foi adiada. Após 16 meses observando as mortes na Síria, a comunidade internacional não parece ter mais nada a fazer para estancar o conflito. Ele será resolvido pelos sírios, dentro da Síria, não importa quanto violência isto implique. Agora, o mais indicado para a comunidade internacional parece ser iniciar uma política de contenção de danos, dialogando com vários grupos sírios para evitar que o vencedor do confronto armado promova o massacre de seus rivais.

Pela primeira vez nos 16 meses de levante contra o ditador Bashar al-Assad, a cúpula do governo sírio se tornou alvo de um ataque direto da oposição. Na manhã desta quarta-feira 18, uma explosão na sede do quartel-general do departamento de Segurança Nacional, em Damasco, matou três importantes aliados do ditador e deixou pelo menos outros dois feridos. A decapitação de parte do círculo de Assad não deixa dúvidas de que os ataques entrarão para a história como um ponto de virada no conflito na Síria. Ainda é impossível dizer exatamente para qual rumo aponta esta virada, mas é certo que mais violência está no caminho sírio.

O golpe contra Assad foi duro. Morreram em Damasco Dawood Rajiha (o ministro da Defesa),  Assef Shawkat (o cunhado de Assad e líder da repressão) e Hassan Turkmani (ex-ministro da Defesa e estrategista militar). Outras figuras importantes, como o ministro do Interior, Mohammad al-Shaar, ficaram feridos. Para revidar o golpe, Assad responderá com mais violência. De imediato, a agência oficial de notícias da Síria anunciou uma campanha para “eliminar decisivamente as gangues criminosas e assassinas e tirá-las de seus esconderijos podres onde quer que sejam até limpar a terra natal de seus males”. O discurso duro de Assad, além de servir para tentar intimidar os rivais, serve também para reafirmar a confiança de seus aliados, dissipando qualquer impressão de que o regime, após este ataque, tenha se tornado uma barca furada.

É possível que, na ânsia de revidar o ataque desta quarta-feira, Assad incorra em crimes ainda mais graves que os já cometidos. Em Washington, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, apelou a Assad para que mantenha sob controle o grande arsenal de armas químicas que possui. Há denúncias crescentes de que Assad já estaria usando esses armamentos contra seus rivais. O ditador da Síria pode acelerar, também, o que alguns afirmam ser uma limpeza étnica na Síria.

No jornal britânico The Telegraph, o analista Michael Weiss traçou um panorama preocupante sobre essa possibilidade. Assad e sua família são alawitas, um secto minoritário do Islã, enquanto a maior parte dos opositores são sunitas. Todos os grandes massacres ocorridos durante o conflito se deram em cidades sunitas cercadas por populações alawitas. Assim, Assad estaria, segundo Weiss, criando um corredor alawita no oeste da Síria para onde poderia fugir caso perca o controle de Damasco para seus opositores. Seria um local seguro também para os cristãos e druzos, outras duas minorias que também dão suporte a Assad.

Os ataques a centros sunitas teriam, inclusive, prejudicado o apoio dos poucos sunitas que restavam ao lado de Assad. Nos últimos dias, o general Manaf Tlass, amigo de Assad, e o embaixador sírio no Iraque, Nawaf Fares, desertaram. Ambos são sunitas e teriam abandonado o ditador em represália à destruição provocada por forças do governo nas cidades de origem de suas famílias.

É razoável esperar, também, que a oposição, amplie a violência. O ataque à sede da Segurança Nacional enfraquece Assad e, ao mesmo tempo, amplia a confiança de seus rivais. A morte dos generais se deu depois de apenas três dias de ofensiva em Damasco e pode insuflar outras ações ousadas por parte de seus rivais.

Ao mesmo tempo em que fica óbvia a escalada da violência, a incapacidade da comunidade internacional é escancarada. Nesta quarta, haveria uma nova reunião no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o que fazer na Síria. A Rússia já havia adiantado que vetaria qualquer ação cujo objetivo fosse remover Assad do poder, intenção manifestada por Estados Unidos, França e Reino Unido.  Diante do atentado, a reunião foi adiada. Após 16 meses observando as mortes na Síria, a comunidade internacional não parece ter mais nada a fazer para estancar o conflito. Ele será resolvido pelos sírios, dentro da Síria, não importa quanto violência isto implique. Agora, o mais indicado para a comunidade internacional parece ser iniciar uma política de contenção de danos, dialogando com vários grupos sírios para evitar que o vencedor do confronto armado promova o massacre de seus rivais.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo