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Ataque contra a Charlie Hebdo reaviva fantasma de jihadismo na Europa

A França está particularmente exposta, já que participa dos ataques aéreos no Iraque contra o ISIS

Em Paris, manifestante exibe a capa do 'Charlie Hebdo' publicada em 2012, após a sede do jornal ser atacada com uma bomba incendiária
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Por Sara Hussein e Mohamad Ali Harissi

O ataque sangrento contra a revista francesa Charlie Hebdo confirmou o temor de que jihadistas poderiam atingir o coração da Europa e, em particular, um país em guerra contra os grupos extremistas do Oriente Médio e do Sahel.

Os assassinatos de chargistas cujos desenhos indignaram muitos muçulmanos servirão de propaganda aos movimentos jihadistas e facilitarão o recrutamento de novos combatentes, advertem especialistas ouvidos pela AFP. “Esse ataque foi cometido para provocar uma onda de choque no cenário internacional”, afirma Lina Khatib, diretora do Centro Carnegie para o Oriente Médio. “Sua execução espetacular quer demonstrar a influência dos movimentos jihadistas na Europa”, acrescenta.

O atentado, que não foi reivindicado e deixou 12 mortos, confirma o medo de atentados no Ocidente em meio à ascensão do grupo Estado Islâmico (ISIS) no Iraque e na Síria e ao lançamento de uma coalizão internacional com forte participação ocidental para combatê-lo.

Tendo essa guerra como pano de fundo, os serviços de inteligência ocidentais alertaram contra o risco dos jihadistas que voltam aos seus países de origem na Europa.

A França está particularmente exposta, já que participa dos ataques aéreos no Iraque contra o ISIS e mobilizou um dispositivo militar de grande porte em cinco países do Sahel contra diversos grupos islamitas. Nos últimos meses, tanto o ISIS quanto a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) convocaram em várias ocasiões seus partidários a atacar a França.

A revista da AQPA, Inspire, encorajou seus simpatizantes a atacar na França, e inscreveu na lista de pessoas a serem eliminadas o redator-chefe da Charlie Hebdo, Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, abatido no atentado da quarta-feira 7. Outros cartunistas emblemáticos da revista também morreram: Cabu, Wolinski e Tignous.

Desde a publicação, em 2006, de caricaturas do profeta Maomé, a revista satírica havia recebido diversas ameaças, inclusive foi atacada com coquetéis Molotov em 2011.

“O objetivo também é fazer uma mensagem chegar aos Estados, em particular aos integrantes da coalizão internacional, para que vejam que são vulneráveis”, explica Lina Khatib. E, por isso, “os criminosos escolheram uma zona central em Paris, que é muito simbólica”.

Nas redes sociais, simpatizantes da Al-Qaeda e, sobretudo, do Estado Islâmico comemoraram o ataque e utilizavam hashtags em árabe como “Paris arde” ou “a invasão de Paris”. Esses simpatizantes também publicaram fotos de Charbonnier com uma edição da Charlie Hebdo que mostra uma caricatura rindo dos muçulmanos radicalizados. “Por isso o mataram”, comenta um deles no Twitter.

Seja um ataque motivado exclusivamente pela questão das caricaturas ou um atentado destinado a punir os países em guerra contra os jihadistas, o ocorrido será um catalisador para atrair novos simpatizantes à causa jihadista, segundo Max Abrahms, especialista americano em terrorismo.

“Esse ataque será considerado um sucesso. E quanto mais os grupos terroristas dão a impressão de sair ganhando, mais fácil é recrutar pessoas”, explica. O ISIS, conhecido por seus massacres, sequestros e agressões no Iraque e na Síria, sairá beneficiado, embora não seja diretamente responsável pelo ataque, destaca Abrahms, que é também professor de ciência política.

Porque “o que na verdade permitiu ao Estado Islâmico contar com uma base tão ampla são seus êxitos em termos de conquista de territórios e de massacre de um grande número de pessoas”. Um contexto semelhante pode inspirar mais de um. “O ISIS e outros grupos vão considerar o ataque como um êxito que deve ser repetido”, adverte Abrahms.

Leia mais em AFP

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