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Ataque contra caravana de presidente do Equador foi tentativa de assassinato, diz ministro

A maior organização de povos originários do país, que participava do protesto de onde partiu o ataque, criticou as denúncias do governo e cobrou uma investigação independente e imparcial sobre o episódio

Ataque contra caravana de presidente do Equador foi tentativa de assassinato, diz ministro
Ataque contra caravana de presidente do Equador foi tentativa de assassinato, diz ministro
Daniel Noboa ao lado de um veículo com marcas de tiro após um ataque contra a sua caravana. Foto: Handout / Ecuadorian Presidency / AFP
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O ataque contra a caravana do presidente do Equador, Daniel Noboa, durante os protestos das comunidades indígenas foi uma tentativa de assassinato, afirmou nesta quarta-feira 8 o governo.

Na terça-feira, cerca de “500 pessoas” lançaram pedras e paus contra a caravana na qual Noboa viajava na localidade de El Tambo, na província andina de Cañar (Sul), relatou a ministra de Meio Ambiente e Energia, Inés Manzano. O mandatário saiu ileso.

“Há marcas de bala no carro do presidente”, disse naquele dia a funcionária, embora a informação ainda não tenha sido confirmada por investigadores.

Pelo menos cinco pessoas foram detidas, incluindo um homem de 60 anos e uma mulher.

Para Giancarlo Loffredo, ministro da Defesa de Noboa, “o nível de agressão com que se atacou a caravana indica que isso foi uma clara tentativa de assassinato e um ato de terrorismo contra o primeiro mandatário”, disse nesta quarta-feira ao canal Teleamazonas.

Vídeos divulgados pela presidência mostram a cena a partir do interior de um dos veículos, quando vários objetos atingem os vidros e alguém grita “abaixem a cabeça”.

Outros vídeos divulgados pela imprensa local mostram um grupo de manifestantes, alguns deles indígenas com roupas tradicionais, que lançam pedras e paus enquanto a caravana avança por uma via em meio ao som de sirenes rumo à localidade de Cañar.

Protestos contra o governo no Equador. Foto: Rodrigo BUENDIA / AFP

“Provocação”

À frente dos protestos, a maior organização de povos originários do país (Conaie) criticou as denúncias do governo.

“Rejeitamos as acusações infundadas de magnicídio ou tentativa de assassinato”, expressou o grupo em um comunicado.

A Conaie explicou que a caravana presidencial “entrou em uma zona de resistência e foi apedrejada”.

“Esse acontecimento, longe de ser um acidente, constitui uma provocação do Governo” aos manifestantes, acrescentou a organização.

Nos vídeos divulgados, é possível ver que a caravana presidencial – liderada por um veículo antimotins – atravessa uma estrada onde havia barricadas, com pedras ou pedaços de blocos de cimento.

Os protestos impulsionados pela Conaie começaram em 22 de setembro em várias províncias, rejeitando a eliminação do subsídio ao diesel, que impacta particularmente as comunidades indígenas e de camponeses.

No passado, essa mesma medida resultou em violentas mobilizações indígenas durante os governos dos presidentes Lenín Moreno e Guillermo Lasso em 2019 e 2022, respectivamente.

Desta vez, o galão de diesel passou de 1,80 dólares (9,60 reais) a 2,80 dólares (14,95 reais).

A Conaie solicitou uma “investigação independente e imparcial” com a participação de organismos internacionais de direitos humanos para determinar o que aconteceu com a caravana presidencial.

O governo investiga “se as medidas de segurança necessárias foram tomadas” ou “se houve algum ato de irresponsabilidade ou negligência” dentro do aparato de segurança presidencial, disse o ministro do Interior, John Reimberg.

“Crime de terrorismo”

Noboa, no poder desde 2023, estava a caminho de “entregar obras no território” quando foi atacado, relatou o ministro Loffredo.

Após o incidente violento, Noboa inaugurou um sistema de esgoto e uma estação de tratamento de água em Cañar.

“Nada detém o presidente, nem mesmo o risco à sua própria vida”, acrescentou Loffredo.

O governo apresentou à Promotoria uma denúncia por “tentativa de homicídio” contra Noboa.

As cinco pessoas detidas serão investigadas pelo crime de terrorismo, punido com até 30 anos de prisão, segundo a ministra Manzano.

“Exigimos respeito ao devido processo, sua liberdade imediata e um processo justo sem pressões políticas”, disse a Conaie.

Segundo o advogado e líder indígena Yaku Pérez, os detidos afirmaram que “nenhum deles estava na manifestação, foram apenas confundidos” em meio ao tumulto, no qual a força pública dispersou os manifestantes com gás lacrimogêneo.

O secretário da OEA, Albert Ramdin, expressou sua enérgica condenação ao “ataque” contra a caravana presidencial, que qualificou como “um atentado contra a democracia”.

Noboa, que mantém uma guerra contra o crime organizado, assegura que entre os manifestantes há infiltrados de máfias como a gangue venezuelana Tren de Aragua, embora não tenha apresentado provas.

Os povos originários representam quase 8% dos 17 milhões de habitantes do Equador, segundo o último censo. Líderes afirmam que, de acordo com estudos, este número chega a 25%.

A Conaie liderou protestos sociais que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005.

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