Mundo

Assembleia da Venezuela repudia decisão do Parlamento Europeu em sessão com vazamento de áudio contra opositor

Mais cedo, o Parlamento Europeu havia aprovado por 309 a favor, 201 contra e 12 abstenções o reconhecimento de González como o “presidente legítimo e democraticamente eleito” da Venezuela

Assembleia da Venezuela repudia decisão do Parlamento Europeu em sessão com vazamento de áudio contra opositor
Assembleia da Venezuela repudia decisão do Parlamento Europeu em sessão com vazamento de áudio contra opositor
Os deputados da Assembleia Nacional Bolivariana da Venezuela votam durante uma sessão na Assembleia Nacional em Caracas, em 19 de setembro de 2024. Foto: Federico PARRA / AFP
Apoie Siga-nos no

A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou nesta quinta-feira (19) uma nota de repúdio “a alguns deputados” que votaram no Parlamento Europeu o reconhecimento de Edmundo González Urrutia como o presidente eleito em 28 de julho. O Conselho Nacional Eleitoral anunciou Nicolás Maduro vencedor do contestado pleito, sem ter apresentado as atas eleitorais emitidas pelas urnas eletrônicas com o registro dos votos.

O texto aprovado na Assembleia de maioria chavista repudia a “prática de reconhecer mecanismos perversos de pressão para cometer graves violações à soberania (venezuelana)”, e que seja “abandonada a fracassada estratégia colonialista”.

Mais cedo, o Parlamento Europeu havia aprovado por 309 a favor, 201 contra e 12 abstenções o reconhecimento de González como o “presidente legítimo e democraticamente eleito” da Venezuela.

Durante a sessão parlamentar em Caracas, o presidente da Assembleia, Jorge Rodríguez, disse que o encontro que selou o exílio de González, ocorrido na embaixada da Espanha, “transcorreu tranquilamente”, mas sugeriu que o opositor estaria embriagado. O chavista, que foi ao local acompanhado pela irmã, Delcy Rodríguez, vice-presidente de Maduro, divulgou um áudio no plenário, feito sem o consentimento de González, com trechos das conversas mantidas na sede diplomática. Também divulgou uma carta na qual González se compromete a “acatar” a sentença da Corte Suprema que certificou a reeleição contestada de Maduro.

Paralelamente, em um ato oficial, Maduro disse que González pediu a ele “clemência” para conseguir deixar a Venezuela e ir para a Espanha.

“Sinto vergonha alheia que o senhor González Urrutia, que me pediu clemência, não tenha palavra com o que se empenhou e alegue sua própria inépcia e sua própria covardia para tentar salvar não sei o quê”, disse Maduro em um ato oficial nesta quinta-feira.

Na quarta-feira (18), González tinha relatado que Delcy e Jorge Rodríguez o obrigaram, sob “chantagem e coerção”, a assinar um documento reconhecendo a vitória de Maduro ou então teria de “ater-se às consequências”.

O diplomata de 75 anos chegou em Madri em 8 de setembro, após passar mais de um mês na clandestinidade, escondido em Caracas na sede diplomática da Holanda e, em seguida, na da Espanha.

A líder opositora Maria Corina Machado afirmou pelas redes sociais que ao mostrar documentos e fotos, Jorge Rodríguez está “acusando a si mesmo e dando provas da extorsão” que González teria sofrido.

Divulgação de imagem sobre negociações constrange governo espanhol

A fotografia dos irmãos Rodríguez ao lado do opositor na casa do embaixador da Espanha em Caracas gerou mal-estar em Madri. A imagem foi feita enquanto os três afinavam detalhes para González poder deixar a Venezuela. O adversário de Maduro nas urnas, que afirma desde a divulgação dos resultados pelo CNE ter vencido a eleição, afirmou nas redes sociais que tinha assinado um documento “viciado de nulidade” sob “coação” dos chavistas.

Na Espanha, a presença polêmica dos irmãos Rodríguez na residência do embaixador espanhol é criticada pela oposição conservadora. O Ministério de Relações Exteriores da Espanha nega ter sido o intermediário das supostas negociações entre González e os representantes do governo de Maduro. O chanceler José Manuel Albares teria dado “instruções diretas ao embaixador” Ramón Santos a não interferir nas gestões que pudessem ser feitas pelo líder opositor.

A situação levou González a divulgar uma nota afirmando não ter sido coagido nem pelo governo espanhol e tampouco pelo embaixador espanhol na Venezuela. O opositor informou que o governo espanhol se comprometeu a garantir sua segurança durante o deslocamento da casa do embaixador até o avião que o levou à Espanha “sob condições de segurança e respeito aos meus direitos”.

No entanto, Alberto Núñez Feijóo, senador e líder da bancada do Partido Popular no Parlamento Espanhol, exigiu a substituição de Ramón Santo, o embaixador da Espanha em Caracas, a saída do chanceler José Manuel Albares e que o primeiro-ministro Pedro Sánchez dê explicações imediatas sobre as tensões entre Espanha e Venezuela.

Com a resolução aprovada no Parlamento Europeu é esperado que os 27 países da União Europeia apoiem a posse de Edmundo González Urrutia na presidência em 10 de janeiro, e que seja solicitado em âmbito internacional a prisão de Nicolás Maduro por crimes de lesa humanidade.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo