Mundo
As reações às declarações de Trump sobre Lula na ONU
Bolsonaristas buscam minimizar os acenos ao petista e manter a aparência de ‘monopólio’ na interlocução com a Casa Branca


Aliados de Jair Bolsonaro (PL) relativizam as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o presidente Lula (PT), na abertura da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira 23.
Trump discursou logo depois do petista, que mandou recados ao magnata.
No mais recente capítulo de sua cruzada em retaliação ao julgamento de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal, o governo dos EUA incluiu a esposa do ministro Alexandre de Moraes na lista de sancionados pela Lei Magnitsky e cancelou o visto do advogado-geral da União, Jorge Messias, e de auxiliares de Moraes no STF.
Em seu pronunciamento, Trump afirmou ter se encontrado com Lula pouco antes de ocupar o centro do plenário. Segundo o republicano, os dois teriam se abraçado e concordado sobre um encontro na semana que vem. “Ele pareceu ser um homem muito legal. Na verdade, ele gostou de mim, eu gostei dele. Eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto. Quando não gosto, não gosto. Tivemos ao menos 39 segundos de uma química excelente. É um bom sinal.”
Nas redes sociais, a reação foi imediata. Denunciado pela Procuradoria-Geral da República por coação em processo judicial, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) alegou que o presidente norte-americano “fez exatamente o que sempre praticou”.
“Longe de causar espanto, sua postura reafirma, mais uma vez, sua genialidade como negociador. Ele entra na mesa quando quer, da forma que quer e na posição que quer. Enquanto isso, outros líderes, como Lula, assistem impotentes, sem qualquer capacidade real de influenciar o jogo global”, escreveu o parlamentar.
O mesmo tom foi adotado pelo blogueiro Paulo Figueiredo, que também vive nos Estados Unidos. Para ele, Trump é “realmente um gênio”, uma vez que “denuncia a ditadura brasileira e a invasão da jurisdição americana bem na ONU. Em seguida, diz que gosta do Lula, que o chamou para conversar, e complementa dizendo que o Brasil vai continuar indo mal exceto se estiver ao lado dos EUA”.
Entre integrantes do Centrão, a avaliação é que o discurso de Trump enfrquece a versão de que apenas Eduardo e Figueiredo teriam interlocução com o governo norte-americano. A percepção é compartilhada por congressistas da base e por dois ministros do governo ouvidos pela reportagem.
O anúncio do encontro entre Trump e Lula também foi destaque na imprensa internacional. O jornal The Washington Post relembrou o histórico de críticas do republicano ao Brasil nos últimos meses, enquanto The New York Times ressaltou que esta é a primeira vez que o magnata faz uma sinalização positiva em relação ao País “desde que uma crise diplomática eclodiu entre as duas nações mais populosas do Hemisfério Ocidental”. “Inesperadamente, o presidente americano deixou a porta aberta para uma reconciliação com seu homólogo sul-americano”, publicou o britânico The Guardian.
De acordo com a diplomacia brasileira, ainda não há um acerto formal para a reunião antecipada por Trump.
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