Mundo

As grandes empresas apreensivas enquanto a Catalunha decide sobre separação

Falta uma semana para as eleições e o presidente catalão, Artur Mas, se enrolou na bandeira. Mas o dinheiro poderá superar o sentimento

Artur Mas, presidente da Catalunha, em evento de campanha no domingo 18. Foto: Quique Garcia / AFP
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Por Stephen Burgen

Seu partido está fazendo uma campanha de um só homem e um só tema: um voto em Artur Mas, presidente do governo catalão, é um voto pela independência da Espanha.

O cartaz da eleição mostra Mas contra o pano de fundo de bandeiras catalãs, com as duas mãos levantadas em uma saudação de quatro dedos. Por que quatro dedos? Porque eles representam as quatro faixas vermelhas da insígnia catalã, supostamente criada quando um conde local passou os dedos ensanguentados por seu escudo, em um gesto agônico, enquanto defendia Barcelona das forças islâmicas.


No entanto, Mas é realmente um messias que levará a Catalunha à prometida terra da independência?

Parece que muitas pessoas na região, assim como no exterior, pensam que é isso que estará em jogo quando votarem nas eleições regionais em 25 de novembro próximo. Mas a verdade é mais complexa.

Ao criar uma ligação colorida com a iconografia do país, Mas espera fazer uma conexão indissolúvel entre si mesmo e a essência de ser catalão. Ele também espera que os catalães esqueçam que, antes de decidirem que a independência era a panaceia que curaria todos os males, estavam indo às ruas diariamente protestar contra os cortes nos gastos públicos de seu governo. O slogan da campanha é “A vontade do povo”.

A pergunta que muitos se fazem é se Mas é um separatista enrustido que finalmente saiu do armário, ou apenas um oportunista à moda antiga surfando a onda nacionalista que se ergueu da crise econômica. Será possível que o messias da independência não seja ele mesmo um fiel?

Mas nunca usa a palavra “independência” e ela não aparece no manifesto de seu partido, o Convergència i Unió (CiU), que se refere a “nosso próprio Estado”, a fórmula preferida por Mas. Mesmo isso fica entalado na garganta de Josep Antoni Duran Lleida, líder da metade Unió da CiU, que disse recentemente que não consegue imaginar a Espanha e a Catalunha separadas. Em uma reunião com líderes empresariais, Mas chegou a se referir à Espanha como “nosso país”, algo que nem mesmo os separatistas mais brandos diriam.

Foi uma medida tranquilizadora. A CiU é o partido das empresas e está ansioso para não assustar seu aliado natural com retórica separatista. E as empresas não desejam muito a independência, por dois motivos: elas não gostam de mudanças desestabilizadoras e, em geral, gostam que as coisas cresçam, e não diminuam.

O chefe da Planeta, maior editora da Espanha, já disse que vai retirar sua sede de Barcelona se a Catalunha se tornar independente. A indústria editorial espanhola vale 2,8 bilhões de euros, e 40% dela estão sediados na Catalunha, algo nada desprezível.

“Um dos grandes motivos para que as multinacionais se localizem em Barcelona é o acesso ao mercado espanhol e estar na União Europeia”, diz Xavier Mendoza, da escola de administração SEADE em Madri. “Os investidores não vão querer investir na Catalunha em um período de transição e instabilidade. Eu acho que a independência é uma proposta perdedora, tanto para a Espanha quanto para a Catalunha.” A Catalunha responde por 19% do PIB da Espanha.

O dinheiro pode de fato superar o sentimento; o dinheiro e o medo de ser expulso da UE. Houve rumores, por exemplo, de que na próxima temporada a camisa do clube de futebol Barcelona terá as listras vermelhas e amarelas da bandeira catalã. Mas desde então o rumor morreu. Talvez alguém no marketing tenha lembrado ao presidente nacionalista do clube que mais da metade dos estimados 1.800 clubes de torcedores ficam fora da Catalunha, e que os de Madri ou Sevilha poderiam achar estranho, para dizer o mínimo, andar vestidos com a bandeira catalã.

O resultado da eleição pode depender dos 50% de catalães que, segundo pesquisas, não são a favor da independência. Tradicionalmente uma minoria de pessoas de origem espanhola vota nas eleições catalãs, considerando-as um assunto local. No entanto, com a independência na agenda, elas poderão achar que desta vez precisam participar.

Tendo inicialmente apelado para que os eleitores lhe deem uma maioria absoluta, afirmando que sem ela o projeto de independência não teria credibilidade, Mas admitiu na sexta-feira 16 que conquistar essa maioria é “praticamente impossível”. Agora ele busca “uma maioria excepcional”, um conceito um tanto vago, que parece significar que os socialistas fiquem em um segundo lugar muito fraco.

Algo decepcionantemente pragmático, vindo de um messias.

Leia mais Guardian.co.uk

Por Stephen Burgen

Seu partido está fazendo uma campanha de um só homem e um só tema: um voto em Artur Mas, presidente do governo catalão, é um voto pela independência da Espanha.

O cartaz da eleição mostra Mas contra o pano de fundo de bandeiras catalãs, com as duas mãos levantadas em uma saudação de quatro dedos. Por que quatro dedos? Porque eles representam as quatro faixas vermelhas da insígnia catalã, supostamente criada quando um conde local passou os dedos ensanguentados por seu escudo, em um gesto agônico, enquanto defendia Barcelona das forças islâmicas.


No entanto, Mas é realmente um messias que levará a Catalunha à prometida terra da independência?

Parece que muitas pessoas na região, assim como no exterior, pensam que é isso que estará em jogo quando votarem nas eleições regionais em 25 de novembro próximo. Mas a verdade é mais complexa.

Ao criar uma ligação colorida com a iconografia do país, Mas espera fazer uma conexão indissolúvel entre si mesmo e a essência de ser catalão. Ele também espera que os catalães esqueçam que, antes de decidirem que a independência era a panaceia que curaria todos os males, estavam indo às ruas diariamente protestar contra os cortes nos gastos públicos de seu governo. O slogan da campanha é “A vontade do povo”.

A pergunta que muitos se fazem é se Mas é um separatista enrustido que finalmente saiu do armário, ou apenas um oportunista à moda antiga surfando a onda nacionalista que se ergueu da crise econômica. Será possível que o messias da independência não seja ele mesmo um fiel?

Mas nunca usa a palavra “independência” e ela não aparece no manifesto de seu partido, o Convergència i Unió (CiU), que se refere a “nosso próprio Estado”, a fórmula preferida por Mas. Mesmo isso fica entalado na garganta de Josep Antoni Duran Lleida, líder da metade Unió da CiU, que disse recentemente que não consegue imaginar a Espanha e a Catalunha separadas. Em uma reunião com líderes empresariais, Mas chegou a se referir à Espanha como “nosso país”, algo que nem mesmo os separatistas mais brandos diriam.

Foi uma medida tranquilizadora. A CiU é o partido das empresas e está ansioso para não assustar seu aliado natural com retórica separatista. E as empresas não desejam muito a independência, por dois motivos: elas não gostam de mudanças desestabilizadoras e, em geral, gostam que as coisas cresçam, e não diminuam.

O chefe da Planeta, maior editora da Espanha, já disse que vai retirar sua sede de Barcelona se a Catalunha se tornar independente. A indústria editorial espanhola vale 2,8 bilhões de euros, e 40% dela estão sediados na Catalunha, algo nada desprezível.

“Um dos grandes motivos para que as multinacionais se localizem em Barcelona é o acesso ao mercado espanhol e estar na União Europeia”, diz Xavier Mendoza, da escola de administração SEADE em Madri. “Os investidores não vão querer investir na Catalunha em um período de transição e instabilidade. Eu acho que a independência é uma proposta perdedora, tanto para a Espanha quanto para a Catalunha.” A Catalunha responde por 19% do PIB da Espanha.

O dinheiro pode de fato superar o sentimento; o dinheiro e o medo de ser expulso da UE. Houve rumores, por exemplo, de que na próxima temporada a camisa do clube de futebol Barcelona terá as listras vermelhas e amarelas da bandeira catalã. Mas desde então o rumor morreu. Talvez alguém no marketing tenha lembrado ao presidente nacionalista do clube que mais da metade dos estimados 1.800 clubes de torcedores ficam fora da Catalunha, e que os de Madri ou Sevilha poderiam achar estranho, para dizer o mínimo, andar vestidos com a bandeira catalã.

O resultado da eleição pode depender dos 50% de catalães que, segundo pesquisas, não são a favor da independência. Tradicionalmente uma minoria de pessoas de origem espanhola vota nas eleições catalãs, considerando-as um assunto local. No entanto, com a independência na agenda, elas poderão achar que desta vez precisam participar.

Tendo inicialmente apelado para que os eleitores lhe deem uma maioria absoluta, afirmando que sem ela o projeto de independência não teria credibilidade, Mas admitiu na sexta-feira 16 que conquistar essa maioria é “praticamente impossível”. Agora ele busca “uma maioria excepcional”, um conceito um tanto vago, que parece significar que os socialistas fiquem em um segundo lugar muito fraco.

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