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As divisões dos tories preocupam Cameron

“Sair da UE prejudicaria o principal interesse nacional do Reino Unido, o comércio”, diz especialista da Universiteit Brussel

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“Sair da UE prejudicaria o principal interesse nacional do Reino Unido, o comércio”. Daniel Fiott, do Instituto de Estudos Europeus na Vrije Universiteit Brussel, acrescenta que o país entregaria seus poderes para regular o mercado da UE. Confira a entrevista concedida a Gianni Carta:

CartaCapital: O premier Cameron diz que, se os conservadores vencerem as legislativas de 2015, haverá um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE). Seria uma estratégia para obter votos de eleitores do Ukip (Partido de Independência)?

Daniel Fiott: O objetivo de Cameron é garantir uma maioria absoluta na eleição geral de 2015. Ele está mais preocupado com as divisões dentro de sua própria legenda do que do Ukip. De fato, se os tories forem eleitos, Cameron não vai querer mais um mandato de coalizão com os liberais-democratas. E nem mais cinco anos a lidar com os opositores de sua agremiação a exigir sua renúncia. O Ukip é, realmente, uma ameaça sob medida. Cameron sabe que o Ukip terá um belo desempenho nas eleições para o Parlamento Europeu de 2014. No entanto, os eleitores usam ‘voto de protesto’ no pleito para o Parlamento Europeu e se comportam de outra forma nas legislativas. Mas há um problema maior: o debate foi enquadrado em termos de estreitos interesses partidários e de personalidades, e não sobre os reais benefícios de integrar a UE.

CC: Para o ex-ministro das Relações Exteriores, o tory Malcom Rifkind, ficar fora da UE seria “prejudicial” para o Reino Unido.

DF: Sir Malcom Rifkind está certo. Dito isso, o Reino Unido é um dos poucos países bem colocados para existir fora da UE, se assim desejasse. Mas deixar a UE prejudicaria o principal interesse nacional, ou seja, o comércio. Muita gente assume que “Bruxelas” obriga o Reino Unido a adotar regulamentações em muitas áreas da economia. No entanto, os britânicos têm influenciado uma série de regras que tornam o mercado da UE mais forte. Outra pedra angular histórica da política externa britânica é o de fazer prevalecer o equilíbrio e a ordem na Europa. França e Alemanha reconhecem a importância de ter uma terceira grande potência como a Grã-Bretanha na UE.

CC: Poderia haver um racha entre liberal-democratas e os conservadores sobre como lidar com a UE?

DF: Há diferenças claras entre os dois partidos. Mas até agora os parceiros da coalizão ficaram focados nas questões não europeias. Ambos usam a economia como narrativa fundamental para permanecer unidos. De fato, grande parte do “ruído” sobre o proposto referendo da UE vem de dentro do Partido Conservador. É também por isso que Cameron associa o referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE com as legiuslativas de 2015. O pleito de 2015 levará cada uma das legendas a arejar suas diferenças sobre a UE.

CC: De acordo com pesquisas, menos cidadãos do Reino Unido se dizem europeus.

DF: Para grande número de britânicos, o termo “europeu” está associado com o chamado “exército de burocratas” de Bruxelas a impor leis sobre o público. Isso, é claro, não é o verdadeiro significado de “ser europeu”. Presumo que as pessoas entrevistadas não se referiam a “ser europeu” em um sentido cultural. Nesse caso, muitos dos britânicos se contradizem porque apreciam a comida e a bebida e outros itens culturais do continente. Não duvido que alguns britânicos possam se sentir diferentes e ou superiores aos outros europeus. Esse sentimento talvez venha do fato de a Grã-Bretanha ter sido uma nação insular com uma história permeada de orgulho. O passado como um império global é uma ideia que vai levar tempo para morrer, e nem todo britânico parece se dar conta disso.

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