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As crianças soldados da República Democrática do Congo

Relatório da ONU ressalta “recrutamento endêmico” de crianças por grupos armados. Elas são utilizadas, entre outros lugares, em minas de metais para tablets e gadgets

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De Londres

Um grave, e infelizmente comum, problema em muitos países da África deixou a missão de paz da ONU na República Democrática do Congo (Monusco, da sigla em francês) “extremamente preocupada”. Segundo um relatório publicado na última semana, entre janeiro de 2012 e agosto de 2013 cerca de 1 mil casos de crianças recrutadas por grupos armados congoleses foram registrados.

O primeiro levantamento da missão da ONU sobre crianças soldados no país ressalta que “o recrutamento permanece endêmico” na RDC, apesar de campanhas de conscientização e tentativas de pacificar grupos armados. O número elevado de casos nos últimos dois anos, acreditam as Nações Unidas, ocorreu devido a novos conflitos internos no país africano.

O relatório aponta que o grupo armado Nyatura foi o que mais recrutou: 190 crianças ao todo. Em seguida aparecem as Forces Démocratiques de Libération du Rwanda (FDLR), com 137, e o Movimento 23 de Março (M23), com 124.

Os recrutados, diz o relatório, frequentemente são vítimas ou testemunhas de graves violações dos direitos das crianças, como estupros, sequestros, assassinatos e mutilações. Na maioria dos casos, os soldados infantis são sequestrados e forçados a se juntarem a tropas. Outros escolhem, porém, entrar nestas organizações atraídos por promessas de dinheiro, educação, empregos e outros “benefícios”.

Em geral, as crianças soldados acabam utilizadas como porteiros, cozinheiros, espiões, escravos sexuais, guardas e combatentes. Mas, segundo a ONU, crianças recrutadas pelo grupo M23 também tinham entre suas “tarefas” enterrar corpos de pessoas mortas durante conflitos com o Exército Nacional da RDC e outros grupos armados.

Uma recente reportagem da revista National Geographic traça ainda um paralelo das crianças soldados com os interesses tecnológicos e consumistas de países mais desenvolvidos que a RDC. O texto, assinado pelo repórter Jeffrey Gettleman, narra como as crianças soldados congolesas são exploradas em minas de cobre, cobalto, estanho e ouro, que possivelmente estão presentes em grande parte dos tablets, celulares, notebooks, entre outros gadgets, vendidos fora da África.

As crianças soldados, além disso, também trabalham em minas de diamantes que, vendidos nos exterior, comumente em anéis de noivado, sustentam os grupos armados e seus sangrentos conflitos.

O governo da RDC tem um acordo com a ONU para evitar e prevenir o agenciamento de crianças na luta armada, além de responsabilizar os culpados por graves violações contra os direitos das crianças.

Em agosto deste ano, a missão da ONU libertou 82 crianças do grupo Mayi Mayi Bakata. Eram 69 garotos e 13 meninas, com entre oito e 17 anos. Cerca de metade delas foi imediatamente reintegrada a suas famílias, enquanto outros receberam tratamento antes desta etapa. Do início do ano até setembro foram mais de 550 crianças libertadas.

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