Mundo
As controvérsias do ‘Shen Yun’, musical que mescla ‘China milenar’, fanatismo e anticomunismo
Há meses, anúncios do espetáculo tem inundado as redes sociais, de YouTube a Instagram, com direito a depoimentos impressionado de espectadores brasileiros
Os anúncios são atraentes: com trajes que remetem a uma China milenar, bailarinos prometem uma viagem por 5.000 anos de história em um espetáculo que funde acrobacias e música. São, também, abundantes: há meses, tem inundado as redes sociais, de YouTube a Instagram, mesclando cenas do espetáculo e depoimentos impressionado de espectadores brasileiros.
O musical Shen Yun – Arte que Conecta o Céu e a Terra, promete uma apresentação sobre “a antiga sabedoria chinesa”. A versão estilizada da história e cultura do país, contudo, serve também como vetor para propaganda anticomunista.
O Shen Yun é o braço teatral da Falun Gong, um movimento religioso de origem chinesa, hoje sediado nos Estados Unidos e cuja história é repleta de controvérsias.
Inspirada no taoísmo, a prática emergiu no início dos anos 90, inicialmente incentivada pelo governo chinês. Mas a relação do grupo com o governo azedou no final daquela década, culminando em uma proibição, em 1999, pelo então presidente Jiang Zemin, que declarou a Falun Gong como ameaça ao Estado – o que levou milhares de seus seguidores a emigrarem para os Estados Unidos. Foi nesse contexto que nasceu, em 2006, o Shen Yun.
Fortemente apoiado por campanhas publicitárias, o grupo realiza turnês globais com seis trupes distintas, apresentando-se em praticamente todos os cantos do mundo – exceto, naturalmente, na China.
O movimento, hoje descrito como “seita anti-sociedade” pelo governo chinês, sugere aos seus seguidores, por exemplo, o abandono de medicamentos, apoiando-se na crença de que seus verdadeiros praticantes nunca ficariam doentes. Pesam ainda acusações de incentivo à auto-mutilação e ao suicídio. No início dos anos 2000, em um espetáculo público do Ano Novo na China, cinco membros do grupo atearam fogo contra os próprios corpos.
A natureza controversa do Falun Gong se estende aos palcos. Em uma das cenas mais dramáticas de Shen Yun, uma representação de Karl Marx se transforma em um tsunami, simbolizando a suposta destruição trazida por suas ideias. Também há aberta rejeição a conceitos científicos modernos, como o evolucionismo, além de críticas à homossexualidade. Mais problemas ficam explícitos em declarações do líder do Falun Gong, Li Hongzhi. Em um dos momentos do espetáculo, Hongzhi chega a dizer que “pessoas de raças diferentes serão separadas no Paraíso”.
Entre fanatismo religioso e escolhas artísticas duvidosas, a verdade é que o Falun Gong se converteu em um dos mais vocais detratores do governo comunista. Além do Shen Yun, o grupo controla o jornal The Epoch Times, cujo conteúdo é traduzido para mais de trinta países, incluindo o Brasil, e que, nos últimos anos se tornou um manancial de desinformação da ultradireita trumpista.
O espetáculo chegou ao Brasil em abril e passará por algumas capitais até maio. Os ingressos custam pouco mais de 200 reais.
Leia essa matéria gratuitamente
Tenha acesso a conteúdos exclusivos, faça parte da newsletter gratuita de CartaCapital, salve suas matérias e artigos favoritos para ler quando quiser e leia esta matéria na integra. Cadastre-se!
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.