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As alegações de Milei para sair da OMS e revisar as políticas de saúde na Argentina

A gestão ultraliberal recebeu o secretário de saúde dos EUA, Robert Kennedy Jr., e intensificou o alinhamento com Donald Trump

As alegações de Milei para sair da OMS e revisar as políticas de saúde na Argentina
As alegações de Milei para sair da OMS e revisar as políticas de saúde na Argentina
Presidente da Argentina, Javier Milei – Foto: Tomas Cuesta/AFP
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O governo da Argentina, chefiado pelo ultraliberal Javier Milei, confirmou que o país sairá da Organização Mundial da Saúde, a OMS. O movimento acontece após a visita do secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert Kennedy Jr., a Buenos Aires, na última segunda-feira 26. O norte-americano é conhecido por seus ataques à entidade e por ser um ativista antivacina.

A Argentina chegou a anunciar em fevereiro que deixaria a OMS, mas a vista do emissário de Donald Trump estimulou que a saída fosse reafirmada, levando a gestão de Milei a enfatizar que também pretende revisar suas políticas de saúde pública.

A saída da OMS

O argumento principal do governo Milei é que o custo de integrar a OMS é muito alto. Segundo informações do jornal argentino La Nación divulgadas no início do ano, a Casa Rosada teria estimado que a Argentina gasta cerca de 10 mihões de dólares (cerca de 58 milhões de reais) por ano para permanecer no organismo. 

Esse montante leva em consideração toda a estrutura necessária para compor a OMS, inclusive salários e diárias de representantes argentinos no organismo de saúde.

Agora, o governo Milei investe contra os próprios fundamentos da OMS. “A evidência indica que as receitas da OMS não funcionam, porque não estão baseadas em ciência, mas em interesses políticos e estruturas burocráticas que resistem a revisar seus próprios erros”, diz um comunicado publicado pelo Ministério da Saúde da Argentina. 

A pasta não detalhou qual evidência comprova a acusação de que as receitas da OMS, fundada em 1948 e principal instância internacional na saúde, não funcionariam.

Mudanças internas

A Casa Rosada também decidiu dar cabo ao processo de revisão das políticas da Argentina sobre saúde. Em resumo, o governo de Milei estabeleceu uma nova análise do protocolo a respeito de vacinas, com o suposto objetivo de “passar de um modelo sanitário centrado em reparar a doença para um focado em cuidar da saúde com base em evidências científicas”. 

Para isso, a Argentina debaterá o uso de autorização para medicamentos de alto custo, “especialmente os destinados a crianças e a doenças raras”, segundo o comunicado. Haverá uma revisão das autorizações aceleradas para medicamentos desse tipo.

Outra mudança envolverá maior restrição ao uso de aditivos sintéticos potencialmente perigosos em produtos alimentícios. “A iniciativa também questiona o papel de certos ingredientes utilizados na indústria alimentícia e seu possível vínculo com o aumento de doenças crônicas”, conforme o governo de Milei. 

Em relação às vacinas, o governo passará a exigir que elas sejam submetidas a estudos clínicos com grupo de placebo. A Casa Rosada lembrou o processo de aprovação do imunizante contra a Covid-19, que teria sido “aplicado sem grupo de controle e sob condições de aprovação excepcionais”.

Alinhamento aos EUA

A mudança é parte da estratégia do governo de Milei de seguir à risca a abordagem de Trump sobre uma série de temas, inclusive a saúde. O ministro da Saúde argentino, Mário Lugones, disse que, ao lado de Robert Kennedy, acredita “no futuro da colaboração em saúde global”. “Temos visões semelhantes sobre o caminho a seguir”, afirmou a autoridade argentina.

Esse caminho passa pelo desmantelamento de instâncias como a OMS. Na semana passada, durante a assembleia anual em Genebra, na Suíça, o representante norte-americano não se eximiu de chamar a organização de “moribunda”.

A ideia do governo republicano, que anunciou a saída dos EUA da OMS no primeiro dia do segundo mandato trumpista, é fazer com que outros países imitem essa decisão. Na reunião da OMS, Robert Kennedy Jr. pediu aos ministros de saúde do mundo e ao organismo que considerem a saída norte-americana “como um alerta”.

“Já entramos em contato com países que pensam da mesma forma e incentivamos outros a considerar a possibilidade de se juntar a nós”, declarou o secretário dos EUA.

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