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Após seis meses de invasão, o que o futuro reserva para a Ucrânia?

As duas partes na guerra têm sofrido imensas perdas humanas e materiais, sem que nenhuma pareça disposta a um cessar-fogo ou a diálogos de paz

Kiev, 6 meses após o início da guerra. Foto: Dimitar DILKOFF / AFP
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Seis meses depois de as forças russas lançarem o que pensavam que seria uma operação relâmpago na Ucrânia, a invasão resultou em uma guerra clássica sem sinais de que vá terminar em breve, afirmam especialistas.

É possível que a guerra dure anos? Qual a capacidade de resistência dos dois países?

Quanto tempo o conflito pode durar?

As duas partes têm sofrido imensas perdas humanas e materiais, sem que nenhuma pareça disposta a um cessar-fogo ou a diálogos de paz.

Os ucranianos travam o que para eles é uma luta existencial para defender sua nação, considerada por Putin uma falácia histórica.

Como diz à AFP o analista político russo Konstantin Kalachev, “em circunstâncias assim ninguém pode vencer”. “Esta ‘operação militar especial’ poderia durar anos”.

“Começa a haver uma forma de equilíbrio de forças entre as duas partes, sendo assim vemos um conflito que pode ser muito longo”, e no mínimo continuar em 2023, diz à AFP Marie Dumoulin, do ‘think tank’ Conselho Europeu de Relações Estrangeiras (ECFR, na sigla em inglês).

Putin apresentou, ainda, o conflito como parte da resistência da Rússia à expansão da Otan, o que torna inaceitável qualquer noção de derrota.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, por sua vez, pode tentar obter sucessos táticos, como o afundamento do cruzeiro ‘Moskva’ em abril, ou inclusive lançar uma contraofensiva para recuperar áreas ocupadas no sul e no leste do país.

“Isso lhe permitiria voltar a motivar as tropas ucranianas e a sociedade, e justificar seu pedido de mais ajuda a seus sócios europeus”, argumenta Marie Dumoulin.

A Ucrânia pode continuar resistindo?

O apoio da Europa e dos Estados Unidos com armamento e inteligência tem permitido às forças ucranianas retardar, senão deter, o avanço da Rússia no Donbass e na costa do Mar Negro.

Mas este ritmo também tem permitido à Rússia consolidar suas posições nestas áreas, apoiando-se certamente em uma presença militar fortalecida na Crimeia desde sua anexação em 2014.

A chegada do inverno porá à prova a determinação dos ucranianos, sobretudo se sofrerem restrições severas no fornecimento de energia e se mais gente for forçada a abandonar suas casas.

Dumoulin aponta para um dado: 40% das escolas continuarão fechadas quando começar o ano letivo, em setembro, o que terá um importante custo psicológico.

Sem esquecer a necessidade de manter vivo o relato de apoio do Ocidente, que tem negado a Zelensky as armas de maior calibre que solicitou.

“O povo ucraniano está unido e por enquanto apoia o governo, mas esta estabilidade repousa muito na ideia de que o Ocidente apoia a Ucrânia nesta guerra”, afirma Dimitri Minic, pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).

A economia russa resistirá?

Moscou parece decidida a pagar o preço de uma longa guerra de desgaste.

Os aliados ocidentais da Ucrânia têm tentado estrangular a economia russa, reduzindo drasticamente as compras de petróleo e gás, impondo sanções que restringem as importações de produtos russos e obrigaram muitas empresas ocidentais a deixar o país.

No entanto, “as receitas resultantes de suas exportações e, em particular, de petróleo, gás, carvão e outras matérias-primas, não só têm sustentado, mas superado as expectativas”, exclama Chris Weafer, analista especializado em Rússia da consultoria Macro-Advisory.

A sociedade russa tem sofrido os efeitos das sanções desde a anexação da Crimeia, e o governo encontrou rapidamente outros mercados para a compra de componentes industriais e outros materiais na Turquia e na Ásia.

“A economia, a indústria e as pessoas tiveram oito anos para se ajustar às sanções, desta forma, o país e a população estão mais bem preparados e têm maior autossuficiência, embora seja básica”, destaca Weafer.

Quais são os possíveis desfechos?

Se o conflito adentrar o inverno e o ano de 2023, o futuro dependerá em boa parte do apoio ocidental a Kiev, sujeito ao impacto que o conflito está tendo nas famílias na forma de uma inflação elevada.

“Provavelmente chegará um momento em que Putin apostará na fadiga ocidental para incitar os líderes ocidentais a pressionarem a Ucrânia a pôr fim ao conflito, segundo as condições da Rússia”, afirma Dumoulin, do ECFR.

Salvo um enorme erro de cálculo, o exército ucraniano tampouco dá sinais de colapsar, e poucos esperam que Zelensky aceite uma negociação que não resulte na recuperação dos territórios ocupados, incluindo a Crimeia.

Se seus aliados continuarem fornecendo ajuda e armas, a vantagem militar russa poderia erodir, o que poderia se voltar contra Putin antes das eleições presidenciais de março de 2024.

“O que poderia piorar a tensão entre o Kremlin e o que resta da sociedade civil é uma declaração de guerra, da lei marcial ou uma mobilização geral”, avalia Dimitri Minic.

“Isso seria difícil de gerenciar em cidades como Moscou e São Petersburgo, menos permeáveis à obsessiva narrativa antiocidental”, acrescenta.

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