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Após rebelião de pastores, polícia reforça proteção da Igreja Universal em Angola

Religiosos acusam a igreja do bispo Edir Macedo de desvio de dinheiro e racismo

O bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da TV Record. Foto: Reprodução/Facebook
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A polícia de Angola reforçou a proteção dos templos da Igreja Universal do Reino de Deus no país, depois que um grupo de pastores angolanos se rebelou contra a instituição, com sede no Brasil. Os religiosos acusam a igreja fundada pelo bispo Edir Macedo de desvio de dinheiro e racismo.

Na terça-feira 22, em uma ação coordenada, 35 templos de Luanda foram invadidos pelos pastores dissidentes, além de 50 outros localizados em províncias espalhadas pelo país, como Cabinda e Cunene. Em reação, a polícia deslocou agentes junto aos locais de culto para evitar “cenas de desacato”, conforme o porta-voz Nestor Goubel informou ao correspondente da RFI, Daniel Frederico.

“O comando provincial de Luanda tem acompanhado toda esta situação, não só no município de Luanda como em toda a extensão da província de Luanda. Não há, em princípio, grandes cenas de desacato ou ofensas corporais. Está tudo sendo gerido”, acrescentou Gouvel.

Liderados pelo bispo Valente Bizerra, os pastores angolanos romperam, em novembro do ano passado, com a representação brasileira em Angola, encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves. Eles alegam práticas doutrinais contrárias à religião, como a exigência da realização de vasectomia e da castração química, além de evasão de divisas para o exterior.

“Muito contato com os macacos”

Em entrevista exclusiva à RFI, o pastor angolano Silva Matias afirmou que a ruptura aconteceu porque “muitos crimes e muitas irregularidades têm sido cometidos pela liderança brasileira”. Entre as denúncias, Matias cita o racismo por parte dos membros da instituição no Brasil, entre eles, o bispo Edir Macedo.

“Em uma reunião fechada, uma conferência que ele fez conosco, ele disse que nós, pretos, temos essa aparência porque nossos ancestrais, nossas mães, quando concebiam, tinham muito contato com macacos. Isso foi uma tremenda aberração e uma autêntica falta de respeito, vindo dessa pessoa que é líder fundador da igreja”, afirma.

O pastor angolano também aponta o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente da TV Record, de racismo. “Sabemos que ele, um homem branco, trata os negros com desdém”, reitera.

Troca de farpas

Em comunicado publicado no Facebook, a Igreja Universal do Reino de Deus declarou que foi invadida em algumas localidades por “ex-pastores desvinculados da instituição por práticas e desvio de condutas morais e em alguns casos criminosas contrárias aos princípios cristãos”. O documento classifica a atitude dos religiosos angolanos de “práticas criminosas”.

Segundo a nota, os bispos e pastores rebelados foram “tomados por um sentimento de ódio” e realizaram “ataques xenófobos”. “Agrediram e feriram pastores, esposas de pastores e funcionários, usando a violência com objetivo de tomar de assalto a igreja com propósitos escusos”, afirma o comunicado.

A nota também apela a “comunidades competentes” para que resolvam o problema. O texto relembra que a Igreja Universal do Reino Deus está oficialmente em Angola desde 1992, e conta atualmente com 512 pastores: 419 angolanos, 65 brasileiros, 24 moçambicanos e quatro são-tomenses.

Igrejas fechadas por precaução

A Igreja Universal em Angola comunicou ainda que, apesar da reabertura, nesta sexta-feira 26, para os cultos presenciais, as igrejas continuarão fechadas em todo o país, por falta de garantias de segurança de pastores e fiéis, tanto devido “aos recentes acontecimentos desencadeados por atos de invasão e rebelião por parte dos ex-pastores”, quanto “devido à evolução da situação epidemiológica da covid-19”.

O jurista Catumbela de Sá, que acompanha o caso, dá razão à ala brasileira da instituição. ‘É um ato bárbaro, criminoso e muito reprovável. Este ato é muito perigoso e pode minar as relações entre Angola e o Brasil. (…) Está-se a invadir a privacidade, o patrimônio alheio”, disse, ao correspondente da RFI. “O Estado deve criminalizar essas pessoas. Não estamos diante de um crime particular: estamos diante de um crime público. É desordem, anarquia”, complementou o jurista.

A Procuradoria-Geral da República angolana anunciou, na quinta-feira 25, que “trabalha” num processo-crime que envolve pastores angolanos e brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, e avançou que os advogados da instituição apresentaram uma outra queixa-crime logo após a tomada dos templos.

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