Após protestos, governo da França se diz aberto ao diálogo

Macron deve romper silêncio e anunciar "medidas importantes" após nova rodada de manifestações

Protestos na França (Foto: Alain Jocard/AFP)

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Após a quarta semana seguida de protestos dos chamados “coletes amarelos” na França contras as políticas do presidente Emmanuel Macron, o governo francês se diz aberto para discutir as demandas dos manifestantes e sinaliza o anúncio de medidas importantes nos próximos dias.

O porta-voz da presidência Benjamin Griveaux afirmou neste domingo 9 que Macron, que se manteve em silêncio desde que retornou da cúpula do G20 há sete dias, fará um pronunciamento à nação no início da semana. Ele não entrou em detalhes, mas disse se tratar de “anúncios importantes”.

“Quando vemos esse nível de protestos, fica claro que precisamos mudar nossos métodos” afirmou Griveaux. O porta-voz, porém, alertou que “nem todos os problemas dos ‘coletes amarelos’ poderão ser resolvidos com uma varinha mágica”.

As autoridades calculam que cerca de 125 mil franceses participaram das manifestações em várias cidades do país.

Após os protestos deste sábado, o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, disse que “o diálogo está aberto e deve continuar”, afirmando que o presidente “proporá medidas para alimentar esse diálogo”.

Com Macron se mantendo longe dos holofotes nesta semana, Philippe se viu na função de responder publicamente pelo governo, anunciando inclusive o cancelamento do aumento dos impostos sobre os combustíveis, que foi o estopim das manifestações.


Os atos de violência deste sábado foram em escala menor do que a destruição ocorrida na semana anterior, quando o país viveu os protestos mais violentos das últimas décadas, com cerca de 200 carros queimados nas ruas e várias lojas saqueadas.

Para este fim de semana o governo adotou uma política de tolerância zero, afirmando que grupos da extrema-direita, anarquistas e outros tentavam se apropriar dos protestos e promover atos violentos. As autoridades destacaram um reforço de 89 mil policiais em todo o país. Na capital, 8 mil integrantes adicionais das forças de segurança foram acionados.

Mas, mesmo com o reforço da segurança, cidades como Marselha, Bordeaux, Toulouse e Lyon tiveram incidentes com automóveis incendiados, vitrines apedrejadas e confrontos entre manifestantes e policiais.

Os maiores danos, porém, foram registrados em Paris. “Dezenas de proprietários de lojas se tornaram vítimas dos vândalos”, lamentou a prefeita Anne Hidalgo, condenando os atos de violência.

Mais de 1,7 mil manifestantes foram detidos para averiguações em diversas cidades francesas. A polícia realizou controles em estações de trem e locais de concentração de manifestantes, apreendendo objetos que poderiam ser utilizados em ataques, como martelos, pedras e estilingues.

Em Paris, os serviços de saúde afirmaram que 179 cidadãos foram atendidos nos hospitais, a maioria com ferimentos leves. O ministro do Interior, Christophe Castaner, disse que 17 policiais ficaram feridos.

O movimento dos coletes amarelos – nome que se refere ao colete fluorescente de sinalização que os motoristas possuem em seus veículos – se espalhou para além das fronteiras da França, com protestos ocorrendo na Holanda e na Bélgica.

Em Bruxelas, cerca de 400 manifestantes foram detidas em confrontos com a polícia.

Neste sábado, as principais atrações turísticas de Paris, como a torre Eiffel e o Museu do Louvre, foram fechadas, assim como as lojas em grande parte da cidade. Após uma enorme operação de limpeza nas ruas da capital, o comércio voltou a abrir as portas e retornar à normalidade.

Os protestos começaram no dia 17 de novembro, com motoristas irritados com um aumento dos impostos sobre combustíveis programado para janeiro de 2019, e ganharam dimensões maiores, passando a incorporar queixas sobre as políticas de Macron que, segundo os manifestantes, beneficiam apenas os mais ricos.

Os coletes amarelos denunciam o que consideram um descaso do presidente para com os problemas das pessoas comuns na França. Os manifestantes também protestam contra o aumento nos gastos domésticos gerados pelo imposto sobre o diesel, que o governo justifica como sendo necessário para o combate ao aquecimento global e para a proteção do meio ambiente.


Na última quinta-feira 6, o governo francês cedeu à pressão das ruas e cancelou o aumento dos impostos sobre os combustíveis. Os organizadores dos protestos, porém, afirmaram que a decisão veio tarde demais, e mantiveram as exigências de novas concessões do governo que incluiriam o aumento do salário mínimo, redução dos custos de energia e melhoras nos benefícios para a aposentadoria.

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