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Após ataque a escola, começa “jogo de sobrevivência” para talibãs no Paquistão

Em entrevista à DW, o especialista em risco nacional Omar Hamid aposta que Exército paquistanês reforçará o combate aos militantes depois do atentado que matou dezenas de crianças no noroeste do país

O governo em Islamabad vem combatendo os fundamentalistas islâmicos do país há mais de uma década
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Pelo menos 141 pessoas, incluindo 132 crianças, foram mortas nesta terça-feira 16/12 e dezenas ficaram feridas, quando militantes talibãs invadiram uma escola pública na cidade de Peshawar, no noroeste do Paquistão.

Calcula-se que cerca de 500 estudantes entre 10 e 18 anos de idade se encontravam pela manhã no prédio, quando começou um dos mais sangrentos atentados dos últimos anos no país. Os terroristas, que entraram atirando a esmo, também tomaram como reféns centenas de alunos e professores.

O ato foi reivindicado pelo movimento Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), que desde 2007 lidera uma guerra violenta contra o governo em Islamabad. O grupo alegou tratar-se de uma retaliação pela continuada ofensiva do Exército paquistanês contra os militantes na área tribal do Waziristão do Norte, próximo a Peshawar. Islamabad vem combatendo os fundamentalistas islâmicos do país há mais de uma década.

Em entrevista à DW, Omar Hamid, diretor do departamento de avaliação de risco nacional para a Ásia-Pacífico da firma de análise global IHS, afirma que o presente atentado só reforçará a determinação do Exército em seu combate. Para o TTP, começa um jogo de sobrevivência.

DW: Por que foi escolhido esse alvo e por que agora?

Omar Hamid: Trata-se de uma escola pública administrada pelo Exército, ao qual pertence a maioria dos pais dos alunos. Assim, ela representa um alvo não militar que atinge diretamente as Forças Armadas. Como disse o porta-voz do TTP: eles queriam que o Exército sentisse a dor deles.

A estrutura do ato é muito semelhante à de atentados de alta projeção anteriores. Em especial o de 2009, contra o quartel-general do Exército, em que o TTP usou uniformes militares para passar pelo controle de segurança. Ou, antes desse, os ataques a colégios de cadetes em Razmak, no Waziristão do Norte.

DW: De que forma o atentado está relacionado à operação em curso, das Forças Armadas contra os militantes da área tribal do Waziristão do Norte próxima a Peshawar?

OH: Não há dúvida que a operação do Exército enfraqueceu as capacidades do TTP. Por isso, foi escolhido um alvo relativamente próximo às áreas tribais, ou seja, em Peshawar. O propósito é vingar-se pela operação militar e tentar abalar a determinação dos comandantes.

DW: Os militares paquistaneses haviam alegado que os militantes estavam significativamente debilitados. Como o senhor vê essa afirmativa, depois deste atentado?

OH: Embora debilitado, o TTP possui a capacidade de perpetrar ataques como este. Provavelmente seria mais difícil para eles realizar um mais longe de sua área de operações, por exemplo, na província de Punjab. Mas Peshawar é facilmente acessível a partir das áreas tribais e, portanto, um alvo óbvio.

DW: Como o Tehreek-e-Taliban Pakistan será visto no país depois desse massacre de crianças?

OH: Acho que há algum tempo a opinião pública paquistanesa já se voltou contra o TTP. Mas é claro que alguns elementos ainda defendem as conversações de paz. Contudo, desde o início da operação militar, em julho de 2014, não tem realmente havido apetite para negociações.

De fato: ao visitar Washington no mês passado, o chefe do Estado-maior paquistanês, general Raheel Sharif, declarou publicamente que não cogitava qualquer tipo de negociação com militantes que tinham jogado futebol com as cabeças dos soldados dele.

Acho que esse ataque vai fortalecer ainda mais a determinação do Exército, e é de se contar com a condenação bastante generalizada do TTP. Para o grupo, trata-se agora de um jogo de sobrevivência, e ele vai propagar tais atentados na esperança de que sua barbárie enfraqueça a resolução dos militares.

DW: Que impacto esse atentado deverá ter sobre governo do primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif?

OH: O agente principal, no que tange o antiterrorismo, é o Exército. O TTP também está ciente disso, e, por isso, a escolha de um alvo relacionado à instituição. O Exército tomará a dianteira, qualquer que seja a reação, e é improvável que o governo o impeça de algum modo.

Uma das principais mudanças decorrentes da desestabilização política do governo Sharif nos últimos meses é que ele praticamente entregou às Forças Armadas a responsabilidade pela segurança e pela política do país em relação ao Afeganistão. Sharif está sendo criticado por algumas alas por ter postergado a ação do Exército em seis meses. Mas, de forma semelhante, alguma culpa recairá sobre seus adversários do partido PTI, de Imran Khan, que governa a província de Khyber-Pakhtunkhwa, que demonstram favorecer de certa maneira o TTP.

DW: De que modo um Talibã mais forte no Paquistão influenciará a situação no Afeganistão?

OH: A questão do Talibã no Paquistão está enredada com o Afeganistão, pois é provável que Islamabad exija ação dos Estados Unidos e dos afegãos contra a liderança dos talibãs paquistaneses no leste do Afeganistão, como uma retribuição por apoiar ou impelir os talibãs afegãos no sentido de conversações de paz.

  • Autoria Gabriel Domínguez (av)

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