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Angola se prepara para “eleições mais disputadas da história” do país

As eleições no país africano terão mais de 2 mil observadores nacionais e internacionais

Apoiadores de João Lourenço, presidente de Angola e candidato a reeleição pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Foto: Julio PACHECO NTELA / AFP
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Mais de 14 milhões de angolanos são chamados às urnas nesta quarta-feira (24) em eleições consideradas pelos analistas como as mais disputadas da história do país, em que o principal embate deve se dar entre o partido governista Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a Unita, sigla que integra a coligação Frente Patriótica Unida (FPU).

Angola se prepara para escolher seu próximo presidente da República, entre oito candidatos, e também seus deputados da Assembleia Nacional. O atual presidente, José Lourenço, concorre à reeleição.

“Esta é, provavelmente, uma das campanhas eleitorais mais competitivas, mas, ao mesmo tempo, mais desiguais. Quando assistimos à Televisão Pública de Angola, vemos o tratamento desigual atribuído aos partidos da oposição e ao partido governista. Ao mesmo tempo, é uma campanha em que se verificou – sobretudo por parte do atual presidente – uma série de acusações e desrespeitos não só contra a oposição, mas também contra a sociedade civil”, destaca o cientista político angolano Nelson Domingos em entrevista à RFI.

Outras questões que marcam o pleito são as denúncias de fake news, mas também de um grande número de “eleitores fantasmas”. Partidos denunciam que existiriam mais de 2 milhões desse tipo de eleitor, e lançaram uma petição pública pedindo a “limpeza” dos registros de voto que estariam desatualizados.

“[…] há mortos que ainda aparecem nos registros eleitorais, há nomes duplicados, nomes de pessoas que aparecem em diferentes seções eleitorais. Em Cabinda (cidade a noroeste do país), por exemplo, o movimento cívico Mudei identificou que grande parte dos presidentes das mesas são governantes, outros são ligados à própria estrutura do partido e outros são militantes. Isso possibilita um controle absoluto da contagem e da produção dos resultados”, alerta o cientista político.

POB Brasil

Acusações de corrupção eleitoral surgem por parte de diferentes organizações não-governamentais, especialmente no que diz respeito à instrumentalização dos eleitores. Especialistas temem pela manipulação dos resultados e alertam para a pouca credibilidade das pesquisas de intenções de voto.

Apoiadores do partido da oposição angolana.
Foto: JOHN WESSELS / AFP

“Há a produção de sondagens, muito questionáveis, a começar por uma empresa chamada POB Brasil. Eu tomei o cuidado de verificar junto ao Tribunal Superior Eleitoral e em algumas entidades brasileiras, e esta instituição é desconhecida no Brasil. Ninguém sabe de onde surgiu nem como produziu esses resultados que dão uma vitória de 61% ao MPLA. Em contrapartida, os resultados verificados pelo movimento cívico Mudei, pelo AngoBarômetro e por outras instituições dão uma margem considerável de vitória de 53% a 59% para a Unita e a FPU, enquanto o MPLA oscila entre 20% e 30%”, explica Domingos.

Estas eleições terão mais de 2 mil observadores nacionais e internacionais. No entanto, as dificuldades para que estes observadores fossem credenciados, especialmente a nível nacional, geraram acusações contra a Comissão Nacional Eleitoral (CNE). O Observatório Eleitoral Angolano (OBEA) considerou que o atraso no credenciamento dos observadores internacionais poderia comprometer a transparência eleitoral.

Proveito político

A campanha eleitoral também fica marcada pela chegada, em Luanda, a apenas quatro dias das eleições, do corpo do ex-presidente José Eduardo dos Santos, falecido no último dia 8 de julho em Barcelona. Autoridades angolanas defendem que foram os tribunais espanhóis que definiram a data de repatriação do corpo, enquanto analistas consideram que o MPLA e o atual presidente, João Lourenço, tiraram proveito político desse regresso.

“Se não houvesse aproveitamento político, não haveria tamanho empenho, tendo sido deslocada uma delegação do mais alto nível do Governo para negociar e exercer certa pressão [na Espanha]. Há relatos, inclusive, de tentativa de furto do cadáver para que fosse feita toda esta celebração antes das eleições. Se houve toda esta preocupação, é com o intuito de tirar algum tipo de proveito”, avalia Nelson Domingos.

A campanha eleitoral em Angola foi oficialmente encerrada à meia-noite desta segunda-feira (22), marcando a reta final para a quinta eleição geral da história do país.

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