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Angela Merkel comemora 15 anos no poder na Alemanha

A primeira-ministra se transformou em uma das líderes mais influentes do mundo

Foto: AFP.
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Quando foi eleita, há 15 anos, ninguém apostava na longevidade política de Angela Merkel. A filha de pastor protestante da Alemanha Oriental se transformou em uma das líderes mais influentes do mundo.

Angela Merkel foi eleita primeira-ministra pelo Bundestag, o Parlamento alemão, em 22 de novembro de 2005 por uma ampla maioria dos deputados. Foi a primeira vez, desde a fundação do Estado federal em 1849, que uma mulher ascendeu à chefia do governo. A escolha de uma nova chanceler originária da Alemanha Oriental representou um símbolo em um país reunificado depois de apenas 15 anos.

A carreira política de Merkel começou com a queda do Muro de Berlim. Ativa em um partido criado na decadente Alemanha Oriental, ela foi promovida porta-voz adjunta do primeiro-ministro do leste alemão, o único a ter sido eleito democraticamente.

Após a reunificação, ela assume o ministério da Juventude e posteriormente o do Meio Ambiente no governo de Helmut Kohl. Quando o ex-chanceler é vencido por Gerhard Schröeder, em 1998, Angela Merkel assume a secretaria-geral de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU). Em 2000, ela ascende à direção da CDU, em meio a denúncias de corrupção envolvendo Helmut Kohl.

Chamada de “menina” pelo ex-chanceler, Merkel se permite o que nenhum homem tinha ousado até então. Ela escreve um artigo afirmando que é necessário virar a página da era Kohl.

Para a CDU, uma legenda tradicionalmente masculina, conservadora, majoritariamente católica e da Alemanha ocidental, o texto de Merkel é uma revolução. Uma mulher do leste, filha de um pastor protestante, sem filhos, que tinha “regularizado” apenas recentemente sua união estável com seu companheiro, o discreto químico Joachim Sauer, toma as rédeas do partido. Na época, os caciques da CDU veem com ceticismo a novata, percebida como um ser “estranho” e uma solução transitória.

Como Angela Merkel não tem uma base forte no movimento, ela prefere, em 2002, deixar a direção da União Social-Cristã na Baviera (CSU) para competir pelo governo. Mas o adversário Edmond Stoiber é designado pelos conservadores e se aproxima da vitória.

Um recorde de longevidade política na Alemanha

Quando Angela Merkel é eleita chanceler três anos depois, ninguém poderia imaginar que ela igualaria em longevidade política o ex-primeiro-ministro Helmut Kohl, ficando 15 anos no poder durante quatro legislaturas. Também não se esperava que ela seria designada doze vezes a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes e como a última “defensora do mundo livre” depois da eleição de Donald Trump, há quatro anos. A chanceler trabalhou, em 15 anos, com quatro presidentes franceses diferentes. Joe Biden será o quarto mandatário americano com quem ela deve colaborar.

Qual é o balanço desses 15 anos? Se Helmut Kohl entrou para a história como um grande europeu e pai da reunificação, enquanto Gerhard Schröeder foi o mentor de importantes reformas sociais, é difícil encontrar um título para Angela Merkel.

Chanceler das crises

Angela Merkel foi a chanceler que evitou que seu país vivesse muitos sobressaltos durante as crises que enfrentou, como a financeira de 2008, que colocou a zona euro sob tensão. Nesta época, Merkel impôs seus talentos de negociadora e sua resistência em Bruxelas, mas a Alemanha não tem uma boa imagem internacional. O país é criticado por insistir em seus princípios de rigor, que fundaram seu modelo no pós-guerra, e por não ser empático com o sofrimento dos países do sul da Europa. Mas o acordo com Paris e posteriormente com outros parceiros para relançar o orçamento europeu e a mutualização das dívidas representou uma mudança histórica.

A chanceler também é a principal interlocutora entre a Europa e o Kremlim e promove ativamente as empresas alemãs na China.

Em todas as crises, Angela Merkel se transformou em um tipo de mãe da nação, como é apelidada por muitos. Seu estilo político é baseado na moderação, no diálogo, na negociação e no consenso. Apesar disso, ela conserva um jeito simples: se serve sozinha no bufê dos hotéis durante as cúpulas europeias e é vista fazendo compras em Berlim.

Decisões fortes e urgentes

Conhecida por amadurecer longamente suas reflexões, Merkel tomou uma decisão rápida sobre a saída da Alemanha do nuclear após a catástrofe de Fukushima, em 2011, e também no começo de 2015, quando acolheu milhares de refugiados sírios na Alemanha. Esta última decisão fez a chanceler perder uma parte de sua cota de popularidade. Mesmo que muitos reconheçam sua empatia e humanismo, não são poucos os que acham que ela levou o país à ruína, o que teria aberto espaço para o partido de extrema-direita AfD entrar no Parlamento alemão em 2017.

A Alemanha de 2020 é um país mais dividido do que em 2005. As manifestações que começaram em maio contra as medidas de combate à Covid-19, de uma violência até então inédita, refletem essa evolução. Mas graças também à pandemia, Merkel consegue manter níveis de popularidade espetaculares de 74%, apontados em uma pesquisa recente.

Em seus anos liderando a CDU, Merkel também fez mudanças importantes no partido, promovendo o trabalho das mulheres, incluindo o tema da imigração em suas pautas e abrindo espaço para homossexuais.

A chanceler já anunciou que não será candidata nas eleições do próximo ano, deixando o poder em setembro de 2021. O fato de muitos perguntarem se esta decisão é irrevogável, parece um presságio de que a líder vai deixar saudades.

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