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Alemanha estatiza gigante de energia por € 29 bi, em maior resgate desde a crise de 2008

Uniper foi duramente afetada por corte no fornecimento russo após Guerra na Ucrânia. Empresa atende centenas de municípios alemães

Alemanha estatiza gigante de energia por € 29 bi, em maior resgate desde a crise de 2008
Alemanha estatiza gigante de energia por € 29 bi, em maior resgate desde a crise de 2008
Foto: Ina FASSBENDER / AFP
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A Alemanha vai estatizar a gigante de energia Uniper, sufocada pelos cortes no fornecimento de gás russo, em um acordo que eleva o custo do resgate da concessionária para € 29 bilhões depois que ela chegou à beira da insolvência após a invasão da Ucrânia pela Rússia. A empresa fornece gás para centenas de municípios alemães.

“O governo assumirá cerca de 99% da Uniper”, disse o Ministério da Economia alemão em comunicado. “A Uniper é um pilar central do fornecimento de energia alemão”, acrescentou para justificar a intervenção.

Este é o maior resgate corporativo na Alemanha desde a crise financeira global em 2008, quando o governo forneceu uma salvação de € 480 bilhões ao setor bancário.

O acordo substitui um plano de ajuda inicial divulgado em julho, segundo o qual o governo alemão teria uma participação de 30% no grupo. De acordo com o jornal britânico Financial Times, a Alemanha agora está “comprando” completamente o grupo finlandês Fortum, proprietária anterior da Uniper, por cerca € 480 milhões. Berlim também assumirá uma linha de crédito de € 7,5 bilhões anteriormente fornecida pela empresa finlandesa de energia à Uniper.

Ao mesmo tempo, o governo recapitalizará a empresa em dificuldades com € 8 bilhões, disse o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, nesta quarta-feira. A medida vem em cima de uma linha de crédito do governo de € 13 bilhões que já foi fornecida à Uniper este ano.

Nas atuais circunstâncias do mercado energético europeu, e reconhecendo a gravidade da situação da Uniper, este desinvestimento da Uniper é o passo certo, não só para a Uniper, mas também para a Fortum – disse Markus Rauramo, presidente do grupo finlandês.

Rauramo acrescentou que “o papel do gás na Europa mudou desde que a Rússia atacou a Ucrânia, e as perspectivas para um portfólio intensivo em gás também mudaram”, inviabilizando a participação da Uniper nesse mercado.

Antes da guerra na Ucrânia, a Uniper era o principal cliente da gigante russa Gazprom na Alemanha e estava adquirindo metade de todas as importações de gás alemãs. Para cumprir seus contratos, ela agora teria que buscar o gás no mercado spot, onde os preços dispararam.

Os formuladores de políticas temiam que seu fracasso desencadeasse um colapso no fornecimento de gás e um caos econômico na maior economia da Europa.

A situação piorou quando a Gazprom fechou temporariamente seu gasoduto Nord Stream 1, o principal fornecedor de gás russo para a Alemanha, no início de setembro.

O presidente-executivo da Uniper, Klaus-Dieter Maubach, disse nesta quarta-feira que o acordo com o governo alemão permitiu que a concessionária “cumprisse nosso papel como fornecedor de energia crítica para o sistema”.

O aumento de capital de € 8 bilhões subscrito pelo governo alemão terá um desconto de 65% em relação ao preço de fechamento das ações da Uniper na terça-feira. As ações da Uniper caíram quase 90% desde a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro.

Na sexta-feira passada, o governo alemão anunciou que assumiu o controle de três refinarias do grupo petrolífero russo Rosneft em seu território para garantir seu funcionamento quando entrar em vigor, em dezembro, o embargo total às compras de petróleo russo determinado pela União Europeia (UE).

Dependência do gás russo

Berlim alertou nos últimos meses sobre o “efeito Lehman Brothers” que uma falência da Uniper teria nos mercados de energia. Dada a importância da Uniper, seu colapso abalaria o mercado e causaria falta de energia para seus milhares de clientes.

O governo alemão também entrou em negociações com outro fornecedor de gás, a VNG, em setembro sobre um possível pacote de ajuda.

A invasão russa da Ucrânia provocou um terremoto no mercado de energia europeu, intensificando a pressão sobre os fornecedores e aumentando os temores de possíveis desabastecimentos durante o inverno.

A Alemanha estava particularmente exposta a esta situação devido à sua elevada dependência das importações de energia de Moscou.

Desde o início da guerra, Berlim tem lutado para se livrar do gás russo e garantir suprimentos alternativos.

As autoridades assumiram os principais componentes da infraestrutura energética que estavam nas mãos das empresas de energia russas e ordenaram o preenchimento de depósitos de gás.

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