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Alemanha e França vão “bloquear plano de David Cameron de um novo tratado europeu”

Países pesos-pesados ignoram planos para desarmar a guerra civil do Partido Conservador sobre a Europa

Angela Merkel. Foto: David Ebener / DPA / AFP
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Por Toby Helm, editor de política

O “grande plano” de David Cameron para desarmar a guerra civil dos conservadores sobre a Europa, conquistando de volta poderes cedidos à União Europeia, foi posto em dúvida depois que a Alemanha disse que preferia solucionar os problemas da Zona do Euro sem um novo tratado europeu.

Em um golpe ao primeiro-ministro, que prometeu renegociar a participação do Reino Unido antes de convocar um referendo sobre entrada/saída em 2017, a Alemanha e a França agora se declaram contra uma nova abertura do livro de regras da UE na escala de tempo imaginada por Cameron.

Em seu discurso sobre a Europa em janeiro, Cameron disse acreditar que a “melhor maneira” de garantir as “mudanças necessárias para o futuro em longo prazo do euro e para reforçar a Europa diversificada, competitiva, democraticamente responsável que pretendemos” seria através de um novo tratado. Se esse processo fosse empreendido, todos os países membros poderiam apresentar suas demandas de mudanças no funcionamento da UE.

O Reino Unido poderia exercer uma forte alavancagem brandindo a ameaça de um veto, a menos que ganhasse o direito de um relacionamento mais frouxo em áreas como políticas sociais e justiça. Mas desde que ouviram a proposta de Cameron a Alemanha e a França se declararam firmemente contra o que elas acreditam que seria uma negociação interminável e extremamente complexa entre os 27 países membros, que elas temem que faria os membros gastarem muito tempo debatendo preocupações do Reino Unido.

Um porta-voz do governo alemão deixou claro que, enquanto Berlim apoiaria as mudanças que considerasse necessárias no tratado, acha que seria melhor evitar um processo certamente demorado. “Queremos conquistar uma Zona do Euro funcional, eficiente e próspera”, ele disse. “Para isso, iniciamos um processo com nossos parceiros para concordarmos sobre os passos necessários para alcançar esse objetivo. Se esses passos não puderem ser realizados sem uma mudança de tratado, nós aceitaremos. Se esses passos forem alcançados dentro do quadro existente do tratado, tanto melhor. Vai nos poupar muito tempo.”

Berlim e Paris, em mais um sinal de irritação diante da abordagem do Reino Unido, desprezaram a oferta para participar de uma troca de opiniões com o Ministério do Exterior britânico sobre se alguns poderes da UE deveriam ser devolvidos aos países membros como parte de uma “revisão de competências”, segundo se soube na semana passada. Charles Grant, diretor do Centro para Reforma Europeia, grupo politicamente independente, que manteve conversações com autoridades graduadas de Berlim e Paris nas últimas semanas, disse que “não há possibilidade” de um novo tratado europeu em tempo para Cameron realizar um referendo em 2017, mesmo que ele continuasse sendo o primeiro-ministro.

“Os franceses e os alemães esfriaram sobre a ideia de reescrever os tratados, por quatro motivos”, disse Grant. “Um: eles querem silenciar as armas de Cameron e lhe negar a alavancagem que um grande novo tratado daria aos britânicos. Dois: apesar de a Zona do Euro ainda ter muitos problemas, eles acham que as possibilidades de ruptura são mínimas, por isso não há necessidade de um salto drástico à frente para algum tipo de ‘união política’.

“Três: embora retoricamente muitos alemães prefiram um futuro federal, quando eles pensam no que isso significaria na prática — transferências financeiras para o sul — têm calafrios e preferem a situação atual. E quatro: muitos países — sobretudo a França — temem as dificuldades de ratificar um novo tratado. Alguns, como a Irlanda e talvez a França, teriam de realizar referendos.”

Grant disse que a Alemanha apoia uma mudança de tratado limitada que permitisse uma punição aos países membros que descumpriram as promessas de reforma. Mas estava claro que os franceses não aprovariam essas mudanças a menos que a Alemanha aceitasse um orçamento da zona do euro ou a mutualização das dívidas da zona, os quais lhe custariam dinheiro, tornando-se altamente improváveis.

Grant acrescentou: “Mesmo que houvesse uma medida para emendar um ou dois artigos, o Reino Unido não obteria vantagem: os parceiros da Grã-Bretanha poderiam contornar um veto como fizeram com o tratado do ‘pacto fiscal’ no ano passado, que foi negociado fora do quadro da UE”.

Fontes do governo britânico disseram que o primeiro-ministro ainda acredita que poderá obter um acordo melhor para o Reino Unido, com ou sem um novo tratado.

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