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‘Ainda falta muito’, lamentam parentes de vítimas de feminicídio na Argentina

Na praça dos dois Congressos, cerca de 150 pares de sapatos, sandálias e botas pintados de lilás, evocam as mulheres assassinadas, em muitos casos ainda à espera de justiça

Foto: Reprodução
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“Quiseram nos enterrar, mas não sabiam que éramos sementes”, diz uma faixa pendurada em frente ao Congresso argentino, em um dia de manifestação contra os feminicídios e a violência de gênero, sete anos após a primeira passeata sob o lema “Nem Uma a Menos”.

Na praça dos dois Congressos, cerca de 150 pares de sapatos, sandálias e botas pintados de lilás – cor da luta feminista – evocam as mulheres assassinadas, em muitos casos ainda à espera de justiça. “Os sapatos vazios representam o vazio que deixaram em nossas vidas”, explicou à AFP Marcela Morera, 52, uma das fundadoras da organização Famílias Atravessadas pelo Feminicídio.

O movimento ‘Nem Uma a Menos’ nasceu em 3 de junho de 2015, quando dezenas de milhares de mulheres foram às ruas exigir justiça pelo feminicídio da adolescente Chiara Páez, que estava grávida e foi assassinada por seu namorado, condenado a 21 anos de prisão.

‘Estão nos matando’

Neste ano, renovou-se o pedido de justiça, bem como de cumprimento de leis de proteção das vítimas e de formação de funcionários em perspectiva de gênero, cuja aplicação ainda apresenta deficiências, segundo as vítimas. 

Em 2021 foram cometidos 251 feminicídios na Argentina, o que representa um a cada 34 horas ou dois a cada três dias, segundo o registro nacional realizado pelo Gabinete da Mulher da Suprema Corte de Justiça. Um total de 81% dos casos ocorreram em contextos de violência doméstica e 62% foram cometidos pelo companheiro ou ex-companheiro, segundo o relatório. 

O número de vítimas mostra uma queda de 13% em relação a 2020, quando foram registrados 287 casos, e foi o menor desde o início do registro, em 2015. Essa redução “reflete o impacto das políticas públicas em matéria de gênero e diversidade”, tuitou o presidente Alberto Fernández, que recebeu nesta sexta-feira um grupo de familiares de vítimas de feminicídios.

Desde 2015, quando começou a contagem, foram registrados cerca de 2.000 feminicídios.

‘Incêndio’

Muitas famílias de vítimas enfrentam dificuldade para fazerem valer seus direitos e, sobretudo, o dos filhos dessas mulheres, que, às vezes, ficam nas mãos do agressor ou não recebem o auxílio adequado, disse à AFP Eva Domínguez, 58, que precisou recorrer à Comissão Interamericana de Direitos Humanos pelo feminicídio de sua cunhada, Vanesa Celma, ocorrido em Santa Fé em 2010.

O assassino continua livre. “A causa foi classificada como incêndio, como se ela fosse uma mesa, uma coisa”, lembrou Eva, afirmando que os policiais e promotores mandaram limpar a cena do crime, que nunca foi investigado.

Apenas seis anos depois, conseguiu mudar a classificação para “investigação da morte”, mas, antes de arquivar o caso, “a promotora me disse que Vanesa morreu por amor”, denunciou.

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