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Abordagem para aliviar a pobreza global leva Nobel de Economia 2019

Em meio século da história econômica do Nobel, Esther Duflo, 46 anos, é apenas a segunda mulher a receber o prêmio

A segunda mulher a ganhar um Nobel de Economia na história, Esther Duflo. (Foto: Miguel RIOPA / AFP)
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A francesa Esther Duflo, o indiano Abhijit Banerjee e o americano Michael Kremer são os vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2019 por seus trabalhos sobre a pobreza. O trio foi premiado “por sua abordagem experimental para aliviar a pobreza global”, afirmou o júri da Academia Real de Ciências da Suécia nesta segunda-feira 14. Duflo e Banerjee são casados, têm um filho, e tornaram-se cidadãos americanos.

“As pesquisas pelos laureados deste ano melhoraram consideravelmente nossa capacidade a lutar contra a pobreza no mundo. Em duas décadas, a experiência dos premiados transformou a economia do desenvolvimento, que agora é uma área da pesquisa que está florescendo”, escreveu o comitê do Nobel em seu comunicado. Duflo e Banerjee dão aulas no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Kremer é professor em Harvard.

Em meio século da história econômica do Nobel, Duflo, 46 anos, é apenas a segunda mulher a receber essa distinção. Ela vibrou com a conquista: “Sinto-me muito honrada. Para ser honesta, nunca pensei que fosse possível ganhar um Nobel sendo tão jovem”.

Cerca de 700 milhões de pessoas ainda vivem em situação de extrema pobreza. “Apesar das melhorias recentes, um dos maiores desafios da humanidade continua sendo a redução da pobreza no mundo, em todas as suas formas”, destacou a academia sueca.

Francesa integrou equipe de Obama

Duflo emergiu nos últimos anos como uma das economistas mais brilhantes de sua geração. Antes mesmo de receber o Nobel, ela já era considerada uma das estudiosas mais célebres do mundo em sua área, sobretudo nos Estados Unidos.

Seus estudos empíricos sobre a pobreza foram agraciados com prêmios de prestígio, como a Medalha John Bates Clark, em 2010. Essa distinção, que recompensa o trabalho de economistas nos Estados Unidos com menos de 40 anos, também foi concedida a outros pesquisadores de renome consagrados posteriormente com o Nobel, como Joseph Stiglitz, Paul Samuelson, Milton Friedman, James Tobin e Paul Krugman.

O trabalho de Duflo, realizado principalmente na Índia, a levou em 2013 a ser escolhida pela Casa Branca para aconselhar o presidente Barack Obama em questões de desenvolvimento. Ela fez parte do Comitê para o Desenvolvimento Global. Celebrada pela imprensa americana, Duflo recebeu em 2010 um perfil de dez páginas na revista New Yorker, numa edição dedicada aos talentos inovadores de nossa época.

Defesa da redistribuição

“É uma intelectual francesa de centro-esquerda que acredita na redistribuição de renda e na noção otimista de que o amanhã pode ser melhor que hoje”, escreveu a New Yorker nove anos atrás, apontando Duflo na origem de uma nova tendência acadêmica.

A sensibilidade para lidar com o tema da pobreza vem de sua educação. Nascida em Paris em 1972, em uma família protestante, Duflo é filha de uma médica pediatra, que sempre atuou no meio humanitário, e pai matemático, professor e pesquisador universitário. Com frequência, ela se refere à mãe como “um modelo”.

Duflo é graduada pela Escola Normal Superior e pela Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris. Ela também possui um doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, onde trabalha até hoje. No Laboratório de Pesquisa Abdul Latif Jameel sobre Alívio à Pobreza, que ela co-fundou em 2003 e lidera, seu trabalho é baseado em experiências de campo em parceria com organizações não governamentais.

“Caricaturas e clichês”

Além de suas funções no MIT, essa fã de alpinismo também foi a primeira titular de uma cadeira no Collège de France, prestigioso estabelecimento de ensino e pesquisa francês, lecionando a disciplina “Conhecimento contra a pobreza”. Seu livro “Repensando a Pobreza”, em coautoria com Banerjee, recebeu o prêmio de melhor livro de economia do ano de 2011, concedido pelo jornal Financial Times e o banco Goldman Sachs.

“Nossa visão da pobreza é dominada por caricaturas e clichês: os pobres preguiçosos, os pobres empresários, os pobres famintos”, explicou ela em entrevista à AFP. “Se queremos entender os problemas da pobreza, temos que ir além dessas caricaturas e entender por que o fato de ser pobre muda algumas coisas no comportamento e outras não.”

Este esforço para mudar a percepção de pobreza, ela também gostaria de aplicá-lo para analisar a economia e os economistas. “Os economistas têm uma péssima reputação e parte dessa má reputação provavelmente se justifica, dada a maneira como a disciplina funciona”, explicou ela no início de 2019 em entrevista à rádio France Inter.

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