Mundo

A política externa brasileira e a multipolaridade

Em palestra a alunos e professores do curso de Relações Internacionais da FAAP, o ex-chanceler Celso Amorim defendeu a sua atuação como ministro das Relações Exteriores no governo Lula

O ex-chanceler Celso Amorim durante palestra na terça-feira 24 na FAAP, em São Paulo
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Uma atuação multilateral da política externa brasileira é a principal proposta defendida pelo ex-ministro das Relações Exteriores durante os dois mandatos do presidente Lula, o diplomata Celso Amorim. Durante o período como chanceler (2003 a 2010), Amorim ajudou a protagonizar momentos significativos da diplomacia recente brasileira. “O Brasil mostrou que tinha condições de trabalhar pela paz e pela multipolaridade, pela possibilidade de uma ordem política e econômica não hegemônica.”

Os principais momentos da atuação de Amorim foram escolhidos para as narrativas de “Teerã, Ramalá e Doha, memórias da política externa ativa e altiva”, livro lançado pelo diplomata nesta semana, no qual analisa e esclarece três momentos chave de sua atuação, muito criticados pela impressa à época em que ocorreram.

Na terça-feira 24, a uma plateia composta principalmente por alunos e professores da graduação e especialização em Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) em São Paulo, o ex-ministro alegou que os “fracassos” apontados pela mídia, na verdade, se constituem em momentos inéditos nos quais o Brasil articulou e mediou problemáticas como a política de subsídios imposta pelos EUA e a União Europeia ou a conciliação dos interesses norte-americanos e iranianos na questão nuclear. “Eu não acho que foram fracassos. A Declaração de Teerã, por exemplo, mostrou que um acordo era possível. Antes, todos diziam que o Irã não negociava, que o Irã enganava”, afirmou o diplomata.

Amorim reforçou que negociações com países como o Irã se fazem necessárias, ainda que o senso comum questione aproximações como essa. “Foi um gesto de grande ousadia. Veja, hoje em dia, na luta contra o Estado Islâmico, como o Irã é essencial. Até, talvez, umas das motivações para o presidente Obama retomar as negociações”, explicou. “Não tem como ter paz no Oriente Médio se o Irã não quiser, você pode gostar ou não gostar.”

No caso da rodada Doha, um outro cenário explorado no livro, na qual o Brasil, em 2008, liderou um grupo de países interessados e negociar e enfraquecer a política de subsídios dominante, Amorim também é enfático. “O que existia na OMC era um quadro representado por EUA, União Europeia, Japão e Canadá, que decidia as coisas às portas fechadas. E nós conseguimos criar um grupo ‘G20’ e alterar a lógica das negociações.” Os três casos narrados no livro, segundo Amorim, têm contextos específicos mas fazem entender certos aspectos comuns das relações exteriores. “O Brasil passou a ser cortejado.”

A nova postura brasileira visava, segundo o ex-chanceler, ampliar a capacidade de negociação também de outros países. “Nós tínhamos uma grande preocupação em manter a América do Sul unida conosco. Quando fomos à Índia, levamos o representante do Mercosul, que era argentino. Para sempre mostrar que não queríamos fazer uma política só brasileira”, concluiu.

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