Caía um temporal quando cheguei ao Finsbury Park na terça-feira 31, fato que, dada a dubiedade da minha missão, só serviu para me deixar ainda mais furtiva. Todo mundo corria para todo lado no meio da chuva, na tentativa de fazer as compras, pegar o ônibus ou recolher os filhos, mas eu estava ali, em fuga do trabalho, com a intenção de passar o resto da tarde a assistir um filme sobre a rainha. Haveria alguém além de mim na sessão das 16 horas do documentário do falecido Roger Michell, Elizabeth: A Portrait in Parts (Elizabeth: Um Retrato em Partes), num cinema novo e brilhante em uma das partes mais diversificadas e visivelmente livres de bandeiras de Londres? Imaginei algumas aposentadas com as bolsas no colo, mas mesmo elas pareciam uma perspectiva improvável.
Com certeza, eu compunha exatamente a metade do público naquela tarde, os outros 50% eram uma jovem que parecia quase tão esquiva quanto eu. Mas então o filme começou, e todas essas coisas – frieza, cinismo, a sensação de que hoje em dia no Reino Unido é quase um dever ser republicano – desapareceram. O filme de Michell, bem na moda, não tem narradores. Não há biógrafos da realeza a tagarelar, nem correspondentes da realeza ansiosos a fingir que sabem mais do que sabem.
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