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A desconfiança internacional sobre a ajuda humanitária na Faixa de Gaza

O enclave palestino registrou mortes de pessoas que buscam ajuda em meio a ataques

A desconfiança internacional sobre a ajuda humanitária na Faixa de Gaza
A desconfiança internacional sobre a ajuda humanitária na Faixa de Gaza
Palestinos disputam pequenas porções de comida em Gaza, devastada pela guerra e pelo bloqueio israelense. Foto: Omar AL-QATTAA / AFP
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“É difícil explicar o grau de indiferença e omissão que temos testemunhado. Há ausência de compaixão, de verdade e de humanidade”. Com essas palavras, o secretário-geral da ONU, António Guterres, resumiu o clima entre os líderes internacionais diante da crise humanitária que se aprofunda na Faixa de Gaza.

O comentário ocorreu na assembleia da Anistia Internacional, na qual Guterres denunciou a falta de respostas efetivas da comunidade internacional à tragédia que se alastra no enclave palestino.

Nesse contexto, um suposto impulso israelense para ajudar a região devastada pelas tropas de Benjamin Netanyahu é encarado com precaução. Neste fim de semana, as Forças de Defesa de Israel divulgaram imagens de um lançamento aéreo de pacotes com alimentos na região. 

Segundo a versão israelense, a medida integra um esforço coordenado com agências internacionais para facilitar a chegada de ajuda à população civil. De acordo com o comunicado oficial, sete cargas com farinha, açúcar e enlatados foram lançadas do alto, sob a liderança do COGAT — órgão militar israelense responsável pela coordenação dos territórios palestinos.

Pouco antes de anunciar uma pausa de dez horas em sua ofensiva militar no domingo 27, Israel publicou fotos e vídeos da operação humanitária, prometendo ainda “corredores seguros” para entrega de suprimentos. A medida, no entanto, foi rapidamente classificada pelo Hamas como “enganação” — uma tentativa, segundo o grupo, de maquiar a imagem de Israel no cenário internacional.

Pressão internacional

O episódio acontece em meio à crescente pressão internacional. Diversos países europeus passaram a definir a situação em Gaza como uma “catástrofe humanitária” e exigiram o respeito às normas do direito humanitário internacional.

Nesta segunda-feira 28, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também se pronunciou. Em viagem à Escócia, disse que os EUA financiarão a criação de “centros de alimentação” na Faixa de Gaza. A iniciativa, segundo o magnata, contará com o apoio de aliados internacionais e buscará atender às necessidades urgentes da população. 

Poucos dias atrás, contudo, Israel promoveu mais um ataque aéreo durante a chamada “pausa tática”. Entre os mortos estão uma mulher, Wafaa Harara, e seus quatro filhos: Sara, Areej, Judy e Iyad. 

Apesar das afirmações de que não impõe barreiras à entrada de ajuda humanitária, Tel Aviv vê suas justificativas cada vez mais isoladas. ONU, agências humanitárias e parceiros históricos de Israel no Ocidente indicam que a realidade em Gaza aponta o contrário.

O tamanho da crise

Dados da ONU e de agências humanitárias – bem como de órgãos de Gaza e de Israel – mostram que a devastação humanitária é vertiginosa. Segundo o Ministério da Saúde local, administrado pelo Hamas, mais de 59 mil palestinos morreram desde o início da guerra, deflagrada após o ataque do grupo extremista ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023 — que deixou 1.200 mortos e 251 reféns. Desde então, estima-se que mais de 90% das moradias tenham sido destruídas ou gravemente danificadas. A população tem sido forçada a se deslocar sucessivamente em busca de segurança e alimentos.

Em um esforço paralelo ao da ONU, uma fundação financiada por Israel e Estados Unidos — a Gaza Humanitarian Foundation (GHF) — iniciou uma distribuição independente de suprimentos. Mas as pessoas que buscam essa ajuda não estão longe dos perigos da guerra: mais de mil palestinos teriam morrido tentando obter os alimentos desde o fim de maio.

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