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9 militares são acusados no Uruguai por caso emblemático da ditadura

A acusação se deve à tortura e à morte do médico Vladimir Roslik, há quase 40 anos

Protesto pela responsabilização de agentes da ditadura, em Montevidéu, em 2013. Foto: AFP
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Nove militares foram acusados no Uruguai pela tortura e pela morte do médico Vladimir Roslik, há quase 40 anos, um caso emblemático da última ditadura civil-militar (1973-1985).

Daniel Castellá, Sergio Caubarrere, Rodolfo Costas, Luis Estebenet, Abel Pérez, Roberto Ramírez, Oscar Rocca, Eduardo Saiz e Jorge Soloviy foram acusados na quarta-feira 4 em uma audiência em Fray Bentos, departamento de Río Negro, 300 quilômetros ao noroeste de Montevideu.

A juíza Selva Siri formalizou as acusações contra eles por “reiterados crimes de privação de liberdade, abuso de autoridade contra os detidos e lesões graves”, disse à AFP o promotor especializado em Crimes de Lesa Humanidade Ricardo Perciballe.

Para todos eles, a juíza recorreu a medidas cautelares, entre elas prisão domiciliar, uso de tornozeleiras, apresentação ante a polícia uma vez por semana e proibição de sair do país.

Roslik, um médico de San Javier, uma comunidade de origem russa situada 90 quilômetros ao norte de Fray Bentos, morreu de forma violenta em 16 de abril de 1984 no Batalhão da Infantaria Nº9 de Río Negro, após ter sido sequestrado um dia antes em sua casa durante uma operação militar.

“Os militares consideravam San Javier um foco de comunismo, tráfico e armas. Por sua origem russa, Roslik havia estudado medicina na União Soviética, mas nossa investigação não sugere que estivesse envolvido com atividade política”, apontou Perciballe.

O promotor havia pedido a formalização da investigação para outros militares suspeitos de estarem envolvidos no caso: Heber Calvetti, Alberto Loitey e Dardo Ivo Morales. Desses, Loitey faleceu, Calvetti não participou por estar doente e Morales não foi acusado.

“Em relação a Morales, a juíza entendeu que como tem outro processo anterior não poderia ser julgado”, explicou Perciballe, que, no entanto, já entrou com recurso contra a decisão.

Morales, que “interrogava” Roslik quando ocorreu a morte por restrições físicas, foi processado no mês passado por Siri em outro caso de tortura durante a ditadura e indiciado por uma denúncia apresentada pela professora Susana Zanoniani, também de San Javier.

Nesta quinta-feira, Javier García, ministro da Defesa do governo de centro-direita de Luis Lacalle Pou, recordou que Castellá havia sido “destituído” pelo governo anterior da esquerdista Frente Ampla como presidente do Supremo Tribunal Militar.

“Pedimos (em 2021) imediatamente a renúncia ao cargo (do agora acusado). Não podia presidir a Justiça Militar quem havia participado do ‘interrogatório’ do doutor Roslik”, declarou García a jornalistas.

Em 1984, em meio ao processo com o objetivo de recuperar a institucionalidade democrática no país, o caso Roslik gerou forte impacto. A Justiça Militar condenou à época Cubarrere, apontado como responsável pela operação, por abuso de autoridade e homicídio doloso. Ficou preso por quatro meses e 18 dias, segundo o Sitios de Memoria Uruguay.

A Promotoria de Lesa Humanidade solicitou a reabertura do caso Roslik em 2018, a pedido da viúva do médico, Mary Zavalkin, e do filho de ambos, Valery.

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