Durante 60 horas, Baris Yapar tentou resgatar os corpos de seus avós dos escombros da casa deles. Com seus pais, Habip e Sevcan, o estudante de Psicologia Clínica de 27 anos tentou em vão remover os cadáveres. Foi um trabalho desesperado. Demorou dois dias inteiros após o devastador terremoto duplo da segunda-feira 6, antes que a agência oficial de socorro da Turquia chegasse à cidade de Samandag, perto da fronteira com a Síria. Quando, finalmente, a ajuda chegou, o pequeno número de socorristas estava esgotado.
Os Yapar observaram as equipes de resgate retirarem do concreto pesado pessoas que a família conhecia há gerações. Lá estava Semire Zubari, dono do mercado local, onde eles faziam compras há anos, e o corpo de Gonul Sakalli, que Baris conhecia desde criança. Então, ele viu o corpo do filho de Semire, Hasan, seu amigo de infância. “Não havia mais carros para levá-lo ao necrotério”, disse. “O único veículo que restou foi uma escavadeira. Observei enquanto eles colocavam meu amigo de infância na frente da escavadeira para levá-lo ao necrotério. Ver aquilo, ver esses extremos, me destruiu. Eu me perguntei: não temos mais sequer a dignidade de carregar nossos cadáveres adequadamente para o necrotério?”
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