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1º de maio em Paris termina em confronto entre polícia e manifestantes

O esquema de segurança para enquadrar o desfile foi inédito, com 7,4 mil policiais nas ruas da capital

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A atuação de manifestantes violentos, os chamados black blocs, perturbou o tradicional desfile de 1º de Maio em Paris, nesta quarta-feira 1. Apesar de lamentarem os danos que a violência provocam à imagem dos protestos, os “coletes amarelos” e os sindicalistas defendem o direito de todos se manifestar.

Na esplanada de Montparnasse, de onde partia a marcha, eles estavam por todos os lados: jovens vestidos de preto dos pés à cabeça, com lenços ou máscaras cobrindo o rosto e óculos de esqui para proteger os olhos, à espera dos primeiros jatos de gás lacrimogêneo disparados pela polícia. Sem qualquer dificuldade, eles se misturaram aos “coletes amarelos”, sindicalistas e trabalhadores que foram às ruas neste Dia do Trabalho atípico.

 

Manifestantes reunidos na Esplanada. Foto: Arthur Costa

Os serviços de inteligência franceses tinham antecipado que entre 1 mil e 2 mil manifestantes violentos estariam presentes. O esquema de segurança para enquadrar o desfile foi inédito, com 7,4 mil policiais nas ruas da capital. Ainda assim, o protesto mal começou e já foi atrapalhado pelos black blocs, que tentaram atacar o restaurante La Rotonde, onde o presidente Emmanuel Macron comemorou a eleição, há dois anos.

“Todos têm direito de manifestar”, pondera Christophe Touzé, representante do sindicato CGT Intérim. “O que me incomoda que eles quebrem tudo é que, depois, a imprensa só vai falar da violência e esquecer de relatar as nossas reivindicações justas do Dia do Trabalho”, argumenta, ao defender o salário mínimo de € 1,8 mil e a carga semanal de trabalho de 32 horas.

Black bloc francês. Foto: Arthur Costa

Raiva “compreensível”

Do lado dos “coletes amarelos”, o desconforto em relação aos black blocs é o mesmo, já que, desde o princípio, o movimento acabou associado à violência devido à quebradeira provocada pelos jovens de preto ao final de cada manifestação. Porém, apesar das críticas ao modo de ação, os manifestantes respeitam o direito deles de estar nas ruas contra o governo. “Os ricos dão facilmente € 1 bilhão de para reconstruir a catedral Notre-Dame. E o povo? Eles não estão nem aí para o povo”, explica a aposentada Sophie, de 59 anos. “Compreendo que alguns tenham tanta raiva disso que queiram quebrar tudo, embora não concorde.”

“O 1º de Maio é a festa do trabalho e todos têm direito de manifestar”, reitera o ex-professor Philippe, “colete amarelo desde sempre e aposentado”. “Não somos a favor das degradações, mas cabe ao governo evitá-las. Os black blocs estão logo ali à frente e onde está a polícia? Esperando que eles comecem a vandalizar”, critica Philippe. “O que mais me incomoda é que, na imprensa, sempre associam a violência aos ‘coletes amarelos’, mas nós somos pacifistas. Olhe para mim e me diga se eu sou violento”, ressalta o parisiense, de 63 anos.

Manifestante pedindo calma em frente aos policiais. Foto: Arthur Costa

Sobrou até para Bolsonaro

O manifestante Paul carregava um cartaz com fotos dos presidentes da França, Emmanuel Macron, dos Estados Unidos, Donald Trump, da Coreia do Norte, Kim Jong Un, e até do brasileiro Jair Bolsonaro. “São eles os assassinos”, desconversou, ao ser questionado sobre a presença de black blocs a poucos metros. Paul apontou para o cartaz e continuou: “Bolsonaro é um autoritário de extrema direita. Ele quer destruir a floresta amazônica e os índios, e isso é o verdadeiro crime, para mim”, argumentou.

Já a “colete amarelo” Odile, uma senhora idosa, diz estar cansada dos participantes indesejados nos protestos. Ela tentou, em vão, convencer um grupo de jovens a parar de atirar objetos contra a polícia – e ainda foi insultada. “Não quero mais eles por aqui. O grupo de ‘coletes amarelos’ é desconsiderado há cinco meses e não conseguimos marcar nenhum ponto por causa deles”, reclamou.

Bombas de gás são jogadas contra manifestantes. Foto: Arthur Costa

Os confrontos entre black blocs e a polícia se perpetuaram até o fim do desfile em Paris, na Praça da Itália e arredores. Pelo menos 200 pessoas foram detidas, das quais 148 permaneceram presas para averiguações, conforme indicaram o Ministério do Interior e a Procuradoria.

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