3ª Turma

Quando as contas não fecham mais eles investem na barbárie

É tempo de rumar em busca de acertos que poderão não apenas ditar o nosso futuro, mas garantir que o teremos. 

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“Os limites do capital para serem suprimidos sempre exigiram destruições catastróficas, nem que isso custe a continuidade da vida humana na terra. Esta é a grande contradição deste tempo.” 

– Marildo Menegat

O Brasil está em alta nas análises a respeito da ascensão da extrema direita, não “apenas” por causa do resultado das eleições presidenciais de 2018, mas também por causa do assassinato da vereadora Marielle Franco, pelo autoexílio do ex-deputado Jean Wyllys devido estar recebendo ameaças de morte.

Além disso, está em alta também pelos escândalos da #VazaJato, pelo aumento de 76% dos casos de feminicídio só no primeiro trimestre de 2019, pelo aumento de 18% do número de mortos pela polícia, pelo número – 726 mil – assustador da população carcerária brasileira, pelo fato do presidente do país dizer que só não apresenta um projeto para descriminalizar o trabalho infantil porque seria “massacrado”, a criminalização de movimentos por moradia, governador defendendo execução sumária e pena de morte com tiro na cabecinha, etc.

Enfim, a lista é longa e esse é um rol apenas exemplificativo do cenário de barbárie.

Mas, vejam, é importante falarmos da ascensão mundial da extrema direita, que em cada país tem se apresentado de forma diferente.

Na Itália, por exemplo, país onde o fascismo foi gestado por Mussolini, tem, atualmente, um vice-primeiro ministro da extrema-direita, Matteo Salvini. Não teve “Bella, ciao” que desse jeito. 

Salvini lidera a Lega Nord, fazendo várias publicações xenofóbicas em redes sociais, além de chamar comunistas de viciados. É praticamente um Carluxo italiano (ou o Carluxo é um Salvini brasileiro).

Portanto, o Brasil, periferia do mundo, não está sozinho na escolha de seus líderes da extrema direita. O discurso de que o Brasil está passando vergonha diante do mundo é um tanto quanto viralatista, precisamos reconhecer. 

“Ah, mas a Itália é um país pobre. Um dos mais pobres da Europa!”. Mas, vejam, a Suíça não é. A antiga Confederação Helvética está lá com sua União Democrática do Centro, a UDC, sendo bastante xenofóbica, racista, islamofóbica, que são características também de partidos com raiz fascista, em que pese a UDC não tenha essa raiz. 

Não é o Brasil que está passando uma vergonha mundial, é o mundo que está caminhando a passos largos para cometer mais um dos maiores crimes contra a humanidade, isso para quem não considera o genocídio do povo negro no Brasil como crime contra a humanidade em curso, sem falar nos bombardeios contra o povo Palestino, o desprezo de vários países com as vidas de refugiados,  os campos de concentração estadunidenses, entre tantas outras atrocidades que temos notícia.

Diálogo do capital com o mundo na atualidade: a barbárie em níveis inimagináveis

A atual fase da crise econômica alcançou o Brasil. Pois é. “Mas se gerassem emprego isso não estaria acontecendo!”. Também acho, mas essa é uma das contradições do capital. Vejam como idolatram o progresso tecnológico que substitui gente por máquinas, por inteligência artificial. 

Se estão demitindo pessoas para substitui-las por robôs, quem vai receber salário para comprar as mercadorias que esses robôs estão produzindo? Essa é apenas uma das várias contas que não fecham.  

O professor e filósofo Marildo Menegat, em sua teoria crítica da economia política da barbárie, faz a conta e diz que “a humanidade não cabe mais nos cálculos da economia”, explicando como o genocídio do povo negro, o encarceramento em massa e outras barbáries (que estão sendo naturalizadas) são formas do capital tentar contornar suas contradições.

Só que mais que isso, Menegat sustenta que não teremos mais outros 30 anos gloriosos que justamente sucederam a segunda guerra mundial (um dos tipos de barbáries que servem aos interesses do capital para contornar crises), ou seja, ele defende que as barbáries em função da atual crise (que já se arrasta desde a década de 70 do século XX) são sintomas de um sistema em colapso, que não pode mais ser contornado.

“É possível que exista uma crise sem saída?”. Bem, é isso que Menegat defende.

Para o professor, qualquer saída que não seja romper com o atual sistema será apenas uma gestão da barbárie numa “fuga para frente” que quando inviabilizada (como quando as bolhas estouram) tornará o cenário ainda pior do que antes da fuga.

Ainda se considerarmos o aquecimento global que tem ameaçado o nosso direito ao futuro, não é nada mal começarmos a lidar com essas informações e nos movimentarmos. 

O filósofo sugere que “estamos livres para criar uma nova forma de existência”, nos alertando para como nada tem de progresso a revolução tecnocientífica e também para o perigo das usinas nucleares, que são verdadeiras bombas relógio, como era Fukushima, como era Chernobil.

Dito isto, surgem os questionamentos sobre o que devemos fazer? Como? Por qual via? Quando? Através de quem ? São as inquietações que surgem em qualquer um que não pretende se fechar em dogmas. 

Por esse motivo, importante lembrar que Michael Lowy, não filiado as ideias de autoritarismos burocráticos travestidos de comunismo (que em nada tem a ver com o marxismo), em 2008, apontou para a capacidade que a América Latina tinha de retomar sua tradição revolucionária, inclusive fazendo um apontamento bastante apropriado quando diz da importância  de um marxismo enriquecido com contribuições dos feminismos, do indigenismo e da ecologia.  

O papo é longuíssimo, também muito polêmico. 

Talvez tenhamos que nos perguntar se ficaremos presos as “velhas formas tanto teóricas como de lutas da esquerda tradicional”, como critica Menegat.  

É tempo de rumar em busca de acertos que poderão não apenas ditar o nosso futuro, mas garantir que o teremos. 

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