3ª Turma

“O Estado prende, mata e deixa morrer”

Manifesto da Frente Estadual pelo Desencarceramento de SP denuncia política de morte

Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru
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Em memória aos 27 anos do Massacre do Carandiru e por todas as mortes executadas pelo Estado, a Frente Estadual pelo Desencarceramento de São Paulo, em conjunto com diversos coletivos e movimentos sociais marcam, neste ano de 2019, um ato de “basta” ao banho de sangue promovido por agentes do Estado.

O Massacre do Carandiru está longe de ser um caso isolado e a história das barbáries passadas e recentes, como as execuções em Manaus e Altamira, devem ser denunciadas como um projeto político do Estado e suas instituições de tortura e extermínio de uma parte de sua população.

Manaus: 55 mortos

Altamira: 62 mortos

Entre maio e julho de 2019, mais de 110 pessoas foram mortas em presídios de Manaus e Altamira, mas a dor, o sofrimento e a indignação com a violência e a tortura que são parte do modo de agir do Estado não chocam a sociedade, pois quem está morrendo são pessoas pobres, tratadas como descartáveis.

olhando pra cá curiosos é lógico, não, não é não, não ó zoológico. Minha vida não tanto valor quanto seu celular, seu computador” – Racionais

Não só em massacres vidas são tiradas nas prisões do Brasil, mas por falta de coisas básicas, como remédio adequado, atendimento médico, comida em bom estado, água quente, água potável, lugares para dormir, higiene básica. As condições das prisões são desumanas, as pessoas são obrigadas a conviver com ratos, baratas, pessoas com doenças não tratadas, para além da violência executada por agentes penitenciários e batalhões que ingressam nas unidades.

Número de mortos em presídios: mais de quatro pessoas presas morrem por dia.

Em um ano: mais de 1460 mortos em presídios brasileiros. 

O Brasil tem a terceira maior população carcerária e umas das polícias que mais matam e morrem do mundo. Mesmo sabendo que nem todos os assassinatos são contabilizados, o número de assassinatos de jovens negros  pelas mãos de agentes do Estado aumentou assustadoramente. Essas prisões e execuções não acontecem por erro de funcionamento das instituições, mas sim pelo perfeito funcionamento delas. São essas instituições que mantém a repressão das elites contra o povo. Sendo assim, entendemos que a luta contra as grades, massacres e chacinas é indissociável.

Número de assassinatos em 2017: 65.602 (100%)

Jovens negros executados em 2017: 49.530 (75,5%)

Jovens entre 12 e 18 anos não estão sendo mortos somente por balas , mas sendo torturados pelo encarceramento em Fundações Casa (antiga Febem). Quem diz que menores de 18 anos acusados pela prática de um crime não são punidos, não conhece a realidade do Brasil. Aqui adolescentes ficam internados por até 3 anos em unidades que não deveriam ser, mas são verdadeiras prisões, sofrendo violência, tratamentos desumanos, sendo torturados diariamente.

Número de adolescentes internados(as) em 2016 (mais recente): 25.929 em medida de internação e semiliberdade.

Nossos mortos não morrem somente pela bala, mas por total falta de oportunidade. Não há acesso à saúde digna, não há emprego, com um salário mínimo não é possível viver com conforto, pessoas ainda morrem de fome, de frio nas ruas das cidades, sem moradia. De todas essas violências, a maior população atingida é a população negra.

O Estado prende mata e deixa morrer.

Consideramos que a punição é fruto da estrutura social em que vivemos, de modo que a luta por uma vida digna e justa, que possui o desencarceramento como um de seus objetivos, é coletiva e deve ser protagonizada pelas pessoas diretamente atingidas, pessoas negras, mulheres, populações indígenas, movimentos por moradia, pessoas com identidades de gênero plurais, pessoas que lutam pelo reconhecimento e respeito de suas sexualidades, um conjunto de lutas que, infelizmente, contam seus mortos diariamente e que precisam resistir e agir para uma mudança estrutural da sociedade dominante.

Ato em memória aos nossos mortos

Dia 02/10 | às 17h30

Concentração: Praça da Sé – em frente à Catedral

É um dia para celebrarmos a resistência daqueles que sobrevivem aos massacres cotidianos e ainda encontram forças para lutar em memória aos que o Estado atuou para tirar a vida.

Por um mundo sem cárcere!

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