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Regime, ditadura, ou ditadura militar?

Livros escolares mudam termo para falar de regime de Pinochet; no Brasil não contam quem convocou militares

PInera e´um tonto
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Provavelmente Sebastián Piñera quer ser lembrado como o presidente chileno que negou a existência de uma ditadura no seu país.

A pergunta é válida não somente no Chile, mas também no Brasil ainda habitado por numerosos cidadãos que preferem chamar o golpe de 1964 de “revolução”, necessária para conter o comunismo.

Mas se no Brasil de hoje os textos escolares tratam 1964 como “golpe” e chamam o subsequente regime de “ditadura militar”, Piñera, primeiro presidente direitista chileno nas últimas duas décadas, parece estar tentando impor uma visão revisionista da ditadura de 17 anos de Augusto Pinochet (1973-90).

O incumbido da tarefa de substituir a expressão “ditadura militar” por “regime militar” nos textos escolares responde por Haral Beyer, o ministro da Educação.

O objetivo, como sempre, é influenciar alunos do primeiro ciclo do ensino básico, ou seja, aqueles de 6 a 12 anos. Essa geração seria a mais propensa a apagar de suas mentes os horrores de uma feroz ditadura que deixou mais de 3 mil mortos e/ou desaparecidos.

Na quinta, em meio à polêmica, o ministro Beyer assegurou que se trata apenas de uma proposta que busca o debate, “não uma imposição”.

E, pasmem, esse debate traria à tona, sempre segundo Beyer, uma visão mais equilibrada da história. Se esse for realmente o objetivo do ministro, trata-se de uma brincadeira de muito mau gosto, e, por tabela, trágica.

E, como era de se esperar, a direita chilena no poder aplaude a iniciativa do governo.

Para os ultraconservadores, interpretações do bombardeio do Palácio de la Moneda em 1973, da morte do presidente Salvador Allende, e do sistemático extermínio de seus colaboradores foram feitas pelos chamados comunistas. Portanto não são válidas. Em suma, é preciso reescrever a história da ditadura.

Da mesma forma, no Brasil numerosos cidadãos criticam a Comissão da Verdade com base no fato de que os militares teriam, como já dito acima, salvado o país de uma ditadura comunista. Por essas e outras, seria necessário julgar os “terroristas de esquerda”. Mas como lembra o professor Vladimir Safatle, autor de recente artigo para CartaCapital sobre a ditadura brasileira, “um Estado ilegal não pode julgar ações contra si por ser ele próprio algo mais próximo de uma associação criminosa”.

Mas Safatle parece fazer parte de uma minoria, ou pelo menos daquela que pode mudar o quadro: torturadores brasileiros, mestres de seus homólogos na Nicarágua e América Latina afora, jamais foram julgados. Já na Argentina, Uruguai e Chile ditadores foram colocados atrás das grades.

E agora temos Piñera, que finalmente mostra sua cara. Com míseros 20% de aprovação popular, talvez o presidente busque a lealdade de seus ministros, vários dos quais trabalharam com Pinochet.

Felizmente, o Chile tem uma oposição de alto nível. Um exemplo é a senadora socialista Isabel Allende, filha caçula do presidente morto em 73. Ela diz que inserir “regime militar” nos textos escolares é “inaceitável”.

No Brasil os livros escolares hoje ensinam que tivemos uma ditadura militar, não um regime militar. Mas mesmo isso está errado: tivemos, como no Chile, uma ditadura – e ponto final. Não foi somente militar porque foram os oligarcas que chamaram os militares para fazer o trabalho sujo.

Provavelmente Sebastián Piñera quer ser lembrado como o presidente chileno que negou a existência de uma ditadura no seu país.

A pergunta é válida não somente no Chile, mas também no Brasil ainda habitado por numerosos cidadãos que preferem chamar o golpe de 1964 de “revolução”, necessária para conter o comunismo.

Mas se no Brasil de hoje os textos escolares tratam 1964 como “golpe” e chamam o subsequente regime de “ditadura militar”, Piñera, primeiro presidente direitista chileno nas últimas duas décadas, parece estar tentando impor uma visão revisionista da ditadura de 17 anos de Augusto Pinochet (1973-90).

O incumbido da tarefa de substituir a expressão “ditadura militar” por “regime militar” nos textos escolares responde por Haral Beyer, o ministro da Educação.

O objetivo, como sempre, é influenciar alunos do primeiro ciclo do ensino básico, ou seja, aqueles de 6 a 12 anos. Essa geração seria a mais propensa a apagar de suas mentes os horrores de uma feroz ditadura que deixou mais de 3 mil mortos e/ou desaparecidos.

Na quinta, em meio à polêmica, o ministro Beyer assegurou que se trata apenas de uma proposta que busca o debate, “não uma imposição”.

E, pasmem, esse debate traria à tona, sempre segundo Beyer, uma visão mais equilibrada da história. Se esse for realmente o objetivo do ministro, trata-se de uma brincadeira de muito mau gosto, e, por tabela, trágica.

E, como era de se esperar, a direita chilena no poder aplaude a iniciativa do governo.

Para os ultraconservadores, interpretações do bombardeio do Palácio de la Moneda em 1973, da morte do presidente Salvador Allende, e do sistemático extermínio de seus colaboradores foram feitas pelos chamados comunistas. Portanto não são válidas. Em suma, é preciso reescrever a história da ditadura.

Da mesma forma, no Brasil numerosos cidadãos criticam a Comissão da Verdade com base no fato de que os militares teriam, como já dito acima, salvado o país de uma ditadura comunista. Por essas e outras, seria necessário julgar os “terroristas de esquerda”. Mas como lembra o professor Vladimir Safatle, autor de recente artigo para CartaCapital sobre a ditadura brasileira, “um Estado ilegal não pode julgar ações contra si por ser ele próprio algo mais próximo de uma associação criminosa”.

Mas Safatle parece fazer parte de uma minoria, ou pelo menos daquela que pode mudar o quadro: torturadores brasileiros, mestres de seus homólogos na Nicarágua e América Latina afora, jamais foram julgados. Já na Argentina, Uruguai e Chile ditadores foram colocados atrás das grades.

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