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Nápoles não quer mais ser associada a “Gomorra”

Autoridade local veta filmagem de série sobre a máfia, por considerar haver exagero na forma como os problemas da região são retratados pela mídia

Foto: Infollatus/Flickr
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Famosa mundialmente pela violência da máfia, que inclui casos de dissolvimento de corpos em ácido e disputas mortais entre clãs da Camorra, Nápoles não quer mais ser associada a essa imagem. Por isso, o chefe do conselho local da Scampia, subúrbio da cidade também conhecida pelo monte Vesúvio e as ruínas de Pompeia, não permitiu a filmagem de uma série sobre o crime organizado na região.

Angelo Pisani vetou a entrada de câmeras de uma produção da Sky Itália que realizaria uma série sequência do filme Gomorra, adaptação do livro-reportagem do jornalista napolitano Roberto Saviano. Segundo a autoridade, há um exagero na forma como os problemas da região são retratados e a ação visava proteger a área e seus habitantes da má publicidade. “É hora de dar um basta do uso explorador de Nápoles e desta área [Scampia] em particular. O constante exagero dos aspectos negativos, que existem e não podem ser negados, não ajuda em nada. Pelo contrário, piora os problemas e confirma o estigma”, disse ao jornal italiano Corriere del Mezzogiorno.

 

 

A ação ganhou o apoio do prefeito da cidade, Luigi de Magistris. “Estamos cansados de ver a Scampia reduzida a um lugar de conquista pela guerra da Camorra, como se não existisse nada ali que não fosse o tráfico e clãs feudais.” Saviano, por outro lado, disse em sua coluna no La Repubblica que o ato não passa de censura e uma tentativa de esconder os problemas da região.

O drama deve se chamar “Camorra após Roberto Saviano, uma congelante exposição do submundo napolitano”, em referência à obra do escritor. O livro vendeu mais de 5 milhões de cópias em todo o mundo, mas Saviano vive hoje ameaçado de morte pela máfia. Ele anda com a escolta de 14 policias e carros blindados 24 horas por dia e dorme em hotéis e apartamentos alugados por pouco tempo.

O poder da máfia

O estudo “As mãos da criminalidade”, da organização italiana SOS Impresa, mostra que a máfia é “o maior agente econômico” da Itália.

A organização movimenta 140 bilhões de euros (cerca de 323 bilhões de reais) em negócios por ano e seria o primeiro banco do país com 65 bilhões de euros (cerca de 150 bilhões de reais) em liquidez.

 

Segundo informações da agencia de notícias italiana Ansa, a máfia é responsável por cerca de 7% do PIB da Itália, com empreendimentos em diversos setores, incluindo saúde, esporte, transporte rodoviário e logística, entre outros.

Marco Venturi, presidente da Confesercenti, entidade que representa o empresariado italiano, afirma, à Ansa, que mais de um milhão de empresários são vítimas de algum crime e que mais de 1.300 negócios comerciais sofrem golpes da máfia todos os dias.

Para ele, isso ocorre porque há “conivência e conluio com os profissionais da política e da administração”. Venturi ainda destaca, no site da SOS Impresa, que no centro e no norte da Itália,  a máfia controla quase todo o mercado de jogos de azar e de descarte de resíduos tóxicos.

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