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Trump perde maioria na Câmara, mas mantém controle no Senado

Após oito anos de domínio republicano, democratas reconquistaram a maioria na Câmara. Resultado deve significar maior pressão sobre o presidente

Apoiadores dos democratas comemoram resultado das eleições em Boston
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O Congresso dos Estados Unidos ficará dividido após as eleições legislativas de meio mandato (midterms) desta terça-feira 6. Após oito anos de domínio republicano, os democratas reconquistaram a maioria na Câmara dos Representantes, enquanto o partido do presidente Donald Trump manteve-se no controle do Senado.

Após uma campanha acirrada, os democratas conseguiram captar a insatisfação de parte dos eleitores com o governo, tirando do partido de Trump a maioria na Câmara. Com 412 dos 435 assentos da Casa definidos, os democratas contam com 219 lugares (26 a mais que na legislatura atual), contra 193 dos republicanos.

Na Câmara, os estados são representados proporcionalmente, de acordo o número de habitantes. Todas as 435 vagas são disputadas a cada dois anos, e o novo mandato dos parlamentares começará em janeiro de 2019.

Já o Senado é composto por 100 parlamentares, sendo dois senadores para cada estado. Com mandatos de seis anos, cerca de um terço do Senado está em jogo a cada dois anos. Com 31 dos 35 assentos disputados nesta terça já definidos, o partido de Trump tem 51, contra 45 dos rivais – atualmente são 51 contra 49.

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A votação desta terça era vista como um referendo sobre a gestão na Casa Branca, dois anos após Trump assumir a presidência. O fim da liderança republicana na Câmara significa mais pressão sobre o presidente, que pode agora ter projetos travados pelo restante de seu mandato.

Com os democratas à frente, a Câmara dos Representantes pode fazer com que Trump tenha que recuar em relação a ambições legislativas, como a construção de um muro na fronteira com o México ou a continuidade de suas políticas comerciais linha-dura.

Além de frustrar a agenda legislativa de Trump, o revés dos republicanos na Câmara permitirá que os democratas criem comitês para investigar erros nas condutas pessoal e profissional de Trump e, possivelmente, até processos de impeachment do presidente.

Uma maioria simples na Câmara seria suficiente para um impeachment de Trump caso houvesse evidência de obstrução de Justiça ou de conluio entre sua campanha eleitoral e a Rússia – negado por ambos os lados. Mas para remover o presidente do cargo seria necessária uma maioria de dois terços no Senado.

Após a votação desta terça, a líder do Partido Democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, comemorou o resultado perante apoiadores em Washington, afirmando que o novo equilíbrio de forças representará um maior controle sobre o governo Trump.

“Graças a vocês, amanhã será um novo dia nos Estados Unidos”, disse. “Teremos a responsabilidade de encontrar terreno comum onde pudermos e, onde não pudermos, de nos mantermos firmes.”

Apesar da derrota para seu partido na Câmara, Trump escreveu no Twitter: “Sucesso tremendo esta noite.”

Na campanha antes das eleições, Trump endureceu sua retórica em questões que têm apelo entre seus apoiadores mais conservadores, lançando alertas sobre uma caravana de migrantes centro-americanos que cruza o México rumo aos EUA, por exemplo.

A maioria dos democratas, por sua vez, evitou fazer duras críticas a Trump e preferiu focar temas de interesse básico da população, como serviços de saúde e aposentadoria.

Nas duas últimas décadas, houve apenas três eleições em que um dos dois partidos conseguiu ampliar sua presença na Câmara dos Representantes em mais de 23 assentos. Os ganhos desta terça-feira foram os maiores desde 2010, quando uma onda conservadora contra o então presidente democrata, Barack Obama, resultou num salto de 63 vagas para os republicanos.

Uma sondagem encomendada pela emissora CNN mostrou que apenas um terço dos eleitores não considerou Trump um fator decisivo para o voto. Mais da metade disse estar descontente com o governo.

Além de renovar o Congresso, eleitores de 36 dos 50 estados americanos foram às urnas para eleger governadores. Com a corrida definida em 33 dos 36 estados, os democratas têm 22 dos governos estaduais, e os republicanos, 25.

eua.jpg Ilhan Omar, de origem Somali, é uma das duas muçulmanas eleitas (Stephen Maturen/AFP)

A eleição das mulheres

Os ganhos dos democratas foram em grande parte impulsionados pelas mulheres, segundo pesquisa de boca de urna Reuters/Ipsos. Das mulheres entrevistadas, 55% disseram apoiar um democrata para a Câmara neste ano, mais que os 49% registrados em 2014.

As mulheres também marcaram presença na disputa eleitoral, com um número recorde de 237 candidatas para a Câmara dos Representantes, algumas tendo derrotado candidatos do sexo oposto durante as primárias de seus partidos.

Ao menos 99 mulheres foram eleitas para a Câmara, superando o recorde atual de 84. A maioria é democrata, e ao menos 28 foram eleitas para o Congresso pela primeira vez.

“Estou muito honrada de dividir tanto as urnas quanto o palco com as muitas mulheres visionárias e ousadas que levantaram suas mãos para concorrer a um cargo público”, disse Ayanna Pressley, que se tornou a primeira mulher negra de Massachusetts eleita para o Congresso.

Leia também: Mulheres podem ser decisivas nas primeiras legislativas da era Trump

A Câmara ganhará suas duas primeiras congressistas muçulmanas, Ihan Omar (Minnesota) e Rashida Tlaib (Michigan). As democratas Sharice Davids (Kansas) e Debra Haaland (Novo México) também entraram para a história como as primeiras mulheres de origem indígena eleitas para o Congresso.

Alexandria Ocasio-Cortez, democrata de Nova York de 29 anos de idade, tornou-se a mulher mais jovem da história a conquistar um assento no Congresso. Dez meses mais velha que Ocasio-cortez, Abby Finkenauer, democrata do Iowa, foi a segunda mulher mais jovem eleita.

“Este é realmente o ano das mulheres por toda parte”, disse Thomas Perez, presidente do Comitê Nacional Democrata.

“Este não é apenas o ano das mulheres, este é o ano de todas as mulheres”, afirmou Cecile Richards, que foi presidente da organização Planned Parenthood por mais de uma década, destacando a diversidade entre as candidatas.

No Senado, as mulheres ocupam hoje 23 assentos e devem ficar com ao menos 22 na próxima legislatura. O estado do Tennessee elegeu sua primeira senadora, Marsha Blackburn.

Elizabeth Warren, senadora democrata pelo estado de Massachusetts – que considera disputar a eleição presidencial em 2020 – afirmou que a chegada de Trump à Casa Branca impulsionou uma nova geração de mulheres na vida pública.

“Mulheres que nunca concorreram a nada se levantaram para colocar seus nomes na disputa”, disse. “Elas se recusaram a deixar que alguém lhes calasse ou ficasse em seu caminho, e é assim que uma verdadeira mudança começa.”

Na corrida para os governos dos estados, 16 mulheres se candidataram. Na Geórgia, Stacey Abrams disputa o posto de primeira governadora do estado e de primeira governadora negra no país.

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