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Cidade rebelde sofre ataque das forças de Ortega na Nicarágua

Desde 18 de abril, 280 pessoas perderam a vida em uma série de protestos contra o presidente do país

No domingo, uma operação em Masaya e em cidades vizinhas deixou ao menos 10 mortos
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As forças do governo do presidente Daniel Ortega lançaram nesta terça-feira 17 um intenso ataque contra a cidade rebelde de Masaya, em uma nova tentativa de desarticular a resistência no bairro de Monimbó, enquanto secretário da presidência assegurou que “a tentativa de golpe já acabou”.

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“Estão atacando Monimbó! As balas estão atingindo a igreja de María Magdalena, onde o padre está refugiado”, escreveu no Twitter o arcebispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez. 

A ação das forças do governo, que a oposição chama de “operação limpeza”, se concentra no bairro indígena de Monimbó, onde a população ergueu barricadas de até dois metros.

“Daniel Ortega precisa deter o massacre! Rogo às pessoas de Monimbó que salvem suas vidas!”, acrescentou Báez.

Os sinos das igrejas soaram enquanto as rajadas das armas de diversos calibres eram ouvidas por todos os lados de Masaya, contaram testemunhas que ligaram para emissoras de Manágua.

Trinta e sete caminhonetes cheias de antimotins e parapoliciais fortemente armados entraram de madrugada pelos quatro cantos de Masaya, 30 quilômetros ao sul de Manágua, segundo imagens postadas nas redes sociais por vizinhos da cidade.

“Estão nos atacando por vários pontos daqui de Monimbó”, de acordo com um áudio enviado pelo aplicativo de mensagens WhatsApp pelo dirigente do Movimento Estudantil 19 de Abril, Cristian Fajardo. 

A cidade de Masaya se declarou em rebeldia desde que começaram, em abril, os protestos contra o governo que exigem a saída do poder de Ortega e de sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo.

No domingo, uma grande operação em Masaya e em cidades vizinhas deixou ao menos 10 mortos e muitos feridos, segundo organismos de direitos humanos. A polícia confirmou apenas duas vítimas fatais, incluindo um de seus agentes.

Neste contexto, o secretário da presidência da Nicarágua, Paul Oquist, declarou em entrevista à AFP que “a tentativa de realizar um golpe já terminou”.

“A boa notícia da Nicarágua é que o golpe fracassou, isto é, a tentativa de realizar um golpe de Estado na Nicarágua já foi derrotada”, disse Oquist em Bruxelas ao final de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da Europa, América Latina e Caribe.

Para Oquist, considerado um dos membros de gabinete mais próximos do presidente Daniel Ortega, já “não há barricadas nas estradas e os estudantes podem volver a estudar”. 

Após as últimas informações, os Estados Unidos pediram ao presidente nicaraguense que não ataque a cidade de Masaya, que se encontra sob cerco das forças governamentais que buscam desarticular a resistência contra o governo.

“Pedimos energicamente ao presidente Ortega que não ataque Masaya. A violência contínua e o derramamento de sangue promovidos pelo governo na Nicarágua devem cessar imediatamente. O mundo está observando”, afirmou o secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Francisco Palmieri, em uma mensagem no Twitter.

Além disso, nesta terça-feira, a ONU acusou as autoridades da Nicarágua de graves violações aos direitos humanos e disse estar muito preocupada com o desaparecimento de dois representantes do movimento camponês detidos no aeroporto de Manágua e que deveriam participar de uma conferência nos Estados Unidos.

“Estamos muito preocupados pelo fato de que dois defensores dos direitos humanos”, Medardo Maireno, um dos líderes do movimento camponês, e Pedro Mena, membro do mesmo, “possam ser vítimas de desaparecimento forçado”, declarou aos meios de comunicação Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, em Genebra.

“A polícia os prendeu na sexta-feira no aeroporto de Manágua e desde então as autoridades não informaram a suas famílias o local onde se encontram. Pedimos às autoridades nicaraguenses que forneçam imediatamente as informações sobre a sua localização”, acrescentou.

Desde 18 de abril, 280 pessoas perderam a vida em uma série de protestos contra uma reforma do sistema de aposentadorias, que se tornaram um clamor para exigir a saída de Ortega do poder.

*Leia mais em AFP

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