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Austeridade descontrolada

De Barcelona a Madri, o país começa a escapar das mãos do governo Rajoy; Novos protestos tomam as ruas gregas

Madrid. A rejeição ao governo cresce. Como será com as medidas mais duras por vir? Foto: Pierre-Philippe Marcou / AFP
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Nem toda a revolta se explica apenas pelas consequências dos caprichos do mercado financeiro. Boa parte se deve, também, a oportunismo incompetente de políticos. Especialmente na Espanha, onde o governo lida com um desemprego altíssimo e um déficit galopante, mas, em vez de priorizar a união ante a crise e deixar questões controvertidas para depois, insiste em uma agenda ideologicamente carregada, conservadora e centralista.

Um dos resultados é o crescimento dos movimentos autonomistas. Os governos das regiões da Galiza, País Basco e agora Catalunha, com línguas próprias e maior identidade nacional, convocaram eleições, nas quais movimentos separatistas devem ganhar força. O mais forte parece ser agora não o basco, mas o catalão, atiçado desde 2010 pela rejeição de seu estatuto de autonomia pelo Tribunal Constitucional e agora pelo conflito fiscal. A região contribui para o governo central com 8% do seu PIB mais do que recebe e está financeiramente quebrada. Propôs ao governo Mariano Rajoy um pacto fiscal para reduzir essa transferência a 4%, mas Madri quer impor condições draconianas em troca de um resgate de 5 bilhões de euros.

Em 11 de setembro, com apoio do governo regional, uma manifestação pela independência com 600 mil, segundo o governo de Madri, ou 2 milhões, segundo os organizadores, tomou as ruas de Barcelona, cuja área metropolitana tem 4,5 milhões de habitantes. No dia 24, o presidente do governo catalão, Artur Mas, abriu o debate no Parlamento local sobre a separação da Espanha: “Chegou a hora de a Catalunha exercer o direito à autodeterminação e ter mesmos instrumentos que outras nações para desenvolver a própria identidade”. Segundo pesquisa de junho de 2012, 51,1% votariam “sim” e 21,1%, “não” à independência.

A insatisfação é igualmente explosiva no próprio coração da Espanha. No dia 25, dezenas de milhares de manifestantes cercaram o Parlamento para protestar contra cortes de gastos que prejudicaram a educação e a saúde – em especial os imigrantes sem do­cumentos, privados de assistência médica – e exigir novas eleições. A repressão fez 35 presos e 64 feridos, um deles com gravidade, mas não deteve o movimento, que promete mais manifestações.

E os dominós balançam


Na quarta-feira 26, cerca de 100 mil gregos saíram às ruas de Atenas e milhões pararam de trabalhar em todo o país na primeira greve geral contra o governo de Antonis Samaras. Os três partidos de sua coalizão, Nova Democracia, Pasok e Esquerda Democrática, conseguiram acordar, no dia seguinte, um pacote de 13,5 bilhões de euros em cortes de gastos e aumento de impostos, mas a veemência crescente dos protestos da Grécia e os sinais de desintegração da Espanha – que nem sequer se atreveu, até agora, a pedir o inevitável resgate – mantiveram os mercados sob tensão.

Se esses e outros países estão hoje à beira da ingovernabilidade, que acontecerá quando os efeitos das medidas já divulgadas se fizerem sentir plenamente e outras, ainda mais impopulares, forem anunciadas?

Nem toda a revolta se explica apenas pelas consequências dos caprichos do mercado financeiro. Boa parte se deve, também, a oportunismo incompetente de políticos. Especialmente na Espanha, onde o governo lida com um desemprego altíssimo e um déficit galopante, mas, em vez de priorizar a união ante a crise e deixar questões controvertidas para depois, insiste em uma agenda ideologicamente carregada, conservadora e centralista.

Um dos resultados é o crescimento dos movimentos autonomistas. Os governos das regiões da Galiza, País Basco e agora Catalunha, com línguas próprias e maior identidade nacional, convocaram eleições, nas quais movimentos separatistas devem ganhar força. O mais forte parece ser agora não o basco, mas o catalão, atiçado desde 2010 pela rejeição de seu estatuto de autonomia pelo Tribunal Constitucional e agora pelo conflito fiscal. A região contribui para o governo central com 8% do seu PIB mais do que recebe e está financeiramente quebrada. Propôs ao governo Mariano Rajoy um pacto fiscal para reduzir essa transferência a 4%, mas Madri quer impor condições draconianas em troca de um resgate de 5 bilhões de euros.

Em 11 de setembro, com apoio do governo regional, uma manifestação pela independência com 600 mil, segundo o governo de Madri, ou 2 milhões, segundo os organizadores, tomou as ruas de Barcelona, cuja área metropolitana tem 4,5 milhões de habitantes. No dia 24, o presidente do governo catalão, Artur Mas, abriu o debate no Parlamento local sobre a separação da Espanha: “Chegou a hora de a Catalunha exercer o direito à autodeterminação e ter mesmos instrumentos que outras nações para desenvolver a própria identidade”. Segundo pesquisa de junho de 2012, 51,1% votariam “sim” e 21,1%, “não” à independência.

A insatisfação é igualmente explosiva no próprio coração da Espanha. No dia 25, dezenas de milhares de manifestantes cercaram o Parlamento para protestar contra cortes de gastos que prejudicaram a educação e a saúde – em especial os imigrantes sem do­cumentos, privados de assistência médica – e exigir novas eleições. A repressão fez 35 presos e 64 feridos, um deles com gravidade, mas não deteve o movimento, que promete mais manifestações.

E os dominós balançam


Na quarta-feira 26, cerca de 100 mil gregos saíram às ruas de Atenas e milhões pararam de trabalhar em todo o país na primeira greve geral contra o governo de Antonis Samaras. Os três partidos de sua coalizão, Nova Democracia, Pasok e Esquerda Democrática, conseguiram acordar, no dia seguinte, um pacote de 13,5 bilhões de euros em cortes de gastos e aumento de impostos, mas a veemência crescente dos protestos da Grécia e os sinais de desintegração da Espanha – que nem sequer se atreveu, até agora, a pedir o inevitável resgate – mantiveram os mercados sob tensão.

Se esses e outros países estão hoje à beira da ingovernabilidade, que acontecerá quando os efeitos das medidas já divulgadas se fizerem sentir plenamente e outras, ainda mais impopulares, forem anunciadas?

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