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Argentina quer reverter crise com medidas econômicas mais drásticas

O governo Macri tenta agradar ao FMI

Macri parece ter pedido a direção
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Foram 48 horas de intensas e frenéticas negociações na residência presidencial argentina durante o fim de semana. O resultado será revelado nas próximas e decisivas horas desta segunda-feira 3. Às 10 da manhã no horário local, o governo vai anunciar um pacote de medidas econômicas para tentar reverter a crise de confiança que ameaça a economia e a governabilidade.

Reestruturação ministerial, aplicação de impostos e uma ousada meta de déficit fiscal. Uma mudança vertiginosa no governo do presidente Mauricio Macri. O anúncio que será feito antecede a viagem do ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, a Washington para renegociar um acordo com o Fundo Monetário Internacional, apenas dois meses depois do primeiro acordo.

Dujovne fará um anúncio de profunda redução do gasto público e de aumento da arrecadação com o objetivo de diminuir o déficit fiscal a zero ou próximo a isso. O atual compromisso assumido com o FMI já implicava um corte a 1,3% do déficit primário em 2019. Agora passaria a 0,5% ou mesmo a déficit zero.

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No terreno fiscal, esse drástico recorte seria financiado pela criação de uma polêmica tarifa sobre todas as exportações do país, sejam agrícolas, industriais ou de serviços. A tarifa seria ainda maior sobre as exportações de commodities: minérios, trigo, milho e soja.

No plano da austeridade, o governo também deve anunciar uma profunda reestruturação ministerial. O número de ministérios cairia pela metade. Entre 10 e 13 ministérios devem ser eliminados, transformados em secretarias ou fundidos com outros ministérios. Poderia haver também mudanças no gabinete de ministros. São medidas de emergência antes da viagem do ministro a Washington.

Primeiro acordo não foi suficiente

Um novo acordo é necessário, pois o primeiro não foi suficiente para fazer com que os mercados voltem a confiar no país. Para muitos, o ajuste fiscal prometido no primeiro acordo é insuficiente e ainda há a desconfiança de que o país não terá dinheiro para honrar os vencimentos da dívida no ano que vem. Paradoxalmente, desconfiam que Mauricio Macri não seria reeleito no próximo ano, deixando a porta aberta para o regresso do populismo.

Com isso, o presidente tenta reagir antes que seja devorado pela crise. No encontro desta terça-feira 4 com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, o objetivo de Dujovne será pedir uma antecipação, para o ano que vem, dos  29 bilhões de dólares previstos para 2020 e 2021.

Além disso, o governo quer poder usar os dólares das reservas do Banco Central para intervir no mercado cambial. Não se descarta que o governo ainda tente ampliar em 15 bilhões de dólares o crédito do FMI por 50 bilhões anunciado em junho por três anos.

Peso perdeu metade de seu valor em 9 meses

Macri está diante de um relançamento do seu governo. O presidente enfrenta os seus dias mais críticos, encurralado pelos mercados que querem mais ajustes e pela população que teme medidas de austeridade.

Por isso, a conta será paga pelos setores que vão ganhar com a maxi desvalorização do peso que, em agosto, perdeu 35% do seu valor e, no ano, 104%. Ou seja: vale metade do que valia em janeiro.

Isso significa que o governo entende um novo rumo para a economia. Nos últimos anos, o motor foi o consumo. Macri quis focar no setor de investimentos mas não conseguiu. Agora, percebe que a saída é pelas exportações.

Talvez anuncie um novo nome no Ministério das Relações Exteriores com enfoque na diplomacia econômica. Macri quer alguém relacionado com os mercados na função de chanceler. Para conter uma recessão prolongada e amenizar os efeitos de uma inflação que pode chegar a 40% neste ano, deve ser anunciado um congelamento de preços da cesta básica de alimentos, além de um aumento de fundos para programas de ajuda social.

“Cadernos da Corrupção”

Em paralelo, a ex-presidente Cristina Kirchner, cada vez mais implicada no caso dos “Cadernos da Corrupção”, voltará ao tribunal de Justiça para uma nova depoimento. Apesar de comparecer, ela não irá se pronunciar. Mais uma vez, Kirchner deve entregar uma declaração escrita na qual dirá que é vítima de uma perseguição política para encobrir a crise econômica.

A situação da ex-presidente é ainda pior do que a de 13 de agosto quando foi intimada pela mesma causa na qual é acusada de liderar uma associação ilícita para roubar o Estado. A diferença é que, naquela intimação, ela era acusada de liderar essa quadrilha entre 2008 e 2015. Agora, o período é maior, de 2003 a 2015, todo o período em que ela e seu marido foram presidentes.

O juiz Claudio Bonadio estaria a dias de processar Cristina Kirchner e de pedir a prisão dela, apesar de sua imunidade parlamentar por ser senadora.

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