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House of Mãe Joana: viva o Brasil otimista e frutado da era Bolsonaro

A Banana Republic Original Series (ou o resumo semanal do hospício, porque este Brasil deixou de ser sério faz tempo)

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No início de julho, o Datafolha saiu a campo para aferir a percepção dos brasileiros sobre a gestão Bolsonaro, avaliada positivamente por um terço da população, o menor apoio a um presidente em primeiro mandato desde o fim da ditadura. Agora, o instituto faz uma curiosa revelação. Quando perguntados sobre o que Bolsonaro fez de melhor nos seis primeiros meses do ano, 39% dos mais de 2 mil entrevistados não hesitaram em dizer: “Nada”. Outros 19% não souberam responder. Ou seja, quase seis em cada dez brasileiros têm dificuldade de apontar uma única iniciativa positiva do governo. Isso não afeta, porém, o otimismo do aliado e ex-presidente Michel Temer, ele próprio dono de uma autoestima inabalável:

Do jeito que as coisas vão indo, o governo (Bolsonaro) vai bem, porque está dando sequência ao nosso governo”

— Michel Temer, em entrevista à BBC Brasil

Abilio Diniz, integrante do Conselho de Administração do Grupo Carrefour, é outro otimista irredutível. Durante os governos de Lula e Dilma Rousseff, não se cansava de elogiar a condução da política econômica, que ampliou o poder de compra da população e contribuiu para encher os bolsos dos empresários. Em diferentes edições do prêmio “As Empresas Mais Admiradas do Brasil”, pediu para discursar em defesa das gestões petistas. Agora, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, Diniz mantém o discurso, desta vez referindo-se ao governo Bolsonaro. Apesar dos 13 milhões de desempregados, dos 62 milhões de inadimplentes e do ‘pibinho’ de 0,8% projetado para 2019, ainda há razões para se ufanar do Brasil. Lista o executivo, mestre da autoajuda e dos lugares-comuns:

Não se pode nunca perder a noção de realidade, mas ser otimista é muito melhor para caminhar na vida. O otimista vive alegre e feliz. O pessimista, triste e mal-humorado”

— Abílio Diniz

(…) Sinto entre os empresários sobreviventes do Brasil o bom sentimento de que, desta vez, daremos passos indispensáveis para a retomada sustentável do crescimento, que beneficiará a todos”

— Abílio Diniz

Apesar de tudo o que vivemos, o orgulho nacional cresce há dois anos – 74% das pessoas dizem ter mais orgulho que vergonha de ser brasileiro, segundo a última pesquisa do Datafolha.”

— Abílio Diniz

“Alegria, alegria, faça como eu, sorria!”. Abilio Diniz reedita Pedro Fortes, célebre personagem de Chico Anysio”

A despeito da recuperação da estima nacional, Bolsonaro está sendo caçado por uma organização “ecoextremista”, a Sociedade Secreta Silvestre (SSS), filiada à igualmente desconhecida Individualistas Que Tendem ao Selvagem. Parece piada, mas a ameaça é real, atesta a revista Veja. A reportagem de capa da publicação chegou a falar em um chat da Deep Web com “Anhangá”, adolescente espinhudo que se apresenta como líder do grupo terrorista e promete concluir o trabalho do inimputável Adélio Bispo.

Ex-integrante da Comissão de Anistia, o general da reserva Luiz Rocha Paiva, acusou Bolsonaro de ser “antipatriótico” ao referir-se aos nordestinos como “paraíbas”, menosprezando a região. A declaração despertou a fúria do presidente, que reagiu ao seu modo:

Sem querer, descobrimos um melancia, defensor da Guerrilha do Araguaia, em pleno século 21”

— Jair Bolsonaro

Na linguagem fardada, a gíria “melancia” refere-se aos militares que usam roupas verde-oliva, mas no interior são vermelhos – esquerdistas ou comunistas. A descoberta de mais um “melancia” não tem, portanto, qualquer relação com as observações de Bolsonaro sobre o estado nutricional dos brasileiros:

Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”

— Bolsonaro, novamente ele

Segundo o relatório do Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe 2018, divulgado em novembro pela “mentirosa” ONU, a desnutrição alcançou até 5,2 milhões de brasileiros entre 2015 e 2017.

Em entrevista nas páginas amarelas da Veja, o deputado e ex-ator pornô Alexandre Frota exortou o presidente a rever a sua estratégia de comunicação nas redes sociais:

Quando ele abre a boca no Twitter, ultrapassa limites que deveria respeitar como presidente. Digo isso na cara dele, porque, quando Jair era um candidato-comédia, quem o carregava para todo lugar em São Paulo era eu. Quando ele ia dar uma palestra e tinha medo de que a CUT ou o MST atrapalhassem, quem chamava dez, quinze amigos da academia para fazer a segurança, buscar no aeroporto, levar para almoçar, era eu”

— Alexandre Frota

No domingo 21, o “Jogo das Três Pistas”, popular atração do Programa Silvio Santos, recebeu o jogador Neymar Jr. e a apresentadora Patrícia Abravanel, filha do dono do SBT. Mas foi uma desconhecida mulher da plateia quem roubou a cena. As pistas para a resolução da charada eram “bandido, valentão e marginal”. Como os participantes não desvendaram o enigma, o desafio ficou para as convidadas do auditório. Uma delas apresentou como resposta  a palavra “detentos”. Outra chutou “PCC” e “Comando Vermelho”. Nem chegaram perto. Confiante, uma terceira concorrente disparou ao microfone: “Bolsonaro”. O empresário e apresentador Silvio Santos, que recentemente recebeu em seu programa dominical o presidente da República e dois filhos dele, Eduardo e Flávio Bolsonaro, não conseguiu conter o riso. E entregou uma nota de 50 reais à desconhecida mulher, convertida em heroína da oposição nas redes sociais. Oficialmente, a resposta da charada era outra…

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