Humor

House of Mãe Joana: o que saiu da boca de Johnny Bravo e de sua turma

A Banana Republic Original Series (ou o resumo semanal do hospício, porque este Brasil deixou de ser sério faz tempo)

Bolsonaro na Marcha para Jesus em 2019. Foto: Reprodução
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O presidente Johnny Bravo, perdão, Jair Bolsonaro, está com uma curiosa fixação. Na segunda-feira 12, durante a cerimônia de inauguração de um trecho duplicado da BR-116, no município gaúcho de Pelotas, o ex-capitão conseguiu a proeza de relacionar as fezes de indígenas com problemas no licenciamento ambiental de obras de infraestrutura.

“Há anos um terminal de contêiner no Paraná, se não me engano, não sai do papel porque precisa agora também de um laudo ambiental da Funai. O cara vai lá, se encontrar — já que está na moda — um cocozinho petrificado de um índio, já era. Não pode fazer mais nada ali”

— Jair Bolsonaro

O presidente da República não conseguiu especificar qual obra exatamente ficou comprometida pelo “cocozinho petrificado” dos índios. Mas manteve a coerência com um “raciocínio” desenvolvido dias antes, em um insólito diálogo travado com o repórter Fábio Murakawa, do Valor Econômico:

“- Presidente, é possível crescer com preservação?

– Lógico que sim.

– Como? Se tem que alimentar e…

– É só você deixar de comer menos um pouquinho. Você fala pra mim, por exemplo, em poluição ambiental, é só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também.”

Para esclarecer qualquer dúvida a respeito dos riscos da constipação, o site da Folha de S.Paulo publicou um alentado texto na segunda-feira 12, com direito a infográfico. “Evacuar entre três vezes ao dia e três dias por semana é considerado saudável”, resume a linha-fina da reportagem. Os leitores aguardam ansiosos outro “Folha Explica”, sobre os ensinamentos do presidente a respeito do planejamento familiar:

“Você olha as pessoas que têm mais cultura têm menos filhos. Eu sou uma exceção à regra, tenho cinco”

— Bolsonaro, “a exceção”

No sábado 10, durante a Marcha para Jesus em Brasília, o presidente repudiou o que chama de ideologia de gênero, “uma coisa do capeta”. E, diante da multidão de fiéis, voltou a se apresentar com seu novo nome social:

“O Estado é laico, mas eu, Johnny Bravo, sou cristão. Aqui nesse pátio nós somos cristãos. Respeitamos todas as religiões e até quem não tenha religião, mas a grande maioria do povo brasileiro é cristã”

— Johnny Bolsonaro

“O Brasil elegeu um idiota”, constata o jornal austríaco Die Presse. Nas redes sociais, Bolsonaro ganha o seu próprio calendário

Preocupado com a aprovação da reforma da Previdência, Tasso Jereissati, relator da matéria no Senado, fez um insólito apelo ao presidente:

“Acho que a postura que ele [Bolsonaro] deve ter é quanto mais calado, melhor, que

 aí as coisas fluem com mais tranquilidade, sem criar nenhum ponto de atrito”

— Tasso Jereissati

Às vezes, um tucano acerta

Apesar de reconhecer que a relação do governo com o Parlamento é péssima, o tucano descarta a possibilidade de uma nova virada de mesa:

“Vamos ter que conviver com ele. O País não aguenta mais um terceiro impeachment. Votei pelo de Dilma, mas tenho que reconhecer que nós ainda estamos pagando um preço por isso”

— Jereissati, resignado 

Depois do “não fale em crise, trabalhe” de Michel Temer, o ministro da Economia resolveu criar o seu próprio bordão. Após o Índice de Atividade Econômica do Banco Central registrar um recuo de 0,13% no segundo trimestre de 2019 e soar o alerta de uma recessão técnica, Paulo Guedes lembrou que o governo Bolsonaro ainda tem mais três anos e meio para fazer estrago:

“Deixem um governo liberal ter uma chance, esperem quatro anos. Não trabalhem contra o Brasil, tenham um pouco de paciência. Esperem a vez de vocês”

— Paulo Guedes

Quer saber o segredo do Homem do Baú? No sábado 10, durante o Programa Raul Gil, a apresentadora Patrícia Abravanel explicou como o pai, Silvio Santos, dono do SBT, conseguiu prosperar à sombra do poder:

“- Agora, você sabe que o SBT é muito pró-governo. Independente do governante, a gente acredita que tem que estar apoiando – disse Patrícia.

– Seu pai sempre apoiou – concordou Raul Gil.

– Sempre. Ele ensinou isso pra gente. 

– Era o Lula, ele apoiou o Lula.

– Apoiou Lula. Era Dilma, apoiou Dilma… 

– Antes era o Temer. 

– Também apoiou o Temer. Então, a gente tem que estar perto dos nossos governantes para eles poderem, sim, tomar boas decisões. Que a gente influencie eles para coisas boas. Que a gente acredite neles e torça por cada um deles. Então, aqui, eu, como meu pai, a gente é pró-governo. Sempre.

– Amém.”

Patrícia Abravanel revelou o segredo do Homem do Baú

Bolsonaro sabe retribuir. No primeiro trimestre de 2018, o SBT recebeu 1,1 milhão de reais em verbas publicitárias repassadas pela Secretaria de Comunicação do governo federal. No primeiro trimestre deste ano, o repasse aumentou para 7,3 milhões. Os números foram divulgados pelo portal UOL.

No mundo civilizado, os juízes da Suprema Corte costumam ser apresentados como “guardiões da Constituição”. Compete a eles fazer valer o que está escrito no “Livrinho”, como se referia à Carta Magna o então presidente Eurico Gaspar Dutra, inquilino do Palácio do Catete de 1946 a 1950. Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal nativo, parece disposto, no entanto, a reescrever o tal livrinho, suprimindo certas partes incômodas:

“Sou a favor da desidratação da Constituição Federal”

— Dias Toffoli, “o Guardião”

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