Humor

House of Mãe Joana: é o governo Bolsonaro, mas poderia ser Os Trapalhões

A Banana Republic Original Series (ou o resumo semanal do hospício, porque este Brasil deixou de ser sério faz tempo)

Weintraub
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Abraham Weintraub deu mostras de estar muito atarefado no Ministério da Educação. Primeiro, publicou um retrato deitado na rede, em um árduo dia de trabalho. Depois, ainda tirou onda da ralé:

Ministro da Educação balança, mas não cai”

— Abraham Weintraub

Em 2012, o baixoclérigo Jair Bolsonaro foi flagrado pelo Ibama, só de sunga e camiseta, dentro de um bote apinhado de peixes que havia capturado dentro da Estação Ecológica de Tamoios, área protegida de Angra dos Reis. Levou uma multa de 10 mil reais. Sete anos depois, o deputado virou presidente, a multa foi cancelada e o fiscal que lhe tascou a punição foi exonerado. Agora, ele quer transformar aquela mesma região na “Cancún brasileira”, aberta ao turismo predatório. Questionado sobre os impactos ambientais, disse que o assunto só interessa a quem, diferentemente dele, não come peixes. E nem carne, queijo, leite ou qualquer produto de origem animal.

Só aos veganos que comem só vegetais [é importante a questão ambiental] (…) Quando acabarem os commodities do Brasil, nós vamos viver do quê? Vamos virar veganos?”

–Jair Bolsonaro

“Menino veste azul e menina veste rosa”, vaticinou Damares Alves, personal stylist e ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. O chefe gostou da orientação, mas decidiu adaptá-la ao seu estilo. 

Menina brinca de boneca e menino brinca de arminha, está ok, imprensa? Foram os pais que decidiram fazer isso aí, os meus já atiravam com 5 anos. Está com quantos anos de idade?”

–Bolsonaro, a um garoto no Palácio da Alvorada

Enquanto a polícia de Sérgio Moro avança sobre os tais hackers que teriam invadido o celular do ministro, o governo trabalha para colar em Glenn Greenwald a pecha de criminoso. Embora negue que a portaria de deportação sumária assinada por Moro na sexta-feira 26 seja um primeiro passo para a expulsão do jornalista, o presidente Jair Bolsonaro insinua que ele não será expulso, mas talvez “pegue uma cana”.

Até porque ele é casado com outro homem, e tem meninos adotados no Brasil. Tá certo? Malandro, malandro, pra evitar um problema desse, casa com outro malandro, ou não casa, e adota criança no Brasil. É um problema que nós temos…Ele não vai embora. O Glenn pode ficar tranquilo. Talvez ele pegue uma cana, aqui, no Brasil. Não vai pegar lá fora, não.”

–Bolsonaro, novamente ele

O presidente não consegue, porém, dizer qual é o crime. Tampouco o diz seu porta-voz. Na segunda-feira 29, encarregado de transmitir à imprensa essa certeza inabalável em relação à culpa do jornalista americano, Otávio Rêgo Barros lambuzou-se na parvoíce do chefe. 

– Qual foi o crime?, perguntou um repórter do UOL.

– Não há dúvida, por parte do presidente não há dúvida, respondeu o porta-voz.

– Qual o crime? Eu quero saber qual o crime o jornalista cometeu.

– Acho que não há dúvida por parte de ninguém. Repito, há alguma dúvida sobre o cometimento de um crime?

O senhor pode dizer, porque eu tenho essa dúvida.

– Esta é a minha resposta.

– Mas qual o crime?

– Próxima pergunta, por favor.

Foi preciso repetir a pergunta outras vezes até conseguir a resposta mais elaborada, lida por Barros:

– Essa ação de hackers tem “a intenção de atingir a Lava Jato, o ministro Sérgio Moro, a minha pessoa, tentar desqualificar, desgastar o governo”. E ressaltou que a invasão de telefone é, abre aspas, “crime e ponto final”.

Paulo Guedes, o ministro da Economia, é outro que parece preocupado com o vazamento de conversas… digamos, um pouco mais íntimas. Ao discursar na Associação Comercial do Rio de Janeiro, causou arrepios ao detalhar o que poderia ser revelado ao público:

Vão gravar todo mundo até derrubar alguém? ‘Peguei: você falou que vai dormir com sua mulher hoje à noite e vai fazer sexo selvagem’.”

–Paulo Guedes

Ultimamente, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem se servido do perfil oficial no Twitter para fazer propaganda. Não de suas ações à frente da pasta, mas sim de uma multinacional fabricante de carros. Extasiado com uma propaganda da Chevrolet que tecia loas ao agronegócio, ele bolou até um slogan para a montadora:

Chega de sandália de couro e sunga de crochê… Daqui para a frente, só de Chevrolet … kkk”

–Ricardo Salles

A julgar por uma postagem recente nas redes sociais, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não parece levar a sério a informação repassada pela PF à imprensa, de que os invasores presos também teriam tentado capturar as conversas dele no Telegram:

O presidente da Câmara não se incomoda de fazer merchan para a indústria alimentícia

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