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Mal das pernas

O fato de a Seleção olímpica ficar de fora de Paris 2024 seria, por si, preocupante. Analisada no todo, a eliminação explicita nossa precariedade

Mal das pernas
Mal das pernas
Bilhões. Jim Ratcliffe adquiriu 25% das ações do Manchester United – Imagem: Paul Ellis/AFP
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Mais uma vez fomos salvos pelo Carnaval. A festa veio na hora certa para aliviar os dias de alta tensão que temos atravessado.

Parece um milagre que, de um dia para o outro, tudo fique colorido, reluzente, descontraído, alegre, redentor.

Feliz do povo que tem pelo menos uns dias para desabafar, lavar a alma e ganhar força para seguir em frente.

Apaixonado que sou pelo carnaval, cheguei, em tempos distantes, a escrever um verso “de pé quebrado”: Eu pensei e estava certo que devia ser assim/ Carnaval o ano inteiro/ Alegria não ter fim. Além de ser mau poeta, quebrei a cara mais uma vez.

Nem bem chegaram as cinzas da quarta-feira e veio o choque, bem dentro do meu ramo: o futebol.

Foi fartamente noticiado que a partida entre ­Independiente Medellín e Santa Fé, pelo campeonato colombiano, durante este Carnaval, sábado, foi o último ato de amor de um torcedor pelo seu clube.

Torcedor apaixonado pelo ­Independiente, ­Sebastián Pamplona compareceu ao estádio ­Atanasio Girardot para despedir-se da sua equipe de coração antes de ser submetido a eutanásia, já marcada.

A mim, parece ser um ato corajoso e de libertação, embora difícil, que explicita o sentimento mais profundo que possa explicar a paixão de um torcedor.

Esse desprendimento precisa servir de guia para o respeito que se deve ter para com os torcedores, principalmente nestes dias tão conturbados de relações desencontradas que não poupam sequer as atividades destinadas à expansão da alma humana, caso do Carnaval, do futebol e dos esportes como um todo.

Olhando o espetáculo deslumbrante dos desfiles de blocos e escolas de samba País afora, fiquei pensando sobre quantas escolas têm, como origem, os encontros de futebol espalhados pelos campos dos subúrbios, nos quais são comuns as confraternizações, as “resenhas” e o samba.

Passado o Carnaval, como se costuma dizer, o ano começa de verdade. E, nesse sentido, o ano começa com a eliminação da Seleção olímpica brasileira das Olimpíadas deste ano.

O sonho da conquista do terceiro título olímpico acabou no domingo 11, com a derrota por 1 a 0 para a Argentina, em Caracas, na Venezuela.

Não ocorria algo assim – de o nosso futebol ficar fora dos Jogos Olímpicos – há 20 anos. E não deveria acontecer nunca.

Como fato isolado já seria preocupante. Mas tal fato, analisado no conjunto dos resultados que vamos acompanhando no futebol, a situação é para nos deixar de orelhas em pé.

Como bem sabemos, a própria Seleção principal também não anda nada bem das pernas e corre o risco, inclusive, de não ir á próxima Copa do Mundo.

Estamos em tempo de reconstrução da vida brasileira e, a esta altura, me pergunto como ficará o esporte quando – e se – assentar a poeira do momento sensível que vamos vivendo. Abrindo os olhos pelo que anda acontecendo pelo mundo, nos deparamos com a notícia, até certo ponto compreensível, mas ainda assim surpreendente, da venda do poderoso Manchester ­United – um dos maiorais do futebol destes nossos dias – para um investidor.

O acordo foi feito com o bilionário Jim Ratcliffe, fundador da gigante farmacêutica INEOS, o homem mais rico do Reino Unido, que adquiriu 25% das ações do clube. O investimento será de cerca de 1,25 bilhão de libras – o equivalente a 7,7 bilhões de reais.

Toda a negociação foi aprovada pelos rigorosos mecanismos de controle da Premier League e pelos órgãos oficiais britânicos. •

Publicado na edição n° 1298 de CartaCapital, em 21 de fevereiro de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Mal das pernas’

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