Esporte

Hooligans estarão sob vigilância intensa antes do Mundial-2018

Com o mundo de olho, Moscou reprime a violência de suas torcidas organizadas

Estátua de Zabivaka, o mascote da Copa, na entrada principal do zoológico de Moscou, em 13 de junho
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Quando o sorteio da Eurocopa 2016 colocou Rússia e Inglaterra no mesmo grupo, Vladimir entendeu que era a única oportunidade de encarar os hooligans ingleses. Depois do enfrentamento em Marselha, a história não vai se repetir na Copa do Mundo 2018.

O morador de Moscou havia se distanciado dos torcedores organizados nos últimos anos, mas a possibilidade de humilhar os ingleses dos “Três Leões” era tentadora demais. “Existe todo um mito sobre os hooligans ingleses. Todos achávamos que era o momento certo para conhecermos”, explicou à AFP.

Os confrontos no sul da França, no dia 11 de junho do ano passado, foram destaque em jornais e televisões no mundo inteiro: centenas de hooligans russos passavam pelas ruas de Marselha enfrentando qualquer inglês que cruzasse seu caminho. As forças de segurança, impressionadas, avaliaram como “atos ultra-violentos e ultra-rápidos”.

Nas semanas seguintes, as imagens dos organizados ingleses ensaguentados levantaram dúvidas sobre a capacidade da Rússia organizar um Mundial seguro para os amantes de futebol.

Em um primeiro momento, a diplomacia russa criticou as prisões por parte da polícia francesa como inadmissíveis. Alguns deputados, inclusive, motivaram os torcedores a brigarem. Moscou mudou de postura por conta das críticas recebidas na Europa e os radicais entenderam que deixaram de ser heróis para se tornarem objeto de investigação das autoridades.

“Divisão E”

Levadas a cabo pela “Divisão E” do Ministério do Interior, normalmente encarregada de extremistas e opositores políticos, as detenções e condenações contra os hooligans se multiplicaram. Incidentes menores em jogos do campeonato russo se tornaram alvos de repressão feroz, com acusações que geraram inúmeras prisões na casa dos acusados, denunciou Vladimir.

Para os torcedores, a mensagem é clara: nem pensem em repetir na Copa do Mundo o que aconteceu em Marselha. “A polícia está tão ativa que não vai poder acontecer nada. Estou 100% seguro disso”, prevê o jovem.

O movimento hooligan russo se desenvolveu nos anos 1990, depois da queda da União Soviética e tomando como modelo a cultura da violência dos jogos de futebol no Reino Unido.

Tudo começou com brigas entre “firmas”, nomes pelos quais os grupos radicais se conhecem, como consequência do consumo de álcool. Mas os confrontos foram se transformando progressivamente e se tornando um fenômeno mais sério, em que os torcedores trocaram a bebida pelas academias e pelos ringues de boxe.

O “hooliganismo” se organizou, assim como as respostas das autoridades: as brigas com hora e local marcado tiveram que se deslocar para longe das cidades, alheias aos olhares dos cidadãos comuns.

Alexander Shprygin Alexander Chprygin, em 23 de junho de 2016, após ser expulso da França por conta da violência na Eurocopa (Foto: Vasily Maximov / AFP)

A polícia guarda a sete chaves a estratégia que planeja utilizar para controlar a violência entre hooligans durante o Mundial, mas não esconde que vigia de perto esses movimentos. As autoridades montaram uma lista de torcedores que foram proibidos de entrar em estádios, com aproximadamente 191 nomes, além de apostar na carteira de identidade do torcedor como medida de segurança.

“Vou dizer sem rodeios: os cidadãos que infringirem a lei durante os eventos esportivos, que tenham tido comportamentos racistas, queimado sinalizadores, quebrado cadeiras, iniciado brigas… temos todos vigiados de perto e constantemente”, advertiu o comandante Anton Goussev, encarregado da segurança de espaços esportivos do Ministério do Interior.

O caso Chpryguin

Alexandre Chpryguin não tem dúvidas: o episódio em Marselha só lhe trouxe problemas.

O antigo hooligan, que presidia a associação de torcedores russos durante a Eurocopa de 2016, se tornou figura fácil na mídia nos confrontos da competição e foi expulso duas vezes do território francês, por ridicularizar autoridades do país.

Mas depois dos seus 15 minutos de fama, Chpryguin se tornou pestilento. Em setembro, as autoridades esportivas da Rússia decidiram suspender sua colaboração com a organização presidida por ele e o prenderam em frente as câmeras de televisão.

“Esse dia de verão em Marselha já faz parte da história, mas arruinou minha vida”, explicou à AFP em um pub de Moscou. Os torcedores russos “demonstraram que se tornaram os números 1 da Europa”, acrescentou.

Mas existem poucas chances de que possam repetir suas “façanhas” em casa, já durante a Copa das Confederações, que começa no sábado, ou na Copa do Mundo do ano que vem.

“Nós podíamos fazer o que quiséssemos em Marselha. Não tinha polícia, não reagiam à nada”, explicou. “Mas na Rússia, nem uma mosca será capaz de passar por entre as redes da polícia. Vai ser impossível sair da ordem”.

*Leia mais na AFP

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