Esporte

Brasileiros que tiveram bandeira de Pernambuco pisoteada no Catar exigem desculpas

Depois do jogo, três amigos pernambucanos foram abordados e constrangidos por homens que se identificaram como policiais

Reprodução / Twitter
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O que era para ser uma celebração se tornou um pesadelo para um grupo de brasileiros que estava no estádio Lusail na terça-feira 22, onde aconteceu a épica vitória da Arábia Saudita sobre a Argentina, por 2 a 1, na Copa do Mundo do Catar.

Depois do jogo, três amigos pernambucanos foram abordados e constrangidos por homens que se identificaram como policiais.

O motivo: estariam exibindo uma bandeira do movimento LGBTQIA+ quando, na verdade, era a do estado de Pernambuco, caracterizada por um arco-íris.

O jornalista Kelvin Maciel, de 28 anos, correspondente da emissora Band de Recife, era quem levava em sua mochila a bandeira de seu estado e conta como o clima de festa que ele e os amigos estavam vivendo deu lugar à indignação.

“Eu combinei com nossa amiga, Eduarda, que trabalha no evento como voluntária da Fifa, que quando nos encontrássemos, nós tiraríamos todos juntos uma foto com a bandeira de nosso estado. Depois, ela foi tirar a foto sozinha, ao lado do estádio”, contou à AFP.

Foi aí que os problemas começaram.

“Quando olhamos de volta, um rapaz catari com a tradicional vestimenta branca e com a credencial escondida dentro do bolso ficou gritando e brigando, tomou a bandeira das mãos dela, a atirou no chão e começou a pisoteá-la”, relatou Maciel.

Ele acrescentou que o grupo começou a buscar na internet imagens de Pernambuco e da bandeira do estado para mostrar ao homem, mas ele continuou irredutível.

Seu amigo, o jornalista Victor Pereira, que trabalha para a Folha de Pernambuco, pegou seu celular e começou a filmar.

Foi então que a tensão aumentou, com a chegada de outros seguranças, que fizeram um círculo em volta dos brasileiros.

Vídeo apagado à força

O homem, exaltado, deixou a bandeira de lado e foi na direção de Pereira. “Falando em inglês, ameaçou jogar o celular no chão e mandou deletar o vídeo. Eu mostrei minha credencial, disse que estava autorizado a gravar”.

Nesse momento, outro segurança interferiu e ordenou que o vídeo fosse apagado. “Tentei pegar [o aparelho] da mão desse homem. Ele subiu o tom e disse para eu não encostar nele. Depois, conseguiu apagar o vídeo até da lixeira, desbloqueando o celular via reconhecimento facial”.

Victor Pereira disse que ele e seus amigos procuraram responsáveis da organização e da Fifa para relatar o fato e receberam um pedido de desculpas.

Mas ele achou insuficiente, levando em conta o tamanho do constrangimento que sofreram.

“Eles precisam se desculpar publicamente e identificar essas pessoas para que sejam punidas de alguma forma. Até com o povo de Pernambuco. Eu sou jornalista. Fomos chamados para cá para cobrir livremente, mas nós tivemos nossos direitos cerceados”, contou.

“Ainda que fosse uma bandeira LGBT, eles não tinham o direito de fazer o que fizeram, até porque garantiram que todos seriam bem-vindos aqui no Catar”, acrescentou Pereira, mostrando a bandeira pernambucana, ainda com marcas de sola de sapato.

O comitê organizador não respondeu a um pedido da AFP para comentar o caso. Questionados sobre os direitos LGBTQIA+, os dirigentes do comitê organizador disseram reiteradamente que “todos são bem-vindos” na Copa do Mundo. Antes do torneio, a Fifa havia dito que bandeiras e símbolos do “arco-íris” seriam permitidos dentro e ao redor dos estádios.

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