Esporte

Artilheiro do primeiro jogo do Brasil, Richarlison defende pautas sociais e ambientais

O jogador já protagonizou ações contra o racismo, as queimadas no Pantanal e incentivou a ciência durante a pandemia

Créditos: Anne-Christine POUJOULAT / AFP
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Além do peso de ser o camisa 9 da Seleção brasileira, Richarlison de Andrade, o autor dos dois primeiros gols do Brasil na Copa do Mundo do Catar, se destaca por seus posicionamentos fora do campo. 

O jogador colocou seu nome na história da Seleção Brasileira em Mundiais, mas sua atuação pelo País vai muito além. 

Atento às causas sociais, o atleta promoveu diversos jogos beneficentes para arrecadar alimentos e produtos de higiene e limpeza para populações carentes em sua cidade-natal, Nova Venécia.

Após levantar a taça da Copa América em 2019 com a Seleção, o camisa 9 recebeu uma homenagem na Assembleia Legislativa do Espírito Santo e aproveitou o momento para pedir investimentos na educação.

Ainda em 2019, o jogador doou cerca de  50 mil reais para custear a viagem de alunos do Instituto Federal do Espírito Santo que haviam sido selecionados para participar das Olimpíadas Internacionais de Matemática que seria realizado em Taiwan. 

A saúde também é uma pauta abraçada pelo atacante – que atua no Tottenham, na Inglaterra. 

Logo no início da pandemia, em abril de 2020, ele se tornou o primeiro embaixador do USP Vida, criada para financiar pesquisas e ações da universidade no combate a covid-19 por doações.

Durante o período mais intenso da disseminação da doença, o camisa 9 reforçou a importância das pessoas protegerem a si e aos outros, usando suas redes sociais para disseminar informações.

Na Copa América, realizada em julho de 2021, o jogador usou uma chuteira personalizada com referência ao USP Vida que depois foi a leilão e ajudou a arrecadar mais de 7 mil reais para o programa. 

Ao todo, a campanha arrecadou cerca de 5 milhões de reais em dinheiro e mais 15 milhões em materiais para a força-tarefa anticovid que atuou em diversas frentes. 

Ao destacar a campanha, o jogador incentivou outros jogadores profissionais, artistas e influenciadores digitais para colaborar na arrecadação de recursos para a campanha da USP.

Ele também buscou a conscientização da população quanto a vacina postando foto sua se imunizando, enquanto pedia a todos que fizessem o mesmo.

Além disso, realizou diversas lives incentivando a ciência e elogiando o trabalho de cientistas e profissionais de saúde que se empenharam no desenvolvimento das vacinas.

Atualmente, Richarlison destina 10% do seu salário para ajudar no custeio das atividades do Hospital do Amor, referência de tratamento de câncer infantil.

Na política, o atacante contraria o estigma de jogador despolitizado. Em oposição a seu colega de elenco, Neymar Jr., Richarlison é um crítico do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Em entrevista ao portal esportivo argentino Olé, em setembro de 2021, apontou os erros da atual gestão federal. 

“Duvido muito que hoje um brasileiro possa aplaudir, com tudo o que acontece. À medida que os preços, a inflação, a fome e o desemprego disparam, muitos políticos e estão preocupados com suas próprias causas”, disse. 

O boleiro ainda lamentou o uso político da camisa da Seleção, capturada por militantes bolsonaristas desde 2015. 

“Hoje em dia, o pessoal leva muito (a camisa) para o lado político. Isso faz a gente perder a identidade da camisa e da bandeira amarela”, comentou o atacante. 

“Acho importante que eu como jogador, torcedor e brasileiro, tente levar essa identificação para todo o mundo. É importante reconhecer que a gente é brasileiro, tem sangue brasileiro e levar isso para o mundo”, afirmou.

O atacante do Tottenham pôs ainda o dedo na ferida do governo federal quanto a preservação ambiental e as queimadas no Pantanal que ocorreram nos últimos quatro anos. 

Após uma visita à região, Richarlison adotou uma onça-pintada que vive aos cuidados da Onçafari, ONG que por meio do turismo ecológico protege onças e a vegetação da região.

“Com o Pantanal, começou quando fui pra lá a primeira vez, em 2019. Quando houve as queimadas, foi algo que me tocou muito, porque me lembrei dos dias que passei por lá, da aldeia que visitei, aquilo lá é um paraíso e nunca deveria sofrer com queimadas, especialmente criminosas”, declarou o jogador em uma entrevista ao Ecoa do UOL. 

Ponto fora da curva no futebol brasileiro atual, o atacante buscou a inspiração para suas ações sociais em outros atletas mundialmente conhecidos como  Lewis Hamilton, o LeBron James e  Rashford, do United, que fez um trabalho importante durante a pandemia.

Ele, que não se considera uma pessoa politizada, aponta que entendeu o poder da sua influência e hoje consegue direcionar o engajamento para causas que acredita. 

“Acho importante falar, mobilizar pessoas, porque, infelizmente, alguns que estão no comando só se movimentam para fazer alguma coisa quando existe algum tipo de pressão popular ou quando existe a possibilidade de ganhar votos.. Eu tento mobilizar quem me segue, mostrando o que está acontecendo e cobrando de quem é a responsabilidade por essas situações”, disse ao UOL. 

Ainda que as organizações nacionais e internacionais de futebol tentam impedir que a discussão politica seja levada para os campos,  o protagonismo de times e jogadores e fundamental para incentivar o debate. 

É assim que políticas assertivas passaram a fazer parte da agenda da opinião pública e, por consequência, de patrocinadores, clubes, ligas e jogadores.

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