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Em vez de só fornecer commodities verdes, a Bahia investe em tecnologia de ponta para produzir e exportar itens de maior valor agregado

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H2V nacional. A planta da Unigel será instalada no Polo Industrial de Camaçari – Imagem: iStockphoto e Redes Sociais/Cofic Polo
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O potencial em energia renovável da Bahia vai render ao estado o primeiro projeto de hidrogênio verde em escala industrial do Brasil, um passo importante para o plano de reindustrialização do País proposto pelo governo Lula. Com investimento previsto de 1,5 bilhão de dólares até 2027 e capacidade de produzir 100 mil toneladas do produto e 600 mil toneladas de amônia verde por ano, a fábrica é fruto de uma parceira do governo baiano com a empresa Unigel e deve ser instalada no Polo Industrial de Camaçari.

A pedra fundamental da empreitada já foi inaugurada, com previsão de início da produção em 2025, mas o projeto ainda está na fase de captação de investidores. A ideia é de que o hidrogênio verde possa ser utilizado nos mercados de fertilizantes e de agronegócio, no refino, armazenamento e geração de energia elétrica, em processos industriais e na siderúrgica, além de ser fonte de fabricação de combustíveis de aviões e navios.

“Fomos uma voz dissonante entre os governos do Nordeste, que queriam exportar hidrogênio. Nós dissemos: ‘Vamos destinar ao mercado interno, mudar a matriz produtiva da Bahia, implementar uma economia de hidrogênio verde e derivados, uma economia de baixo carbono, porque o que queremos exportar são produtos verdes, com maior valor agregado’. Para produzir fertilizante, eu preciso da amônia e da ureia”, afirma o presidente da Comissão Estadual do Hidrogênio Verde, Paulo Guimarães, que também preside a Bahia Invest, empresa pública na qual o governo baiano é acionista majoritário. “O fertilizante verde me permite ter uma agricultura de baixo carbono, porque eu vou substituir o produto fóssil. Com o hidrogênio verde, mais o óleo de dendê de macaúba, vamos ter o diesel verde, que não é fóssil. E vamos produzir o SAF, o combustível de aviação. Um dos piores combustíveis em termos de poluentes é o querosene de aviação. O SAF é zero de emissão, é totalmente limpo”, acrescenta Guimarães.

“A Unigel já tem capacidade de produção de amônia suficiente para dar destino ao hidrogênio verde. Além disso, temos acesso à infraestrutura e a fontes de energia limpa e competitiva no Polo de Camaçari”, salientou Roberto Noronha Santos, CEO da Unigel, quando o projeto foi anunciado. A petroquímica também opera um dos dois únicos terminais de amônia do País, localizado no Porto de Aratu, também na Bahia, reforçando a agenda do Bahia Mais Verde, a consolidar o estado como protagonista no setor de energias renováveis.

De acordo com um informe executivo divulgado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico em julho, a Bahia conta com 71 usinas fotovoltaicas em operação, que geraram 62 mil empregos no estado. Outras sete estão em construção, com recursos da ordem de 1,26 bilhão de reais e abertura de 10 mil novos postos de trabalho. O governo baiano elenca outras 556 novas usinas que deverão ser construídas, ao custo estimado de 89 bilhões de reais e com potencial de empregar até 738 mil trabalhadores.

A produção de energia eólica é ainda maior. A Bahia já contabiliza 334 usinas em operação, empreendimentos que geraram 98 mil empregos diretos ou indiretos. Há ainda outras 47 sendo construí­das, com aportes de 10 bilhões de reais e perspectiva de abertura de 20 mil postos de trabalho, além de 196 parques com construção ainda não iniciada. Nestes, estão previstos investimentos de 52 bilhões e a geração de 81 mil empregos.

O estado sediará a primeira fábrica de hidrogênio verde do País, um investimento de 1,5 bilhão de dólares

“Pela posição estratégica e toda a natureza que detém, a Bahia conta com um potencial muito grande para a geração de energia eólica onshore e offshore, energia solar e também energia que vem do hidrogênio. Hoje, o mundo está trabalhando com a tecnologia do hidrogênio e a Bahia tem grande potencial também nessa produção. Tudo isso é fundamental para o desenvolvimento da energia renovável e o Brasil é um ator central, pois tem a oportunidade de liderar a transição energética. O Nordeste tem essa capacidade de respostas e a Bahia é um estado fundamental nesse processo”, destaca Elbia Gannoum, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias, a ABEEólica.

Santiago Gonzalez, coordenador estadual da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, a Absolar, reforça o peso da energia solar no desenvolvimento econômico e social do estado. “A Bahia é um ator importante na descarbonização e no combate às mudanças climáticas. Por ser um relevante centro de desenvolvimento da energia solar, mantém um enorme potencial de geração de emprego e renda, com capilaridade para todos os municípios no estado, sendo uma atração de investimentos privados”, diz. “A Bahia tem potencial para a geração de energia híbrida, de plantas híbridas: de dia gera energia solar e, à noite, energia eólica”, completa Eduardo Sodré, secretário de Meio Ambiente da Bahia.

Depois de ter publicado os Atlas de energia eólica e solar, o governo baiano lançou o de hidrogênio verde e está no processo de elaboração dos Atlas da descarbonização e da biomassa, com o objetivo de orientar as ações do estado no sentido de modernização da economia. “A Bahia tem a sustentabilidade como foco na atração de novos investimentos. Discutimos o tema com todas as cadeias produtivas, buscando projetos que sejam sustentáveis”, explica Guimarães, acrescentando que o estado vai receber uma fábrica de painéis fotovoltaicos que serão fabricados a partir da sílica, matéria-prima em abundância no solo baiano, de propriedade Companhia Bahiana de Pesquisa Mineral.

O estado também está negociando a implantação de uma fábrica de baterias para carros elétricos e a instalação de uma biorrefinaria na região do Recôncavo Baiano para a produção do diesel renovável. O governo de Jerônimo Rodrigues investe ainda em projetos de produção de etanol de milho, visando diminuir a produção de gases de efeito estufa. •

Publicado na edição n° 1323 de CartaCapital, em 14 de agosto de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Nova indústria’

O potencial em energia renovável da Bahia vai render ao estado o primeiro projeto de hidrogênio verde em escala industrial do Brasil, um passo importante para o plano de reindustrialização do País proposto pelo governo Lula. Com investimento previsto de 1,5 bilhão de dólares até 2027 e capacidade de produzir 100 mil toneladas do produto e 600 mil toneladas de amônia verde por ano, a fábrica é fruto de uma parceira do governo baiano com a empresa Unigel e deve ser instalada no Polo Industrial de Camaçari.

A pedra fundamental da empreitada já foi inaugurada, com previsão de início da produção em 2025, mas o projeto ainda está na fase de captação de investidores. A ideia é de que o hidrogênio verde possa ser utilizado nos mercados de fertilizantes e de agronegócio, no refino, armazenamento e geração de energia elétrica, em processos industriais e na siderúrgica, além de ser fonte de fabricação de combustíveis de aviões e navios.

“Fomos uma voz dissonante entre os governos do Nordeste, que queriam exportar hidrogênio. Nós dissemos: ‘Vamos destinar ao mercado interno, mudar a matriz produtiva da Bahia, implementar uma economia de hidrogênio verde e derivados, uma economia de baixo carbono, porque o que queremos exportar são produtos verdes, com maior valor agregado’. Para produzir fertilizante, eu preciso da amônia e da ureia”, afirma o presidente da Comissão Estadual do Hidrogênio Verde, Paulo Guimarães, que também preside a Bahia Invest, empresa pública na qual o governo baiano é acionista majoritário. “O fertilizante verde me permite ter uma agricultura de baixo carbono, porque eu vou substituir o produto fóssil. Com o hidrogênio verde, mais o óleo de dendê de macaúba, vamos ter o diesel verde, que não é fóssil. E vamos produzir o SAF, o combustível de aviação. Um dos piores combustíveis em termos de poluentes é o querosene de aviação. O SAF é zero de emissão, é totalmente limpo”, acrescenta Guimarães.

“A Unigel já tem capacidade de produção de amônia suficiente para dar destino ao hidrogênio verde. Além disso, temos acesso à infraestrutura e a fontes de energia limpa e competitiva no Polo de Camaçari”, salientou Roberto Noronha Santos, CEO da Unigel, quando o projeto foi anunciado. A petroquímica também opera um dos dois únicos terminais de amônia do País, localizado no Porto de Aratu, também na Bahia, reforçando a agenda do Bahia Mais Verde, a consolidar o estado como protagonista no setor de energias renováveis.

De acordo com um informe executivo divulgado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico em julho, a Bahia conta com 71 usinas fotovoltaicas em operação, que geraram 62 mil empregos no estado. Outras sete estão em construção, com recursos da ordem de 1,26 bilhão de reais e abertura de 10 mil novos postos de trabalho. O governo baiano elenca outras 556 novas usinas que deverão ser construídas, ao custo estimado de 89 bilhões de reais e com potencial de empregar até 738 mil trabalhadores.

A produção de energia eólica é ainda maior. A Bahia já contabiliza 334 usinas em operação, empreendimentos que geraram 98 mil empregos diretos ou indiretos. Há ainda outras 47 sendo construí­das, com aportes de 10 bilhões de reais e perspectiva de abertura de 20 mil postos de trabalho, além de 196 parques com construção ainda não iniciada. Nestes, estão previstos investimentos de 52 bilhões e a geração de 81 mil empregos.

O estado sediará a primeira fábrica de hidrogênio verde do País, um investimento de 1,5 bilhão de dólares

“Pela posição estratégica e toda a natureza que detém, a Bahia conta com um potencial muito grande para a geração de energia eólica onshore e offshore, energia solar e também energia que vem do hidrogênio. Hoje, o mundo está trabalhando com a tecnologia do hidrogênio e a Bahia tem grande potencial também nessa produção. Tudo isso é fundamental para o desenvolvimento da energia renovável e o Brasil é um ator central, pois tem a oportunidade de liderar a transição energética. O Nordeste tem essa capacidade de respostas e a Bahia é um estado fundamental nesse processo”, destaca Elbia Gannoum, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias, a ABEEólica.

Santiago Gonzalez, coordenador estadual da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, a Absolar, reforça o peso da energia solar no desenvolvimento econômico e social do estado. “A Bahia é um ator importante na descarbonização e no combate às mudanças climáticas. Por ser um relevante centro de desenvolvimento da energia solar, mantém um enorme potencial de geração de emprego e renda, com capilaridade para todos os municípios no estado, sendo uma atração de investimentos privados”, diz. “A Bahia tem potencial para a geração de energia híbrida, de plantas híbridas: de dia gera energia solar e, à noite, energia eólica”, completa Eduardo Sodré, secretário de Meio Ambiente da Bahia.

Depois de ter publicado os Atlas de energia eólica e solar, o governo baiano lançou o de hidrogênio verde e está no processo de elaboração dos Atlas da descarbonização e da biomassa, com o objetivo de orientar as ações do estado no sentido de modernização da economia. “A Bahia tem a sustentabilidade como foco na atração de novos investimentos. Discutimos o tema com todas as cadeias produtivas, buscando projetos que sejam sustentáveis”, explica Guimarães, acrescentando que o estado vai receber uma fábrica de painéis fotovoltaicos que serão fabricados a partir da sílica, matéria-prima em abundância no solo baiano, de propriedade Companhia Bahiana de Pesquisa Mineral.

O estado também está negociando a implantação de uma fábrica de baterias para carros elétricos e a instalação de uma biorrefinaria na região do Recôncavo Baiano para a produção do diesel renovável. O governo de Jerônimo Rodrigues investe ainda em projetos de produção de etanol de milho, visando diminuir a produção de gases de efeito estufa. •

Publicado na edição n° 1323 de CartaCapital, em 14 de agosto de 2024.

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