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Copo cheio

O Bahia Mais Verde prevê robustos investimentos para assegurar o abastecimento de água, no sertão e nos centros urbanos

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Para todos. Proteger os mananciais e recuperar as matas ciliares é fundamental para regular o regime hidrológico e conservar a qualidade da água para consumo humano – Imagem: iStockphoto
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Uma das áreas mais sensíveis à crise climática no mundo é a questão hídrica, seja pelo prolongado período de estiagem ou pelo excesso de chuvas, com sequelas muitas vezes irreparáveis. A Bahia conhece bem essa problemática e se prepara para mitigar os eventos extremos, até porque algumas localidades já deram os primeiros sinais de desertificação e, não raro, o interior do estado sofre com grandes enchentes, como a ocorrida em 2022 no sul do estado. Para enfrentar essa questão, a Secretaria de Meio Ambiente elencou a segurança hídrica como um dos eixos centrais do projeto Bahia Mais Verde. O objetivo é garantir o acesso sustentável a uma água de qualidade e em quantidade suficiente para suprir as necessidades da população e o desenvolvimento das atividades produtivas, visando tanto o consumo responsável desse insumo quanto a proteção dos recursos hídricos.

A escassez de água é um problema crônico em algumas cidades no interior do estado. Cerca de 70% do território baiano está na região semiárida, a concentrar um grande número de pequenos agricultores que dependem da água para produzir e sobreviver. Para atender essa população, o projeto Bahia Mais Verde busca equilibrar o fornecimento e racionalizar o uso da água. “Queremos proteger mananciais e modernizar os sistemas para termos sempre o copo cheio, para que os recursos hídricos estejam sempre disponíveis para todos que dependem daquela barragem, daquele aquífero, daquele rio. Quando houver necessidade de reduzir a vazão, que seja para todos também”, explica Eduardo Sodré, secretário de Meio Ambiente.

Para suprir a demanda, o governo conta com os fundos estaduais de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos, com previsão orçamentária de 17 milhões de reais e 4 milhões de reais, respectivamente. Os valores podem dobrar ainda em 2024, informa o secretário Sodré. Ele também aposta no Plano Estadual de Recursos Hídricos para viabilizar o Bahia Mais Verde, dentro de um planejamento que vai até 2040. “A gente está falando de 15 anos de gestão de recursos hídricos para o estado como um todo. Envolve ações voltadas para a proteção dos mananciais e modernização dos sistemas de abastecimento de água, bacias hidrográficas, recuperação de mata ciliar, saneamento básico, enfim, um cenário macro de segurança hídrica.”

O estado possui 70% do seu território na região semiárida e a maior concentração de agricultores familiares do País

Pelo projeto estão previstas ações para a proteção dos mananciais de abastecimento, essencial para a conservação da qualidade da água para consumo humano e regulação do regime hidrológico. Para isso, serão criadas áreas de proteção de mananciais, visando a recuperação dessas reservas e melhorando o abastecimento público da água. Outra iniciativa é a implementação da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, uma estratégia para viabilizar economicamente a execução do projeto de segurança hídrica do estado, além da modernização dos sistemas de controle, com a implementação de legislações, ferramentas e tecnologias que permitam um melhor monitoramento, controle e regulação da água.

“A ONU diz que, no futuro, o maior desafio será o abastecimento hídrico das grandes regiões urbanas, porque você tem uma demanda enorme, não só para abastecimento da população, mas também para uso industrial e agrícola. É urgente a proteção dos mananciais, por exemplo, que são degradados continuamente, especialmente pela especulação imobiliária”, destaca Carlos Bocuhy, do Observatório Internacional do Clima. “É sempre bom lembrar que é possível plantar água, porque o que gera água é floresta. A floresta faz com que a água penetre no solo, vá para o lençol de profundidade, volte para a superfície e flua o ano todo, mesmo quando não chove. Áreas florestadas são, na verdade, plantações de água, porque elas vão continuamente fornecer água para a cidade. Por isso, é importante o conceito de cinturão no entorno da cidade, porque provê elementos essenciais, serviços ecossistêmicos, como, por exemplo, a produção de água”, observa o ambientalista.

Segundo Sodré, o governo baiano elabora um plano de ação para as mudanças climáticas e prepara mais um projeto voltado para a segurança hídrica, o Guardião das Águas, que vai atender comunidades da Região Metropolitana de Salvador e atuar também na recuperação, preservação e proteção da mata ciliar. “Estamos construindo uma política pública atrelada ao nosso Plano Estadual de Recursos Hídricos, numa agenda de longo prazo, para que os próximos governantes que virão mantenham isso e a gente possa sair do clima árido e voltar para o semiárido”, explica o secretário, ressaltando a importância do projeto para a agricultura familiar, considerando que pelo menos 700 mil famílias baianas dependem dessa atividade para sobreviver.

Bocuhy reforça que o acesso à água passa pela otimização dos recursos e pela utilização racional do produto, com tecnologia. “As pessoas precisam ter a capacidade de compreensão do problema, porque os grandes desafios do futuro serão excesso de chuva e, por outro lado, calor extremo.” •

Publicado na edição n° 1323 de CartaCapital, em 14 de agosto de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Copo cheio’

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