Entrevistas

Vítima do lavajatismo, Rodrigo Neves lança livro e quer governar o Rio

Em entrevista a CartaCapital, o pedetista conta a sua saga, fala das eleições estaduais e diz que seu palanque estará aberto a Lula

“Nunca fui ouvido”, diz o ex-prefeito de Niterói - Imagem: Adriano Vizzoni/Folhapress
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Ex-prefeito de Niterói, o pedetista Rodrigo Neves sonha com uma reviravolta triunfal na sua história política nos moldes de Lula. Embora marque 10% nas pesquisas ao governo do estado do Rio de Janeiro, distante dos favoritos Marcelo Freixo e Cláudio Castro, ­Neves acredita que o fato de ser desconhecido pela maioria dos eleitores (63%) e ter um índice de rejeição menor do que aquele dos adversários o mantém no jogo. Uma vitória nas urnas consagraria a luta infernal contra o lavajatismo. Em dezembro de 2019, em decorrência de uma delação premiada mais tarde desconsiderada pelo Tribunal de Justiça fluminense, o pedetista foi preso, permaneceu três meses em uma cela em companhia de outros 40 detentos. O calvário é descrito no livro Golpe Derrotado, lançado há dez dias, com prefácio do advogado Técio Lins e Silva.

Em entrevista ao repórter Maurício Thuswohl, Neves conta a sua saga, fala das eleições estaduais e diz que seu palanque estará aberto ao ex-presidente Lula, apesar de o PDT ter candidato próprio, o ex-ministro Ciro Gomes. A íntegra pode ser vista no canal do ­YouTube de CartaCapital.

Livro
É importante que sejam contadas as histórias sobre esse momento dramático para o Brasil, de violência ao devido processo legal. É inaceitável que em plena vigência do Estado Democrático de Direito tenha acontecido o que aconteceu. O livro esclarece ponto a ponto a verdade sobre a conspiração para tomar de assalto a única prefeitura progressista da Grande Rio, a única que não estava na órbita da extrema-direita.

Processo
São quase cinco anos do início do processo e nunca fui ouvido. Omitiram os dados do Coaf que afirmavam que não havia nenhuma movimentação suspeita nas minhas contas, ou naquelas dos meus familiares, e os dados do Ministério Público Federal, dizendo não haver nenhum elemento que corroborasse a falsa delação premiada. Também mentiram sobre a minha esposa, pois falaram que ela era dona de uma empresa de ambulâncias chamada Toesa, envolvida com a Lava Jato, sobre a qual a gente nunca tinha ouvido falar. Depois de três meses e de terem feito tudo o que fizeram, se desculparam e disseram que foi um equívoco.

Golpe
Em 10 de dezembro de 2018, dia da diplomação de Jair Bolsonaro, aconteceu o meu sequestro, é assim que eu chamo. Eu nunca tinha sido levado para prestar esclarecimentos e estava em pleno exercício do mandato conferido por milhares de cidadãos. Apenas três horas após minha prisão, a extrema-direita entrou com um pedido de impeachment e de novas eleições em Niterói, porque o meu vice havia sido eleito deputado e renunciado à vice-prefeitura. O autor da denúncia citava trechos da denúncia que estava em segredo de Justiça. Trechos sobre os quais eu só tive conhecimento uma semana depois. Mas o TJ, por 6 a 1, reverteu essa decisão monocrática e eu voltei ao mandato no início de 2019.

GOLPE DERROTADO.PH de Noronha. Máquina de Livros (320 páginas, 49 reais)

Crise no Rio
Vivemos a pior crise econômica e social da história do Rio de Janeiro, com fome, desemprego e falta de perspectiva. Há violência e domínio de territórios pelas facções criminosas, seja o tráfico de drogas, sejam as milícias, um empobrecimento brutal da sociedade e do Estado. Nos últimos 30 anos, o Rio teve a maior perda proporcional de presença no PIB brasileiro, 35%. Éramos o segundo estado em número de empregos na indústria de transformação. Hoje somos o sétimo. Mais de 80% do petróleo é produzido no Rio, mas 80% da cadeia produtiva de Óleo & Gás é contratada fora do estado, e até mesmo do Brasil. A prioridade deve ser a geração de emprego e renda e o investimento pesado na educação em tempo integral e no ensino técnico profissionalizante. Nisso concentrarei os meus esforços.

Cláudio Castro
O atual governador caiu de paraquedas, faz um governo sofrível. A situação da eleição no Rio é muito diferente da situação nacional, onde há a consolidação de uma polarização, tornando mais difícil a construção de uma candidatura alternativa, embora isso não seja impossível. No Rio, as pesquisas indicam que Cláudio não tem a força que o Bolsonaro tem e que o Marcelo (Freixo) não tem a força que o Lula tem. Evidentemente, o ­atual governador não pode ser subestimado, porque tem a máquina e esse alívio momentâneo da venda da Cedae (companhia de saneamento).

Ciro Gomes
A candidatura de Ciro tem cumprido o seu papel no debate de um projeto nacional de desenvolvimento, colocando o dedo na ferida dos temas sensíveis relacionados à redução das desigualdades e à desindustrialização do Brasil. Evidentemente, a gente não concorda com tudo do ponto de vista das posturas, mas o Ciro tem cumprido um papel fundamental de alerta ao País e tem uma trajetória notável como ministro e governador de estado. Eu tenho um profundo respeito pelo Ciro.

Lula
Lula foi o presidente que colocou o povo no centro das agendas políticas do País, que compreende profundamente os valores e os sentimentos dos brasileiros e que desenvolveu projetos importantes, como o acesso dos pobres e dos negros às universidades. Implementou estratégias de proteção social, como os programas de transferência de renda. Isso é uma conquista extraordinária. Eu conheço o presidente Lula há muito tempo e acho que nós temos de manter o diá­logo das forças democráticas para alertar a sociedade brasileira sobre as graves ameaças ao País e à democracia que representaria a continuidade do governo Bolsonaro. Acredito no esforço do diálogo porque, acima dos nossos interesses políticos e partidários e de nossas vaidades individuais, deve estar aquilo que Brizola chamava de Fio da História. Ele nos coloca diante da ­responsabilidade de evitar a continuidade dessa tragédia econômica, social e institucional que é o governo Bolsonaro.

Eduardo Leite
Nesse processo é preciso ter a habilidade de dialogar com o conjunto das candidaturas presidenciais que estão no campo democrático de oposição a Bolsonaro. O governador Eduardo Leite, sendo candidato a governador pelo PSD, evidentemente terá também lugar, porque nós vamos abrir o palanque para o presidente Lula. Nosso candidato do PDT é o Ciro e acreditamos que a recuperação deste cenário de terra arrasada no Rio vai exigir a conjugação de esforços de amplos setores sociais e políticos. Esse objetivo da aliança vai ser alcançado e manteremos o diálogo com as forças políticas no plano nacional. O mais importante é a gente ter um governo com perfil democrático e desenvolvimentista comandando o Brasil a partir de janeiro de 2023. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1201 DE CARTACAPITAL, EM 30 DE MARÇO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Sacode a poeira”

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