Com 2,7% da população mundial, o Brasil concentrou mais de 10% do total de mortes por Covid-19 em todo o planeta. O negacionismo de Jair Bolsonaro, o atraso na entrega de vacinas e a negligência estatal em prover tratamento adequado aos pacientes – faltou até oxigênio nos hospitais de Manaus – provocaram centenas de milhares de mortes evitáveis. As famílias enlutadas nem sequer tiveram a oportunidade de se despedir das vítimas da pandemia adequadamente. Pior, o País comporta-se como se nada tivesse acontecido, uma negação do luto que só prolonga o sofrimento coletivo.
A análise é de Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP e pós-doutor em Psicologia Clínica pela Manchester Metropolitan University, que acaba de concluir um livro sobre o tema. O psicanalista explica que o luto envolve entender o significado da perda recente em relação às anteriores, um processo que se completa na relação com outros enlutados. Quando se trata de um trauma coletivo e existe a percepção de que a morte poderia ser evitada, só é possível encontrar paz após algum tipo de reparação.
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